Trichomonas sp. é um protozoário flagelado causador da tricomoníase. Esse parasita afeta principalmente os tratos digestivo superior e respiratório de aves, com ocorrência comum em espécies das ordens Columbiformes, Falconiformes e Psittaciformes (SILVA, 2017). O objetivo do presente trabalho é relatar três casos resolução da tricomoníase em aves tratadas com nitazoxanida. Foram atendidos no Setor de Animais Silvestres do Hospital Veterinário da Universidade de Brasília, dois espécimes de Caracara plancus e um de Ramphastos tocos, jovens e de sexo indeterminado. Ao exame físico, os dois carcarás se apresentavam em estação e resistiram à manipulação, enquanto o tucano se mostrou pouco responsivo e apático. Os animais apresentavam placas caseosas esbranquiçadas em cavidade oral as quais foram coletadas através de swab estéril e enviadas para exame parasitológico, com confirmação da presença de Trichomonas sp. Na abordagem inicial todos receberam fluidoterapia com ringer lactato (3% do peso vivo, SC, SID) durante três dias. No primeiro exemplar de carcará, a primeira abordagem terapêutica para tricomoníase foi realizada com metronidazol 50mg/mL (50mg/kg, VO, SID), porém não se mostrou efetiva, dado que o segundo exame parasitológico apontou a persistência do protozoário. Como segunda abordagem terapêutica foi realizada a administração de nitazoxanida 20 mg/mL (42mg/kg, VO, BID) durante sete dias, concluindo o tratamento do animal com êxito. O outro exemplar de carcará e o tucano foram tratados unicamente com nitazoxanida 20mg/mL (42mg/kg, VO, BID) durante sete dias logo após o primeiro resultado positivo para o parasita, com resolução rápida da infestação. As aves permaneceram no hospital para melhor recuperação de escore corporal e, quando consideradas aptas, foram encaminhadas ao CETAS-DF para destinação. A tricomoníase é transmitida de forma direta pelo contato entre os animais sadios e os carreadores, por ingestão de água, alimento e fômites. Dito isto, populações de animais silvestres são extensivamente afetadas devido à alta circulação nos ambientes e o compartilhamento de espaços durante forrageamento. A prevalência de Trichomonas sp. em aves de rapina de vida livre também seria justificada por seus hábitos alimentares devido à predação de columbiformes, que podem carrear o protozoário sem apresentarem sinais clínicos. Existem poucos relatos de tricomoníase em tucanos, mas são mais escassos. A nitazoxanida possui atividade antimicrobiana de amplo espectro, sendo uma medicação eficaz contra helmintos e protozoários intestinais. Sua ação está relacionada ao bloqueio da reação de transferência de elétrons dependente da enzima piruvato-ferredoxina oxidoredutase, essencial para o metabolismo anaeróbico. Este princípio ativo e seu metabólito ativo tizoxanida são capazes de inibir o crescimento de formas trofozoítas de Trichomonas sp. in vitro. Ainda são escassos estudos acerca do uso da nitazoxanida no tratamento de tricomoníase em aves (EEDIC, 2016), por isso, relatos como o presente são importantes como fonte de informações para opções terapêuticas na medicina de animais silvestres. Nos casos descritos, o uso de nitazoxanida foi eficaz no tratamento de tricomoníase de dois exemplares de carcará e um de tucano, e pode ser considerado como opção de tratamento para demais aves.
