A saída do louco dos hospícios, orientada pela atenção psicossocial, produz desinstitucionalização, ou seja, mudança na exclusão subjetiva característica ao estranhamento que a loucura produz no espaço público? Esta questão nos guia, trazendo para primeiro plano a ética como direção do trabalho na Reforma Psiquiátrica e na reinserção psicossocial, pelo exemplo do CAPS III Arthur Bispo do Rosário; serviço vinculado ao maior Programa Residencial Terapêutico do Rio de Janeiro. Por meio de fragmentos de um caso clínico, trabalhado na supervisão de equipe, trazemos para o debate a direção clínica que subverte os discursos sanitário e assistencial, princípios diretores da reforma psiquiátrica. Propomos, assim, o manejo da transferência orientado pela psicanálise como chave para uma possível implicação do sujeito em sua saída do manicômio, no abalo do lugar de objeto de práticas médicas e assistenciais e, sobretudo, no tratamento do sintoma que leva a severos impasses no laço social.
RESUMO: Apresentamos nesse artigo os primeiros resultados de uma pesquisa de pós-doutorado desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica da UFRJ, que tem, como campo de intervenção do psicanalista, os movimentos sociais populares. A hipótese de trabalho sustentada é a de que a presença do psicanalista junto a tais movimentos favorece a sublimação, um destino da pulsão diferente do recalque e das perversões e pode servir como meio de decolonização dos laços sociais e de tratamento do gozo racista. Através da apropriação das novas tecnologias digitais, movimentos de base popular e de transformação social e política constroem novos modos de transmissão de um uso particular da língua, da cultura e das invenções singulares para enfrentamento do colonialismo e da necropolítica. A subversão do sujeito pode ser testemunhada pela amplificação de vozes que encontram ressonância na pólis, rompendo o silenciamento histórico imposto pelo jugo da raça, que reduz sujeitos a objetos-dejeto do capital.
We present in this article the first results of a post-doctoral research developed in the Graduate Program in Psychoanalytic Theory at UFRJ, which has, as a field of intervention of the psychoanalyst, popular social movements. The working hypothesis is that the presence of the psychoanalyst with such movements favors sublimation, a destination of the drive different from repression and perversions and can serve as a means of decolonizing social ties and treating racist jouissance. Through the appropriation of new digital technologies, grassroots movements and social and political transformation build new modes of transmission of a particular use of language, culture and unique inventions to face colonialism and necropolitics. The subversion of the subject can be witnessed by the amplification of voices that find resonance in the polis, breaking the historical silencing imposed by the yoke of race, which reduces subjects to capital waste objects.
Ágora (Rio de Janeiro) v. XXIV n.3 setembro/dezembro 2021 Ágora EDITORIAL Este número da revista Ágora representa um momento importante de sustentação da psicanálise na universidade e na pólis, em tempos de ataque à vida, à ciência e à produção bibliográfica e editorial das revistas científicas brasileiras. Considerando o agravamento da pandemia no Brasil, que se intensificou em função do negacionismo em relação às recomendações sanitárias e adiamento da vacinação para contenção da disseminação do coronavírus -provocando um morticínio análogo a tempos de guerra -vale destacar a função das revistas científicas de tornar públicos os resultados da pesquisa no país e sua indissociável relação com os avanços científicos, socioculturais e políticos. Com pouquíssimos recursos, sobretudo nos últimos dois anos, que levaram algumas das mais relevantes revistas na área à cobrança financeira dos próprios autores para publicação de artigos, resistimos a tal alternativa mesmo com o risco de impossibilidade de continuidade, sem nos afastar dos princípios que nos regem há 25 anos. Priorizando uma universidade pública, diversa e antissegregacionista, trazemos aos leitores uma edição de pensamento plural, que realiza, em sua Parte I, uma travessia consistente dos fundamentos conceituais da psicanálise; na segunda, a extração de fragmentos da clínica, com sua atualidade para avançar sobre questões contemporâneas e, na terceira parte, uma interlocução da psicanálise com outros saberes, principalmente no diálogo com a literatura e com a filosofia Os artigos da primeira parte extraem consequências teóricas atuais do ensino de Jacques Lacan. Em A verdade formal da ciência moderna e sua relação com a angústia, Bernardo Sollar Godoi e Sidnei Vilmar Noé discutem duas relações, destacadas pelo psicanalista francês em uma coletiva de imprensa de 1974, entre a ciência moderna, o real e a angústia; com referências à manipulação laboratorial de bactéria e seus impactos dos gadgets. Os autores têm por objetivo demonstrar teoricamente como os avanços científicos implicam em consequências subjetivas. Helena Amstalden Imanish discrimina, no artigo Metáfora e significação: a construção de sentidos em análise, dois tipos de intervenção no contexto psicanalítico -as "metafóricas comparativas" e as "metafóricas criativas" -, trazendo contribuições para a técnica, por meio de uma leitura lacaniana da linguística e da retórica. O conceito de personalidade, central na tese de doutorado de Lacan (1932Lacan ( /1987, não recebe, segundo Dario de Negreiros, a devida clareza necessária à sua importância e complexidade, que, por ser nuclear na obra, deve ser analisado por meio de uma subdivisão em três partes, que se manifestam de formas diferentes e que são desenvolvidas ao longo do último artigo da Parte I.
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