O que motiva este texto é investigar quais as possibilidades, as características e os efeitos de um modo de pensar que tenha o humor como ponto de partida. O riso costuma não estar onde a crença na Verdade absoluta aparece, o que o dissocia, tradicionalmente, de categorizações do real cujo horizonte é tal Verdade. Não obstante, até que se creia tê-la alcançado, não raro, o humor surge como ferramenta-ora ridicularizando aquilo que foge à ordem vigente; ora satirizando a própria ordem, mas em nome de uma que teria, ela sim, fundamentos transcendentes; diante do que se pretende absoluto, porém, o riso cala e a atmosfera daí decorrente é séria. Fundamentados na Filosofia Trágica, conforme a propõe o filósofo Friedrich Nietzsche, contudo, procuramos descrever um outro cenário. Para o alemão, o real é convenção, imagem, e qualquer discurso que pretenda dar conta dessa realidade acaba sempre por ser muito mais indicativo de quem o produz do que, de fato, daquilo que existe. Compreender a existência como convenção, então, nos levaria a uma forma de pensar animada não mais por uma vontade de descoberta, de desnudamento de uma pretensa Verdade, mas por algo próximo ao que chamaremos de uma "vontade de jogo", isto é, uma disposição mais inclinada a reconhecer que aquilo a que nos dedicamos de corpo e alma não tem um fundo transcendente, mas é uma invenção e, como tal, em alguma medida, pode ser alterada, trocada. Interpretar dessa maneira aquilo que é pensado sugere que, independentemente do conteúdo do que se pensa, tem-se um fazer diferente, embasado não mais em afetos que temem descolar-se de uma Verdade única ou desobedecer a ela, mas sim em uma disposição humorística alinhada àquilo que o escritor Luigi Pirandello chama de "sentimento do contrário", isto é, uma paixão compadecida por ver no mundo apenas criação, qualquer que seja ela. O humor como ponto de largada para o pensar, por fim, parece-nos capaz de desmobilizar aquilo que se pensa de uma arrogância totalitária que se pretende senhora da Verdade.
O que me motiva nesta tese é investigar o que pode uma Educação que não tenha a Verdade como horizonte maior. Para tanto, procurei, em primeiro lugar, apresentar um panorama do quanto, em alguns textos clássicos da Pedagogia, a Verdade surge como palavra de ordem e objetivo máximo da formação e, exatamente por isso, acaba funcionando, quando tomada como absoluta, como parâmetro para o controle da circulação textual e opinativa. Em oposição a essa adesão àquilo que remete à certeza e à unicidade, recorri, a seguir, a três autores alinhados à Filosofia Trágica: Michel de Montaigne, Friedrich Nietzsche e Clément Rosset. Ao fazê-lo, tinha o intuito de analisar o que um pensamento dissociado daquilo que Nietzsche chama de "Vontade de Verdade" poderia trazer de relevante para as reflexões pedagógicas. A cada um destes autores, dediquei um capítulo específico neste texto. Do estudo de algumas passagens de Montaigne e de Nietzsche, emergiu uma compreensão mais adequada a respeito de como o abandono de uma verdade única abre o interesse pela multiplicidade interpretativa, a qual, por sua vez, instaura a "incerteza" como condição existencial, e não mais como estágio rumo a uma certeza qualquer. No pensamento de Rosset, além da noção de "acaso", busquei também o conceito de "desmobilização", a ele atribuído à Filosofia, mas que, nesta tese, parece-me fundamental, à luz da incerteza e do acaso, para elaborar gestos possíveis à Educação. A essa Educação, por fim, que leva a sério o acaso, a incerteza e que se propõe à desmobilização, e que, portanto, nada mais sugere do que uma modesta adesão à potência do presente, do aqui e do agora, dei o nome de "Pedagogia Menor".
Resumo A pandemia de Covid-19 promoveu, a toque de caixa dada a urgência do momento, a transposição para plataformas digitais de atividades escolares planejadas originalmente para o contexto presencial. No entanto, a substituição da arena em que as aulas ocorrem não é irrelevante, e, neste artigo, pretende-se mostrar como as características tecnológicas dos aplicativos utilizados tensionam o que, nos últimos séculos, vem se entendendo como escola. Para tanto, propõe-se, em primeiro lugar, uma visita ao momento do ressurgimento da escola durante o Renascimento e a relação desse evento com uma tecnologia específica, a prensa de tipos móveis de Gutenberg — os saberes livrescos, então, instituem a escola como um espaço diferente dos ambientes familiares e sociais, dando origem ao que se convenciona chamar de “Forma Escolar”. A partir daí, o artigo avança na argumentação articulando esse conceito ao de skholé , que concebe a escola como um espaço de suspensão das lógicas que vinculam as crianças e os jovens a uma identidade fixa e incontornável. Essa suspensão permite a eles uma desidentificação em relação a destinos pré-determinados e uma experiência de igualdade, de experimentação de si. Por fim, contrastam-se esses conceitos de “Forma Escolar” e de skholé com as condições de realização do ensino remoto durante a pandemia, e se colocam algumas questões sobre o que se espera da escola enquanto projeto coletivo.