Animais silvestres podem ser expostos a diversas agressões de caráter traumático, como por exemplo, quedas, atropelamentos e predação. Tais eventos podem originar diversas lesões, dentre elas, o traumatismo cranioencefálico (TCE), que é definido como um trauma na cabeça que afeta o sistema nervoso central (CUNHA, 2017). O objetivo do presente trabalho é relatar um caso de traumatismo cranioencefálico em um quati (Nasua nasua). Foi atendido um exemplar de quati macho, jovem, no Setor de Animais Silvestres do Hospital Veterinário da Universidade de Brasília, que apresentava hipoatividade e hiporreflexia. Ao exame físico, foi observada fissura no palato em região média e laceração em região de face. A imagem radiográfica permitiu observar fratura no osso frontal e confirmou a fissura no palato. A abordagem terapêutica inicial foi realizada com fluidoterapia com ringer lactato (50 mL, SC, dose única), manitol 20% (5 mg/kg, IV, BID) e tramadol 50 mg/mL (6 mg/kg, IM, BID) por quatro dias. Concomitantemente, houve a utilização de meloxicam 0,2% (0,1 mg/kg, IM, SID) e dipirona 500 mg/mL (25mg/kg, VO, BID) por dez dias. No sexto dia de tratamento, iniciou-se o uso de propentofilina 10 mg/mL (3 mg/kg, VO, BID) por quinze dias. Foi observada melhora do quadro clínico inicial após o terceiro dia de tratamento. Após dois meses, foi observada resolução da fratura e então o animal foi considerado apto para retorno à natureza e encaminhado ao CETAS-DF para soltura. No TCE ocorre ativação de vias bioquímicas que intensificam os danos e elevam a pressão intracraniana (PIC), que compromete a perfusão encefálica e é considerada como a principal causa de óbito. Para uma melhor terapêutica recomenda-se exame neurológico completo e auxílio de exames de imagem. A prioridade deve ser a estabilização crânio cervical, além da manutenção de pressão de perfusão cerebral e suprimento de oxigênio adequados. Evitar a hipovolemia, a hipóxia e a hiperglicemia são essenciais para um melhor prognóstico. O manitol possui efeito osmótico e age na diminuição da viscosidade sanguínea e na indução da diurese, o que promove a vasoconstrição cerebral e diminui o risco de edema cerebral. Já a propentofilina auxilia no aumento da perfusão sanguínea e consequente oxigenação cerebral. O controle da dor também está ligado diretamente à diminuição da PIC, por isso analgésicos e anti-inflamatórios não esteroidais são recomendados nos protocolos terapêuticos de TCE. O uso de opioides pode causar efeitos adversos, como hipotensão e depressão respiratória e, consequente, aumento da PIC, porém quando utilizado com doses analgésicas são considerados seguros. Em casos graves, a intervenção cirúrgica pode ser recomendada (SANDE; WEST, 2010). O tratamento de TCE deve ser imediato e agressivo, pois apesar do prognóstico reservado, os animais podem se recuperar de forma sistêmica e neurológica se as anormalidades forem identificadas precocemente, conforme o quati deste presente relato.
Resumo O trabalho teve como objetivo analisar registros de duas instituições que trabalham com animais silvestres ao longo do ano de 2018. Foram obtidos dados dos animais recebidos pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres do Distrito Federal (CETAS-DF), referentes ao tipo de entrada e destinação, espécies, bem como animais que necessitaram de atendimento médico veterinário e foram encaminhados ao Setor de Animais Silvestres do Hospital Veterinário da Universidade de Brasília (HVet-UnB) com descrição das principais afecções e análise temporal. Dos 7.603 animais que deram entrada no CETAS-DF (6.646 aves, 461 mamíferos e 496 répteis), 1.028 indivíduos (13,52%) necessitaram de atendimento médico veterinário e foram encaminhados ao HVet-UnB. A classe de animais que mais precisou de assistência foi a de aves (765), seguida de mamíferos (225) e de répteis (37). Diferente de outros levantamentos de diagnóstico de fauna de órgãos ambientais, este é o primeiro estudo que correlaciona os números de animais recebidos por um CETAS e que foram encaminhados para acompanhamento médico veterinário. O alto número de animais silvestres que demandam encaminhamento para instituições especializadas reforça a necessidade de estabelecimento de acordos e estrutura de tratamento médico veterinário e posterior reabilitação desses exemplares como parte de plano de ação de conservação da biodiversidade no país.
The aim of this work was to analyze records from two institutions that work with wild animals throughout 2018. Data were obtained from the animals received by the Wild Animal Screening Centre of Federal District (CETAS-DF), Brazil, referring to the type of admission and destination, species, as well as animals that required veterinary care and were referred to the Wild Animal Sector of the Veterinary Hospital of the University of Brasilia (HVet-UnB) with description of the main conditions and temporal analysis. Of the 7,603 animals that were admitted to CETAS-DF (6,646 birds, 461 mammals and 496 reptiles), 1,028 individuals (13.52%) required veterinary medical care and were referred to HVet-UnB. The class of animals that most needed assistance was birds (765), followed by mammals (225) and reptiles (37). Unlike other fauna diagnostic surveys from environmental agencies, this is the first study that correlates the numbers of animals received by a CETAS and that were referred for veterinary medical follow-up. The high number of wild animals that require referral to specialized institutions reinforces the need to establish agreements and structure for veterinary medical treatment and subsequent rehabilitation of these specimens as part of an action plan for the conservation of biodiversity in the country.
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