Este artigo discute, em linhas gerais, algumas tensões, impasses e particularidades do testemunho ao se manifestar na poesia lírica. Embora ainda ocupe uma posição marginal dentro das investigações sobre o testemunho na literatura brasileira, percebemos em nosso repertório poético uma presença abundante, e decisiva, de elementos testemunhais, como a escrita do trauma, o desejo de resistência e a conturbada aproximação entre realidade e memória, ética e estética. Com base no desenvolvimento dessas considerações, proponho uma breve análise do poema “Iniciação do prisioneiro”, de Thiago de Mello, destacando como este relato poético sobre o período em que o autor ficou preso nos porões da ditadura pode ser compreendido à luz do conceito de testemunho.
Resumo: Considerando passagens do exílio chileno dos poetas Ferreira Gullar e Thiago de Mello, este trabalho resgata, a partir da análise articulada de textos poéticos/memorialistas, a participação de ambos na construção do socialismo chileno, bem como a reação diante do golpe militar e o impacto do exílio, da violência de estado e da frustração política em suas produções literárias.
ResumoEste artigo propõe a leitura de algumas referências ao Chile na obra de Ferreira Gullar. Para tanto, desenvolve uma análise de "Dois poemas chilenos", "Queda de Allende" e "Volta a Santiago do Chile", publicados respectivamente em Dentro da noite veloz (1974), Muitas Vozes (1999) e Em alguma parte alguma (2010). Defendemos que estes poemas que abordam explicitamente os seus anos de exílio no Chile ocupam posições estratégicas na obra do autor maranhense. O seu exame indica uma complexa reordenação de lembranças e traumas ligados à frustração de certas alternativas históricas, permitindo acompanhar importantes mudanças em sua poesia, bem como a sua tensa articulação com a história política da América Latina.Palavras-chave: Ferreira Gullar; memória; Chile. A descida aos infernosAs experiências de Ferreira Gullar durante a sua passagem pelo Chile, no início da década de 1970, são fundamentais para a compreensão de sua trajetória intelectual. Destaca-se, primeiramente, o ambíguo entusiasmo com o governo de Salvador Allende e a angústia decorrente do exílio vivido no país andino. Num segundo momento, passa a predominar o medo, a frustração e o horror, acentuados pelo testemunho do golpe de 1973 e a violenta perseguição aos simpatizantes do regime derrubado. O autor demarca este período como uma "descida aos infernos"
RESUMO.O artigo propõe uma leitura crítica de episódio presente no início do romance Cem anos de solidão (1967), de Gabriel García Márquez. A passagem gira em torno dos sucessos decorrentes da 'peste da insônia', que contamina os habitantes de Macondo e se difunde pela cidade, causando a perda das memórias. Além de situar essa passagem dentro da dinâmica geral da obra, discutimos alguns sentidos possíveis para as estratégias que os personagens desenvolvem diante da iminente deterioração das recordações. Com base nas contribuições teóricas de Adorno e Horkheimer (1985), Benjamin (1996) e Gagnebin (2014), concluímos que o enfrentamento da crise da insônia pode ser interpretado como superação da 'pré-história' de Macondo e que as estratégias empreendidas no romance podem iluminar o debate sobre as políticas da memória (e do esquecimento) na América Latina contemporânea.Keywords: Gabriel García Márquez, memória, esquecimento. Reflections around 'insomnia epidemic' in One hundred years of solitudeABSTRACT. This paper proposes a critical reading of an episode present at the beginning of the novel One Hundred years of solitude (1967), by Gabriel García Márquez. The passage revolves around the successes of plague of insomnia, which contaminates the inhabitants of Macondo and spreads throughout the city, causing the loss of memories. In addition to situating this passage in the general dynamics of the work, we discuss some possible meanings for the strategies that the characters develops face the imminent deterioration of memories. Based on theoretical contributions of Adorno and Horkheimer (1985), Benjamin (1996) and Gagnebin (2014), we conclude that the confrontation with the insomnia crisis can be interpreted as overcoming Macondo's 'prehistory' and that the strategies activaded can illuminate the debate over the politics of memory (and forgetfulness) in contemporary Latin America.Palavras-chave: Gabriel García Márquez, memory. forgetfulness. IntroduçãoHá, no terceiro capítulo de Cem anos de solidão, o mais célebre romance de Gabriel García Márquez, um breve episódio, dificilmente esquecido por seus leitores, que narra o período em que a cidade de Macondo foi acometida pela 'peste da insônia' (García Márquez, 2005, p. 47-54). A passagem ocupa poucas páginas. O ritmo vertiginoso com que a insônia surge, prolifera e é, aparentemente, solucionada, está em sintonia com a dinâmica vigorosa da narrativa, marcada por acúmulo, retomadas e evocações que dão forma estética ao movimento incessante do tempo que progride e retorna, feito espiral, ao longo de suas páginas. A maneira como desloca aspectos do real, utilizando-se de hipérboles, paradoxos, contradições e combinações imagéticas inusitadas que, no entanto, são descritas sem espanto pelo narrador, faz dessa passagem um exemplo incisivo das engenhosas inovações narrativas que o romance acabaria consagrando.A passagem começa, de súbito, com a imagem dos 'olhos fosforescentes' da pequena Rebeca. Quem decifra de imediato o sentido daquele olhar é a índia Visitación, que nele ...
A veiculação de uma perspectiva comunitária voltada para a aproximação/integração dos países latino-americanos recebeu destacada importância nas produções culturais brasileiras das décadas de 1960 e 1970. Especialmente no âmbito das manifestações artísticas, novas articulações em torno de uma identidade latino-americana surgiam na pauta dos debates político-culturais. A partir deste contexto, o presente trabalho visa refletir sobre a importância do ideal americanista para a poesia brasileira do período, dando destaque à produção poética de Ferreira Gullar e Thiago de Mello. A escolha por estes dois autores justifica-se pela intensidade e dramaticidade com que suas obras encarnaram as esperanças e contradições da época, tanto no que se refere aos dilemas formais inerentes a uma concepção poética disposta a atuar politicamente na realidade social, transformando-a, como no espaço que oferecem à representação de uma união solidária entre os países da América Latina. A partir da leitura de seus poemas buscamos matizar a posição da fulguração americanista dentro de um projeto político e estético mais amplo, bem como os lugarescomuns que acompanham sua concretização formal. Damos especial atenção aos eventos e personagens que, a nosso ver, catalisam o viés comunitário daquele período, tornando-se protagonistas de vários poemas e confundindo-se simbolicamente com o próprio desejo de aproximação solidária: a Revolução Cubana, a celebridade de Pablo Neruda e Che Guevara e o exílio dos poetas brasileiros em países da América Latina, destacadamente no Chile de Allende, onde testemunharam a euforia construtiva e a frustração traumática do projeto socialista. Por fim, propomos um balanço crítico das limitações desta tendência, sem desconsiderar a importância de tais ensaios supranacionais em um país pouco sensível ao diálogo com culturas e sociedades afins, como tem confirmado a história brasileira. Encerramos a pesquisa vasculhando os escombros do discurso americanista nas obras mais recentes dos poetas-De uma vez por todas (1996) e Campo de Milagres (1998), de Thiago de Mello, e Muitas Vozes (1999) e Em alguma parte alguma (2010) de Ferreira Gullar-publicadas na última década do último século e na primeira do século corrente. Num contexto marcado pela consolidação da chamada globalização neoliberal e de crise dos discursos utópicos-que sustentavam a aspiração comunitária-procuramos identificar e examinar novos arranjos discursivos e, a partir deles, sugerir o lugar (ou não-lugar) da América Latina no rol de preocupações da poesia brasileira contemporânea.
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