Resumo Na profusão textual derivada da prensa de Gutenberg, Comenius e Montaigne elaboram reflexões pedagógicas que, de forma mais ou menos evidente, debruçam-se sobre a diversidade de opiniões e de interpretações e propõem como lidar com ela. O primeiro busca neutralizá-la afirmando a palavra divina como única e, portanto, critério para a definição do que é pertinente no interior das escolas; o segundo aposta na "frequentação do mundo" e na potência que essa variedade tem de dar contornos mais modestos e responsáveis àquilo que se sabe. Neste artigo, pretende-se apresentar esses dois encaminhamentos com vistas a refletir sobre como podem contribuir para pensar a sala de aula contemporânea também atravessada por múltiplos discursos, verdadeiros ou não, oriundos das tecnologias digitais.
Due to the moment’s urgency, the Covid-19 pandemic promoted the transposition of school activities originally planned for the face-to-face context to digital platforms. However, replacing the arena in which classes take place is not irrelevant, and this article intends to show how the technological characteristics of the applications used strain what, in recent centuries, has been understood as the school. To this end, we propose, firstly, a visit to the moment of the resurgence of the school during the Renaissance and the relationship of this event with a specific technology, Gutenberg’s movable type press — bookish knowledge, then establishes the school as a space different from family and social environments, giving rise to what is conventionally called “School Form.” From there, the article advances in the argument articulating this concept to that of skholé , which conceives the school as a space of suspension of the logic that binds children and young people to a fixed and unavoidable identity. This suspension allows them to disidentify from predetermined destinations and experience equality and self-experimentation. Finally, these concepts of “School Form” and skholé are contrasted with the conditions for performing remote teaching during the pandemic. Some questions are raised about what is expected of the school as a collective project.
During the textual profusion derived from Gutenberg’s press, Comenius and Montaigne elaborated pedagogical reflections that, more or less evidently, take the diversity of opinions and interpretations as an object and propose different ways to deal with it. The former tries to neutralize it by reinforcing the divine word as the only one and, hence, the reference to define what is important inside schools, whereas the latter proposes “experiencing the world” and the power of this variety to provide more modest and responsible outlines to what is known. This study aims to describe these viewpoints to reflect on how they may contribute to discuss contemporary classroom, which is also crossed by multiple discourses (whether true or not) originated from digital technologies.
O objetivo desta obra é estudar as diversas formas do terror – desde aquele exercido em casa até as diversas formas de terrorismo internacional atual – procurando desvendar as bases míticas, arquetípicas e simbólicas que as sustentam. Cada vez mais o terrorismo tem sido encarado como ameaça próxima, cotidiana, o que gera questões como: o que é o terrorismo, quem são os verdadeiros terroristas? Neste livro são discutidas as marcas do terror nas técnicas pedagógicas, nas relações de família, na arte e na religião e nas relações de trabalho. Perscruta-se a fronteira entre medo e sedução delineada pelo terror e a associação do terror com as figuras míticas, de Deus e do diabo, por exemplo. São analisadas a presença e as expressões da violência e do terror nas escolas.
Este artigo propõe uma discussão acerca daquilo que diz respeito ao exercício docente e que o distingue da simples transmissão de conteúdos. Nesse sentido, partimos do prognóstico realizado pelo CEO da OpenAI — empresa por trás da criação do ChatGPT, uma ferramenta digital de geração de respostas fluidas, coesas e coerentes — segundo o qual essa tecnologia, em alguns anos, substituiria os professores em salas de aula. Buscamos aqui refutá-lo caracterizando a relação do educador com seu objeto de saber naquilo que ela pode ter de singular. Valendo-nos das noções de "amor", de Jan Masschelein e Maarten Simons, e de "caráter", conforme trabalhada por Jorge Larrosa, argumentamos no sentido de que a ação docente, ao menos uma que possa, de fato, reivindicar-se como tal, não se limita à apresentação de respostas; em realidade, ela tem a ver com uma forma de responder ao mundo — em outras palavras, há uma espécie de responsabilidade por um mundo. Ao final, para ilustrar o que desenvolvemos de maneira mais teórica na primeira parte do texto, recorremos a uma lembrança compartilhada em entrevista pelo escritor Mia Couto a propósito de um professor da escola primária: a partir dos gestos desse docente, tomados aqui como uma lição, como uma narrativa exemplar, esboçamos contornos do que pode ser o exercício docente responsável e, portanto, não substituível por um instrumento meramente fornecedor de respostas.
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