Para a quinta edição da Revista Humanidades em Diálogo, entrevistamos o professor e filósofo Milton Meira do Nascimento. Graduado em filosofia pela Universidade de São Paulo em 1971, fez seu mestrado, doutorado e livre-docência na mesma instituição, na qual é professor titular de Ética e Filosofia Política desde 2006.Nesta entrevista extremamente descontraída realizada na tarde do dia 29 de agosto de 2013, o professor contou de sua trajetória intelectual e comentou a situação política atual, diagnosticando uma crise intensa de representação presente na origem dos protestos que vem ocorrendo no país desde junho desse ano. Sempre com uma postura crítica, Milton Meira utiliza de toda a tradição da filosofia política, de Rousseau a Agamben, para pensar os problemas da atualidade, buscando compreender as possibilidades de participação política presentes nas lutas de hoje, seja nas ruas de todo o país, seja nos corredores do departamento de filosofia da USP.
Álvares / Nós que sabemos sonhar Comissão: Como vocês têm sonhado ultimamente? Quais são os tipos de sonho? Vocês têm o hábito de contar os sonhos a seus parentes? Qual é a importância desses relatos no cotidiano? Sandra Benites: Nhandeka'aruju, boa tarde, sou Sandra Benites, Guarani Ñandeva do Mato Grosso do Sul, da aldeia Porto Lindo. Estou aqui para conversar e trazer os pensamentos que construo para dialogar -acho isso muito importante. Sou mulher guarani, mulher indígena, e mãe de quatro filhos e tenho três netas já. Sou pesquisadora acadêmica indígena e venho traçando questões de pesquisa na área da antropologia, na qual atuo como acadêmica. Sou doutoranda em Antropologia Social no Museu Nacional, e agora também sou curadora do MASP. Vou começar a falar a partir da minha própria experiência, porque cada um fala a partir da sua própria experiência. Desde 2015 tenho me relacionado diretamente com a cidade e ido à aldeia poucas vezes. Vivi no Espírito Santo por um bom tempo e depois fiquei mais no Rio de Janeiro. A partir do momento em que saí da aldeia, comecei a fazer essa ponte entre aldeia e cidade e passei a entender que estou entre aldeia e cidade. Quer dizer, não estou nem na aldeia, nem na cidade. Foi aí que comecei a entender que não estar nem na aldeia, nem na cidade, me trazia um meio mais conflituoso. Estar entre esses lugares abriu uma outra possibilidade de sonho. Às vezes sonho com coisas ligadas à realidade mesmo: às vezes me vejo na aldeia, outras vezes estou no meio das pessoas jurua (não-indígenas), no meio da cidade. É engraçado que comecei a sonhar com duas línguas, não só com a minha língua guarani. Isso me dá um pouco de conflito; parece que tem duas coisas ali que têm o seu espaço, mas não tem tanto espaço assim. Eu sonhava em guarani , com guarani, no [espaço] guarani. Hoje não sonho mais isoladamente. É uma mistura e isso é muito conflituoso. Muitas vezes, tenho dificuldades de falar sobre os sonhos como fazia na aldeia.Hoje, bem recentemente, comecei a sonhar com várias coisas da atualidade:as angústias e a minha casa no meio dos jurua. É difícil levar o sonho a outra pessoa: acordar, tomar chimarrão e conversar. Até porque moro sozinha em um apartamento no Rio de Janeiro, em um bloco onde vivem parentes de diferentes etnias -eles não são Guarani. Isso, às vezes, me entristece. Deixa uma angústia muito grande, porque não consigo contar os meus sonhos. A gente tem que saber para quem está contando, precisa ter confiança nessa pessoa, que deve fazer a conversa evoluir de uma maneira sábia e também sagrada. O sonho pra gente não é só sonhar; é sentir aquele sonho, é viver naquele sonho. Muitas vezes, é uma experiência muito do nhe'ẽ, do seu espírito. Já sei que não vou poder contar da maneira que gostaria por não estar perto da minha família e das pessoas que gostaria de contar o sonho.
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