Este ensaio discute a atuação política dos grupos conservadores que, em São Paulo e no Paraná, apoiaram a intervenção militar de 1964. Analisamos a "Marcha da Família com Deus pela Liberdade". Conclui-se que, em Curitiba, o evento (rebatizado para "Marcha a favor do Ensino Livre") priorizou a luta pelas "liberdades individuais", deixando em segundo plano os valores tradicionais cristãos, diferentemente do enredo seguido em outras cidades. O caso em questão ilustra a complexidade da conjuntura ideológica no pré-1964, a natureza crítica das iniciativas do governo Goulart para levar adiante sua agenda reformista e as diferentes motivações não somente sociais, mas também regionais no engajamento da "sociedade civil" na campanha golpista.
This essay discusses the political activity of the conservative groups in São Paulo and Paraná who supported the military coup of March 31, 1964. We analyze the "March of Families with God for Freedom" and conclude that, in the case of the march that was held in Curitiba (re-named "March for Educational Freedom"), priority was given to issues of "individual freedom", relegating traditional Christian values to a secondary concern. The issue illustrates the complexity of the ideological conjuncture that preceded the 1964 coup, the critical character of the initiatives taken by Goulart's government in carrying out its agenda of social reform and the varying motivations, regional as well as social, underlying "civil society's" engagement in the campaign that promoted the coup d'etat
Um dos aspectos menos privilegiados na Ciência Política brasileira diz respeito à atuação das forças anticomunistas ao longo de nossa história. Orquestrado por grupos conservadores e em certos momentos até por alas progressistas 1 , o anticomunismo brasileiro é sem dúvida um dos fenômenos políticos mais relevantes nas duas fases de colapso institucional da democracia no Brasil (especificamente, a ascensão do Estado Novo (1937) e o golpe de 31 de março de 1964). Esses períodos são sublinhados na obra de Rodrigo Patto Sá Motta, que apresenta um notável levantamento de fontes acerca do assunto e configura-se como uma interessante contribuição para o escasso conjunto de trabalhos sobre o tema.A literatura especializada sobre as referidas conjunturas históricas prioriza a atuação das "esquerdas revolucionárias". Tais atores ocupam um lugar privilegiado em boa parte das análises, em detrimento das facções conservadoras. Um segundo aspecto característico da literatura diz respeito aos poucos trabalhos que definem o anticomunismo como um elemento ideológico significativo e característico do período 1937-1964: essas análises tratam o tema como coadjuvante dos processos de implantação dos regimes autoritários.Conforme Thomas Skidmore, o êxito do Estado Novo de 1937 residiu, fundamentalmente, na liderança política de Getúlio Vargas. O autor ressalta que "Vargas manipulava um extremo contra o outro, produzindo nas mentes dos militares e classe média um profundo pessimismo quanto à viabilidade de uma política aberta" (SKIDMORE, 1996, p. 42).Em um estudo sobre as ações dos militares na crise de 1964, Gláucio Soares conclui que a quebra da hierarquia militar 2 foi a principal questão da alta oficialidade na conjuntura política. A partir dessa preocupação, as Forças Armadas orientaram-se para o golpe de Estado. Conforme o autor, a "estagnação, a inflação e o fim de etapa fácil da substituição de importações talvez fossem os fatores que mais contaram para a população, mas não tiveram saliência no pensamento militar" (SOARES, 1994, p. 35-36).René A. Dreifuss, analisando o papel da burguesia no período, sustenta que sua ação política foi orientada por uma elite "orgânica", no sentido gramsciano, composta por empresários e oficiais militares. Tais atores organizaram-se no complexo IPES-IBAD 3 , liderado pela "burguesia nacional e associada ao capital estrangeiro" (DREIFUSS, 1981, p. 162-172); suas atividades conspiratórias teriam provocado o colapso do sistema populista.Como se pode observar, tais obras elegem determinados atores como núcleos desencadeadores das crises políticas. A nosso ver, o problema dessas interpretações reside em compreender os movimentos de 1937 e 1964 a partir de um único prisma, não estabelecendo uma relação articulada do sentimento anticomunista com as questões políticas e econômicas que permeavam os posicionamentos conservadores na época.
Conforme a Constituição de 1988, as responsabilidades em torno da formulação e da implantação de serviços de saneamento ambiental estão distribuídas entre União, estados e municípios. E se observarmos as diretrizes nacionais acerca do tema, instituídas pela lei 11445 de 5 de janeiro de 2007, é possível sustentar que a formulação e implantação desses ofícios públicos estão fundamentadas como elementos essenciais para o exercício da cidadania. Assim, poderia tal consenso, lavrado juridicamente, fomentar o exercício do poder e reproduzir desigualdades no Brasil? No intuito de responder preliminarmente a essa interrogação o presente texto explorará o protagonismo dos serviços de abastecimento de água tratada e coleta de esgoto sanitário na experiência brasileira de planejamento, implantação e administração dos ofícios de saneamento ambiental, definirá essa trajetória à luz de dos conceitos de campo social e espaço social, além de chamar atenção para possíveis situações de exercício de poder envolvendo pessoas, grupos e instituições.Palavras-chave: Serviços de água e esgoto no Brasil; Poder; Campo social; Espaço Social.
Os serviços de abastecimento de água tratada (e própria para o consumo) e coleta de esgoto sanitário podem ser compreendidos como soluções necessárias, visto que as consequências de sua falta atingem todas as comunidades envolvidas. Assim, poderia tal consenso, lavrado juridicamente, fomentar o exercício de poder e sustentar a vigência de determinado status quo numa determinada região? É crível sustentar que a experiência brasileira envolvendo os serviços de água e esgoto proporcionou uma significativa diversidade de agentes sociais, num contexto de sistêmicos conflitos pela posse dos capitais (econômico, cultural, político, simbólico, social, etc.) mobilizados pela premeditação implantação, administração e exploração dos ofícios em questão. Os sistemas de água e esgoto proporcionam reflexões importantes. A ponto de sustentar um campo social específico, cujos agentes sociais desses espaços, também agem em outros campos sociais conforme o montante de capitais mobilizados. Nesse raciocínio, vigora um campo social “Água e Esgoto” no cenário brasileiro, sendo tal microcosmo permeado por outros campos sociais, como os campos político, empresarial, profissional e comunitário. Num panorama de campos, capitais e conflitos, a temática do poder é inerente.
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