R E S U M O :Este trabalho trata de uma reflexão acerca da história ensinada nas séries iniciais do ensino fundamental na perspectiva da História das disciplinas. O texto procura mostrar a contribuição das atuais pesquisas sobre História e Memória para a compreensão da trajetória desta disciplina escolar a partir do discernimento de ambos os termos no trato de seus percursos disciplinares. Registra que a história ensinada, principalmente nas séries iniciais, esteve dominantemente sob o império da memória não apenas porque havia a compreensão de que o ensino de Histó-ria se fazia pela memorização de datas e vultos nacionais, mas porque foi a partir do recurso metodológico e historiográfico do século XIX que a História se tornou um meio importante para dispor da memória e converter-se em História nacional. PA L AV R A S -CHAVE:História das Disciplinas; História ensinada; História e memória.Os atuais estudos sobre a relação História e Memória partem do suposto de que a visão tradicional desta relação, "na qual a memória reflete o que aconteceu na verdade e a história reflete a memória, parece hoje demasiado simples" 2 Na verdade, tanto a História quanto a memó-ria passaram a revelar-se cada vez mais complexas, como afirma Burke:Lembrar o passado e escrever sobre ele não mais parecem atividades inocentes que outrora se julgava que fossem. Nem as memórias nem as histó-rias parecem mais ser objetivas. Nos dois casos, os historiadores aprendem a levar em conta a seleção consciente ou inconsciente, a interpretação e a distorção. Nos dois casos, passam a ver o processo de seleção, interpretação e distorção como condicionado, ou pelo menos influenciado, por grupos sociais. Não é obra de indivíduos isolados. 3 A partir de tal constatação, o tema da memória passa, no século XX, a ser estudado com maior dedicação por historiadores contemporâ-neos, confiantes na comprovação de sua dimensão social. 4 A contribuição de Pierre Nora (1993) e Jacques Le Goff (1996), no discernimento da relação História e Memória, trouxe para o campo da investigação sobre o ensino de História e da História ensinada, mudanças significativas no trato dos percursos disciplinares escolares e acadê-micos, fundamentalmente no que se refere à prática e à discussão sobre a História ensinada. Vejamos por quê.m a r i a a p a r e c i d a l e o p o l d i n o t u r s i t o l e dPara Nora, memória e História não são sinônimos, mas se opõem. Nas suas palavras:A memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela está em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulneráveis a todos os usos e manipulações, suscetível de longas latências de repentinas revitalizações. A História é a reconstrução sempre problemática e incompleta do que não existe mais. A memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente; a história, uma representação do passado. 5
ResumoO artigo trata da disciplina de História no Paraná entre 1876 e 1905. Toma como fonte investigativa compêndios adotados à época na instituição de ensino secundário, analisa o discurso histórico escolar presente nas obras e o relaciona à narrativa produzida sobre o sentido de nação. Embora a questão que liga o nascimento da disciplina com a construção do Estado nacional seja amplamente conhecida, a forma como ela foi tratada e as nuanças que ela assumiu em diferentes províncias do Império brasileiro ainda permanecem por se conhecer. A aná-lise constata que os livros didáticos, objeto de estudo do trabalho, estabeleceram coexistência ou concordância entre as abordagens gerais -sejam universais ou civilistas -e as nacionais, indicando como a História nacional teve dificuldades em se firmar como disciplina autônoma até os anos iniciais da República brasileira. Palavras-chave: ensino de História; Paraná; compêndios. AbstractThe article looks at the History of Paraná discipline between 1876 and 1905. The sources focused on are the compendiums used at the time in secondary schools. In addition, the historical discourse of schools present in the textbooks is analyzed and related to narratives produced about the meaning of nation. Although the issue that links the birth of the discipline with the construction of the national state is well known, the way it was dealt with in the different provinces of the Brazilian Empire still remains to be examined. The analysis shows that the textbooks, the object of the study, created either coexistence or correlation between general approaches -whether they were universal or civilista -and national ones, indicating how national history struggled to establish itself as an autonomous discipline until the early years of the Brazilian Republic.
