O papel e visibilidade de Carlos Lacerda em episódios-chave da política brasileira no século XX, seu amplo uso dos meios de comunicação e seu carisma despertavam emoções ambíguas no eleitorado ao longo de sua vida pública, resultando no assim chamado lacerdismo. Todavia, fenômenos sociais baseados no carisma podem ser problemáticos frente à multiplicidade de papéis e estratégias de navegação política e social de um indivíduo na diacronia histórica. Por este motivo, empreendemos uma breve revisão bibliográfica sobre o conceito de lacerdismo para apresentar duas formas possíveis e não exclusivas de abordar o assunto: uma baseada na identificação pessoal com o líder e outra baseada em certa deontologia política e econômica.
Minha Razão de Viver, autobiografia do jornalista Samuel Wainer, é um livro comumente utilizado em cursos e pesquisas acadêmicas que abordam a imprensa ou a política do Brasil contemporâneo, às vezes levando ao uso acrítico de dados e eventos pontuais presentes em sua narrativa. Buscamos fornecer uma visão geral crítica a partir de alguns casos pontuais, confrontando o relato autobiográfico e outras fontes, documentais e/ou bibliográficas. Embora os casos aqui trazidos e confrontados não esgotem as diversas possibilidades contidas em Minha Razão de Viver, o presente trabalho demonstra a necessidade constante de validação dos conteúdos trazidos nas histórias de vida.
O ato de fotografar, de registrar através da luz, congelar a visão num instante e convertê-la num documento perene, está muito longe de ser um ato ingênuo, neutro ou livre de valores. Todo “grafar” implica em ações específicas de quem grafa. As escolhas sobre o quê grafar e como grafar implicam em enquadramentos, exclusões, atenuações, ênfases, filtros, meios e lugares de circulação, interlocutores ou públicos para quem aquilo se destina ou não, ou como deve se destinar. Essas escolhas criam uma linha que perpassa as várias contribuições aqui reunidas. Ao transitarmos entre fotógrafos, repórteres, historiadores e cineastas, é fácil notar que todos esses agentes sociais realizaram escolhas sobre os registros que deixaram à posteridade. Escolhas essas definidas pelos saberes, técnicas e tecnologias de seu tempo, mas também por valores, visões de mundo e questões de época. As contribuições aqui presentes buscam trazer luz a algumas destas questões tendo a História enquanto eixo principal, mas sem perder de vista o caráter interdisciplinar tão necessário e tão evidente nas pesquisas que buscam compreender as interações humanas.
A partir dos conceitos de intermidialidade e argumentos de fonte, o artigo apresenta e analisa os modos como o longa-metragem Topografia de um desnudo (Teresa Aguiar, 2009) se apropria de fotografias e edições pertencentes a acervos do jornal carioca Ultima Hora, bem como estabelece uma montagem com relatos de jornalistas para contar ao espectador o que teria sido a “Operação mata-mendigos”, pano de fundo histórico para a trama. Para tal finalidade, o artigo apresenta uma breve história do longa-metragem e sua estrutura narrativa, para então realizar um rastreamento e questionamento dos documentos mobilizados pelo filme e suas formas de apropriação. Ao final, empreende-se uma breve crítica da recepção de Topografia de um desnudo.
O presente artigo busca analisar quatro séries de reportagens sobre alguns presídios do estado da Guanabara publicadas pelo jornal carioca Ultima Hora entre 1960 e 1961. Os anos escolhidos compreendem a criação de um novo estado, a eleição de Carlos Lacerda como governador, a reorganização dos serviços de segurança pública, a renúncia de um presidente da República e tentativas de barrar sua sucessão legal, resultando em diversos ruídos possíveis do campo político sobre o campo jornalístico. Não obstante, deve-se pontuar que Carlos Lacerda já apresentava um longo histórico de conflitos com o jornal Ultima Hora, levando a uma ferrenha oposição do jornal ao longo de sua gestão. Cientes desse cenário e dos diversos ruídos possíveis, nossa análise prioriza as formas e alterações de enquadramento jornalístico sobre os presídios, detentos, agentes prisionais e policiais, bem como o Poder Público de forma ampla. A análise revela, ao mesmo tempo, mudanças nas representações coletivas sobre esses assuntos e permanências históricas de arbitrariedades policiais, usualmente associadas ao contexto autoritário posterior a 1964, bem como as denúncias que eclodiriam em 1963 quanto ao extermínio de moradores de rua.
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