O modelo teórico proposto pelos evolucionistas abrange a noção de natureza humana, em rota de colisão com os defensores da tábula rasa. Tais defensores da tábula rasa arguem de que cada indivíduo é uma folha em branco a ser preenchida pela história de vida da vivência em seu mundo social. Nos últimos quarenta anos, tem avançado rapidamente o desenvolvimento de uma explicação evolucionista de fenômenos culturais e de fatos a eles relacionados, especialmente quando encontradas predisposições da mente humana para a transmissão cultural. Altera-se, portanto, o entendimento do que pode ser nomeado como história com os estudos da evolução cultural. Somos animais particulares porque somos uma espécie cultural evoluída, e espécie cultural evoluída implica em características fortemente moldadas pela atuação da seleção cultural no protagonismo da imitação via aprendizado social. Isso deve ser considerado quando se alude ao fenômeno histórico.
Capturar o que pode lá estar pode ser visibilizado na tentativa de forjar, em uma das salas, com suas restrições, mais um espaço de possibilidades em programações anuais. O pano de fundo é entender as funções do empreendimento em dança e o conexo a elas no novo cenário do papel e da ocupação profissional. Em ambiente e período nos quais o produto artístico em dança é entendido como “raridade”, a despeito de tentativas anteriores de dissolução desse entendimento como tem sido saudado o Galpão Teatro de dança, no final dos anos 1970 e início dos anos 1980. Polo irradiador em mostras, debates e oficinas, a programação de dança do Centro Cultural São Paulo (ccsp) passa a existir como uma usina de informações no período do final dos anos 1980 até pelo menos na primeira década dos 2000, como um enclave no cenário paulistano. Não querem atentar à oferta inédita de dança à cidade de São Paulo organizada no ccsp.
As ciências Cognitivas têm avançado nos estudos enformadores da percepção estética de áreas como artes visuais e música, e não demora para relevar os padrões cerebrais responsáveis pelas habilidades motoras caras à dança. O quadro se altera com a “descoberta” dos neurônios espelho e os estudos posteriores de sua ação na produção e recepção da dança. Os neurônios espelhos formam um sistema de células que nos habilita a imitar e reconhecer a ação de outrem. Hoje, a neurociência investe na área chamada neuroestética na qual parece a dança ter lugar e confere a amplitude do sistema visual tanto na apreensão como com a percepção das atividades voltadas à dança. Por sua natureza teórica, aplicamos como método revisão bibliográfica e analítica dos estudos relativos ao sistema de neurônios espelho e suas conexões com a imitação e o entendimento da ação.
Este estudo tem por objeto a descrição de traços presentes em perfis artísticos em dança que reconhecemos por sua estabilidade e persistência. Toma como primeira investidura os casos de Lac (Sandro Borelli) e Les Poupées (Marta Soares). Com o modelo do Big Five – os cinco grandes fatores da personalidade – é possível o recorte de grupos de gestos e movimentos, comportamento não verbal, os que persistem como ação e reação, os quais são receptivos e reativos à própria ação, os insistentes a olho nu. Fazemos uso da observação e, consequentemente, interpretação a partir de gravação em DVDs em sistema de forward and rewind – avançar e retroceder – e freeze, o congelar das imagens de gravações em vídeo. Os perfis em arte são habitualmente estudados em acordo com o grau de aproximação e afastamento de um determinado fator da personalidade do artista e não como motivo independente no produto artístico.
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