Este artigo discute os desafios envolvidos na assistência em Terapia Familiar Psicanalítica de uma mulher de 41 anos, vítima de incesto dos sete aos 12 anos, seguido de duas situações de estupro, que implicaram em um aborto e no nascimento de uma menina, com sete anos na ocasião do estudo. Apresentou-se infantilizada, dependente, sem autonomia, com diagnóstico de borderline. Em nenhum momento, encontrou na mãe alguma forma de apoio. Pais, em conluio perverso e abusivo, causam danos lesivos à constituição psíquica de seus filhos, cujas vidas ficam destroçadas, e levam a pensar que eles próprios tenham tido seus psiquismos danificados, marcados por vivências impensáveis, revertidas em segredos. Transformar e reparar são os objetivos de toda Terapia Familiar Psicanalítica e, nestes casos, os desafios são imensos, pois, entre as várias conseqüências clínicas de tal situação, há um ódio exacerbado à realidade, intensas vivências persecutórias e a reedição transferencial da dinâmica familiar no enquadre terapêutico.
As condições para a saúde psíquica estão relacionadas às capacidades de amar em termos objetais, de ter prazer e de suportar o sentimento de luto, sendo esta última condição que torna possível as duas primeiras. Há aqueles que não se veem com meios de fazer face a nenhum luto, à dor psíquica relativa a decepções, à perda de amores e ilusões, e procuram evita-lo a qualquer custo, mas é então o seu entorno que ficará com o encargo. Será a travessia do luto originário que promoverá uma mudança psíquica básica através da abertura para o outro e da descoberta da interioridade, travessia esta tão importante quanto a transformação operada no psiquismo pela do édipo (Racamier, 1992). Delas decorrem garantias metassociais e metapsíquicas, funções de enquadramento regradas, crenças compartilhadas e representações comuns, circunstâncias que fundamentam a ordem simbólica, com a lei que se impõe a todos e organiza o conjunto, sem as quais estar-se-á às voltas com o arbitrário e a anomia. Em família tais efeitos estão operando e justamente atuantes na constituição de cada sujeito, necessariamente a partir de um outro, ele próprio fruto de uma história cujas raízes se encontram em seu grupo de pertença, familiar e social, do qual é porta-voz. Ao grupo específico que é cada família corresponde uma intersubjetividade vincular exclusiva composta de distintos sujeitos do Incosnciente, que a compõem e dela decorrem (Kaës, 1 Este trabalho foi apresentado em "Trabalhos livres" no I Simpósio Bienal "O mesmo, o outro: Psicanálise em movimento" da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Forma reduzida de artigo proposto em coletânea (no prelo).
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