R e s u m o : O trabalho propõe uma reflexão sobre os nexos entre projetos editoriais, elaborados por meio de políticas culturais, produzidas no cenário brasileiro dos anos iniciais do século XX, e a publicação de livros didáticos de História. Toma como eixo de análise o trajeto intelectual de José Francisco da Rocha Pombo (1857-1933) para abordar questões referentes ao tema. Desenvolvido com intenções de contribuir com a história da disciplina, atenta-se para o trajeto do letrado paranaense na configuração de uma identidade socioprofissional que se constitui por meio de práticas editoriais e de uma historiografia didática nacional no conturbado início da república brasileira na cidade do Rio de Janeiro. Afirma que o caminho tomado por Rocha Pombo é representativo de estratégias editoriais produzidas como dispositivos de organização de regras para práticas escolares, o que possibilitou traçar o caminho da profissionalização docente no decorrer do século XX. P a l a v r a s -c h a v e : Rocha Pombo, livros didáticos, políticas culturais, ensino de história.A b s t r a c t : The paper proposes a reflection on the nexus between editorial projects, elaborated through cultural policies, produced in the Brazilian scenario in the initial years of the Republic, and the publication of History textbooks. It takes as an axis of analysis the intellectual path of José Francisco da Rocha Pombo to address issues related to the theme. Developed with intentions to contribute to the History of the School Discipline, it is attentive to the role of the intellectual in the configuration of a socioprofessional identity that is constituted through editorial practices and a national didactic historiography in the troubled beginning of the Brazilian Republic in Rio de Janeiro. The path taken by Rocha Pombo is representative of editorial strategies produced as devices for the organization of rules for school practices that made it possible to trace the path of teacher professionalization in the course of the 20th century. K e y w o r d s :Rocha Pombo, didactic books, cultural policies, history teaching. R e s u m e n : El trabajo propone una reflexión sobre los nexos entre proyectos editoriales, elaborados por medio de políticas culturales, producidas en el escenario brasileño en los años iniciales del siglo XX, y la publicación de libros didácticos de Historia. Toma como eje de análisis el trayecto intelectual de José Francisco da Rocha Pombo (1857-1933) para tratar cuestiones referentes al tema. Desarrollado con intenciones de contribuir con la historia de la asignatura, se atenta al trayecto del intelectual de Paraná-Brasil en la configuración de una identidad socioprofesional que se constituye por medios de prácticas editoriales y de una historiografía didáctica nacional en el conturbado inicio de la República brasileña en la ciudad de Rio de Janeiro. Afirma que el trayecto tomado por Rocha Pombo es representativo de estrategias editoriales producidas como dispositivos de organización de reglas para prácticas escolares lo que posibil...
Sottomaio (1864-1938) presente no manual O Brasil e o Paraná, escrito originalmente em 1903 para uso das escolas primárias. Sua ampla aceitação entre os colegas do Ginásio Paranaense e da Escola Normal e as inúmeras reimpressões que recebeu sugere como suas ideias estavam em consonância com os conhecimentos considerados socialmente necessários à época. Na análise observa-se que o livro escolar, adotado na Escola Normal, produziu um saber sobre a geografia e a história do estado e elaborou um conceito de região que pudesse, ao mesmo tempo, caracterizar as fronteiras territoriais e definir uma "identidade" ao Paraná. Na busca por figurar um discurso de construção identitária, o autor elegeu os elementos que se originam dos produtos cultivados no espaço paranaense (erva-mate), do caráter do "povo" paranaense (pinheiro), da atividade manufatureira que atrairia o imigrante laboroso (café). Conclui-se que o esforço do intelectual em buscar raízes para explicar a especificidade regional constituiu-se em tarefa cívica e compromisso social de diversos letrados brasileiros que viveram os anos finais do século XIX e as décadas iniciais do século XX.
O artigo trata do conceito de tempo histórico proposto em livros didáticos brasileiros no uso pedagógico de pinturas sobre o Brasil do século XIX para tratar com o tema da cultura indígena. A História Cultural norteia a análise que, metodologicamente, relaciona história escolar, memória e cultura visual paraabordara complexaquestão debatida pela historiograia brasileira sobre osusos do passado, da memoria e a forma como a História do Brasil foi escrita e contada, durante muito tempo, pela perspectiva do colonizador nos séculos XIX e XX.No desdobramento da relexão, airma que os desaios didáticos ainda permanentes no ensino de História advêm, diante da necessidade de um ensino problematizadorda predominância de uma concepção de tempo característica da modernidade. Nos resultados aponta a importância de situar a produção dos pintores em seu contexto para a compreensão da leitura que se fez do indígena à época e do sentido de diferençapor eles construído.Conclui que a questão permanece atual nesse ensino, fundamentalmente em países colonizados, e que revestir o debate para além do que éconsiderado civilizado ou não civilizado é essencial para uma aprendizagem histórica signiicativa a respeito das diferenças culturais e, nelas, a temporal.
Introdução:Siles Em meados do século XIX, a história se fi rma como disciplina escolar no Paraná por intermédio do ensino secundário na capital da Província. Como em diferentes partes do país, tornou-se visível no cenário curitibano a presença de conteúdos históricos ligados ao surgimento da nação considerados imprescindíveis às elites locais diante da necessidade de legitimar um saber sobre o passado nacional.Em meio às mudanças que ocorriam no país desde o seu processo de afi rmação como corpo político autônomo em 1822 e a emancipação política da Província, ocorrida em
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