Há algum tempo, meios de comunicação como a carta, o jornal, a revista e o livro privilegiavam a mediação por intermédio da linguagem verbal escrita. Por um lado, por meio da imagem, podíamos nos comunicar usando desenhos, ilustrações ou fotografias utilizando aparatos como a máquina fotográfica. Por outro lado, por meio da linguagem sonora, configurávamos interlocuções veiculadas por tecnologias como o rádio e o telefone. Cada meio de comunicação estabelecia mediação específica, privilegiando uma linguagem: ou verbal, ou sonora ou imagética. Havia, então, um universo que recorria mais ao escrito, outro que privilegiava o som e, ainda, aquele que concedia mais importância à imagem (Ramonet, 2003).Atualmente, a tecnologia digital tem possibilitado a veiculação em grande escala de textos multimidiáticos, que articulam as linguagens verbal, imagética e sonora (Barreto, 2002;Guimarães, 2010). Esses textos, diferentemente dos de antigamente, compõem grande parte das mediações sociais contemporâneas, que se dão por meio de diversos suportes tecnológicos, como a TV digital, a internet e os telefones celulares.Hoje, não existem mais aparelhos apenas sonoros, como eram os telefones. Agora, os telefones -assim como o computador com acesso à internet e a TV digital -veiculam articulações entre imagens fotográficas, imagens em movimento, textos, audiovisuais, vídeos, "torpedos", mensagens de Whatsapp, textos com emoticons ou sinais gráficos, tais como: ;) =/ ;p =( :] -, hipertextos, etc. Esses textos têm produzido novas mediações e estão cada vez mais presentes na vida dos sujeitos,
Na chamada pós-modernidade enfrentamos a crise do pensamento europeu:hermenêutica, estruturalismo, teoria crítica, filosofia analítica, noções como sujeito,niilismo, modos de conhecimento e desdobramentos na educação. Autores e escolaspassam a ser considerados do ponto de vista da continuidade ou da ruptura, estaidentificada ao pensamento pós-moderno (MARCONDES, 2008). Tal dicotomia éabalada quando o paradoxo dissolve o binarismo do pensamento. Referimo-nos àstransformações da racionalidade que marcam o fim da modernidade (VATTIMO,1998), sobretudo após a morte de Deus proclamada por Nietzsche. Encontramos éticae política confiada aos técnicos, democracia na mão de experts, contextos perpassadospelo fantasma da violência (PECORARO, 2005). Enquanto educadores, precisamosrepensar a violência como não diálogo, o que significa entender que verdades científicasnão são absolutas. A crise das dicotomias alavanca a história e estimula a reconstituiçãodas identidades, processos não exclusivos da contemporaneidade. O pós-modernoé mais um modo de atuar no mundo e menos categorização associada à linearidadetemporal. Tal formulação ativa o sujeito, possibilita-o reinterpretar a si e ao entorno,transformá-lo. A reflexão representa nosso esforço para entender os efeitos dessas(trans)formações; contextualizar experiências nas quais se constituem as identidades(JOSSO, 2004) e repensar literatura na inconsistente condição pós-moderna.
