Em fevereiro de 1858, o naturalista Alfred Russel Wallace encontrava-se na ilha de Gilolo capturando insetos para vender, quando uma doença o impediu de continuar trabalhando. O ofício de entomólogo financiava seu verdadeiro objetivo: levantar dados para fundamentar uma teoria sobre a origem das espécies, motivação que o conduzira da Inglaterra para a floresta amazônica e, naquele momento, para o arquipélago Molucas (região da Nova Guiné, Oceania). Durante o repouso forçado, ele pôs-se a refletir sobre a natureza viva e, subitamente, ocorreu-lhe uma intuição, assim descrita em recordações datadas de 1905: Naqueles dias eu sofria de um ataque agudo de febre intermitente; todo dia (durante os acessos de frio e posterior calor) tinha de repousar por algumas horas, tempo durante o qual nada tinha a fazer senão pensar sobre alguns assuntos que então me interessavam particularmente. Um dia algo fez-me recordar os Princípios de população, de Malthus, que eu havia lido doze anos antes; pensei em sua clara exposição dos 'impedimentos positivos ao aumento' -doença, acidentes, guerra e fome -que mantêm a população das raças selvagens tão abaixo da média das pessoas civilizadas. Então, ocorreu-me que essas causas (ou suas equivalentes) também estão continuamente agindo no caso dos animais e, como eles usualmente reproduzem-se muito mais rapidamente do que os humanos, a destruição anual devido a elas deve ser enorme para controlar a população de cada espécie (posto que os animais, evidentemente, não aumentam regularmente de ano para ano, pois de outra maneira o mundo de há muito teria sido densamente povoado pelos que procriam mais rapidamente). Pensando vagamente sobre a enorme e constante destruição que isso implica, ocorreu-me formular a questão: por que alguns morrem e alguns vivem? E a resposta foi claramente que, no todo, o melhor adaptado vive. ... Então, subitamente me lampejou que esse processo autoativo necessariamente melhoraria a raça, porque a cada geração o inferior inevitavelmente seria destruído e o superior permaneceria -ou seja, o melhor adaptado sobreviveria. ... Quanto mais pensava nisso, mais ficava convencido de que eu ha-
O naturalista inglês Alfred Russel Wallace nasceu em 8/1/1823 em Usk, Monmouthshire. Até morrer em Broadstone, em 7/11/1913, escreveu prolificamente sobre biologia, socialismo e vários outros assuntos. Ele foi o oitavo dos nove filhos de Thomas Wallace e Mary Greenell, um casal de posses modestas que, não obstante, durante a sua infância, editou uma revista literária e manteve uma das livrarias da cidade, atividades que se mostraram favoráveis à formação do menino. Entrementes, esse período foi marcado pelas limitações que as dificuldades financeiras de sua família trouxeram e pela morte, pois quatro das cinco irmãs mais velhas do infante Alfred faleceram antes de alcançar a idade adulta. Como sua saúde também não era exemplar, em torno dele houve uma perene atmosfera de medo; mas o pior não adveio e, embora a considerasse tediosa, recebeu as primeiras letras na escola de gramática de Hertford. Sua tendência para o estudo e a presença de livros tanto na escola quanto em casa acabaram por fazer da leitura a atividade preferida do futuro cientista (cf. Smith, 2003a, p. 1; Tort, 1996, p. 4565).Por volta de 1835, a família do adolescente Alfred Wallace entrou numa crise econômica aguda e, no fim de 1836, aos treze anos, ele teve de deixar a escola e seguir rumo a Londres para trabalhar com o irmão John Wallace. No início de 1837, o jovem trabalhador conheceu alguns simpatizantes de Robert Owen, chegando a ouvir o próprio líder trabalhista discursar; desde então, tornou-se socialista, não-conformista e descrente das formas religiosas predominantes na Inglaterra. Em meados de 1837, partiu para Bedforshire, para aprender topografia com seu irmão William Wallace, que adquirira uma empresa do ramo; nos anos subseqüentes, dentre outras ciências, procurou aprender geometria, cartografia, botânica, geologia e astronomia. Por volta de 1841, associou-se aos institutos de mecânica de Hereford e de Neath, passando a fazer conferências sobre tecnologia e história natural (cf. Smith, 2003a, p. 2; Smith, 2003b, p. 1).Em 1842, Wallace teve contato com o tema que haveria de empolgá-lo pelo resto de sua vida, ao ler o Tratado sobre a geografia e a classificação dos animais, de William Swainson. Esta obra, publicada em 1835, didaticamente expunha as diversas doutrinas sobre os centros de criação, da crença bíblica de que Deus criou as espécies tal como
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.