SoletrasTenho que emerge toda ideia de arte bem como de vida e gesto sócio-político-existenciais contemporâneos justamente na passagem abrupta da forma ao pensamento, do saber-fazer ao fazer, do produzir modelos de construção e de beleza ao produzir efeitos e modos de entendimento e crítica; na ruptura epistemológica que se dá na 'queda' relativa da modernidade e de suas questões, quase todas ou respondidas ou abandonadas, o ateliê, a biblioteca, o conservatório não mais tomam a frente das coisas de arte e literatura a se oferecerem ao mundo; e isto ocorre antes bem antes dos eventos tecnodigitais mais próximos do nosso dito hoje; ocorre pelos fins dos anos 50, pelos inícios dos 60 e em grande força nos 70 do século XX. Lá (especialmente nas artes visuais e nos atos da vida cotidiana em geral), para além do que se dá na ordem da escrita literária mas não do que vê na ordem da escrita teórico-filosófica, rui um passado glorioso do bem-criar, do bem-dizer, do bem-agir. Trata-se do nascimento de uma história plástico-lítero-política a falar sem descanso das admiráveis coisas 'mortas' ao tempo em que se faz a história inquieta e ainda estranha das coisas muito vivas, pulsantes e em deriva. Uma história, pois, traçada por perguntas expostas em toda parte; entre as perguntas, (a) o que se faz quando se faz, (b) o que se diz quando se diz, (c) o 1 Roberto Corrêa dos Santos é poeta, semiólogo e professor de Estética e de Teoria da Arte do Instituto de Artes da UERJ. Realiza pesquisas sobre arte e teoria da arte, sobre performance e escrita contemporâneas. Entre os vários livros publicados, o mais recente chama-se Cérebro-Ocidente / Cérebro-Brasil (Rio de Janeiro: Editora Circuito Editora, 2015)
Thiago dos Santos Braz da Cruz 2 Bolsista FAPERJ / Assessor Editorial EdUERJ Resumo: As experiências transformadoras que marcaram a modernidade foram inscritas, em parte da literatura universal, junto às (de) formações do homem-tanto físicas quanto morais. Dizemos que a configuração de personagens na pele de monstros abomináveis representou tanto uma tentativa de exteriorizar e compartilhar aspectos dissimulados ou particulares do ser humano em crise quanto manifestações da resistência desse sujeito (moderno) ao discurso do poder. O objetivo da pesquisa é mostrar como a figura do monstro na literatura universal pode acionar um mecanismo de recusa dos paradigmas elogiados no período, ao mesmo tempo em que reproduz "o outro" humano (arquétipo sombra (JUNG, 2002) dentro do humano-o lado inconsciente dos homens, segundo a psicanálise de Jung, estudada por Mednicoff (2008). Observamos que tais seres, reconhecidos como bizarros, têm encontrado, na sua passagem pela literatura e por outras linguagens, ampla acolhida na recepção contemporânea. Aqui, nos deteremos na difundida obra da literatura gótica Frankenstein, de Mary Shelley (1831), entendendo a preconizada deformidade do personagem monstruoso não somente como marca de excludência, complexo de inferioridade ou ode à vitimização, mas também como transgressão do modelo vigente e alternativa à sobrevivência. A perspectivização do monstro é entendida por nós como resistência à forma perfeita e, ao mesmo tempo, busca do ser pela própria autonomia através da quebra de expectativas, recusa à massificação, transgressão de normas sociais e reconfiguração identitária.
Resumo Ao reunir os livros de poesia num único volume, Machado registrou que "[...] seria melhor ligar o novo livro [...]" – Ocidentais – "aos três últimos publicados, Crisálidas,Falenas, Americanas".1 Esta observação encontra-se na advertência ao leitor de Poesias completas, e subsidia nossa hipótese: o xeque-mate do último eu lírico machadiano. Mas é preciso empreender o percurso proposto pelo poeta para acessar o referido xeque-mate lírico: a sensível variação da voz poética, que consiste em retificar a (auto)imagem do poeta. Não implicaria, tal configuração livresca e poética, uma espécie de transposição da teoria das edições de Brás Cubas, visto que as páginas de Ocidentais, último livro-capítulo de Poesias completas, não só põem em xeque o dito anteriormente como também solicitam outra leitura?
Apresentação do número 40(2020)
Quando em 1930 Manuel Carneiro de Sousa Bandeira (1886-1968) entregou ao público "Pneumotórax", do livro de poemas Libertinagem, o prenúncio de uma vida que poderia ter sido e não seria, por conta da morte iminente, já havia se dissipado, dando lugar a uma outra promessa, não mais marcada pela nostalgia das ilusões perdidas, mas por um futuro glorioso e, por que não dizer, laborioso, que o passar dos anos atestou até 1968, quando se findou a longa jornada de Bandeira sobre a Terra, aos 82 anos. A jornada do poeta foi longa, para os padrões da época, contrariando o prognóstico do jovem que em 1904 adoecera do pulmão, aos 18 anos. Intensa, sua vida foi dedicada à poesia e à crítica, o que dá o testemunho de uma obra
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