Nota de esclarecimento: No dia 6 de dezembro de 2012, saiu no blog 1 um texto escrito pelo sociólogo Luciano Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), intitulado " 'O fetichismo do conceito' de Luís de Gusmão: notas de leitura", texto que foi publicada no ano seguinte pela revista Estudos de Sociologia, do Programa de pós-graduação da UFPE. Motivado pela indiscutível qualidade da resenha de Oliveira, que aborda com inteligência e bom humor algumas questões epistemológicas discutidas no meu livro, entre elas a da natureza da causação sociológica, escrevi o texto apresentado a seguir, cuja versão original apareceu no mencionado blog, em janeiro de 2013, com o título "Carta a Luciano Oliveira" (partes I e II). Nessa crítica da crítica, pude não só explicar, com novos exemplos, alguns aspectos centrais do livro O fetichismo do conceito, como também esclarecer melhor o que entendo por conhecimento teórico. Uma última observação: algumas passagens mais coloquiais, mais pessoais, da versão original foram aqui suprimidas.A o seguir a ordem de exposição encontrada em suas "notas de leitura", começo pela hipótese acerca de minhas supostas razões para tratar com implacabilidade e irreverência consagrados teóricos sociais. Na realidade, a dureza no tratamento dispensado a autores como Habermas e Bourdieu, para ficar apenas com os mencionados por você, expressa tão somente conclusões epistemológicas, amadurecidas nos últimos 20 anos de leituras e reflexões, formuladas num estilo que é o meu desde há muito tempo. Se você puder examinar um dia os meus exemplares das obras de Habermas, por exemplo, lidos mais atentamente nos anos 1990, verá que estão cobertos de iradas anotações, perto das quais o que você leu em O fetichismo do conceito parecerá suave e ameno. Confesso que realmente perdia a paciência ao atravessar toneladas de engenhosas argumentações para sustentar o insustentável, a saber, que os caminhos da verdade e do bem não apenas convergem como podem ser encontrados em mais um sistema filosófico particular produzido na Alemanha. De Habermas podemos afirmar a mesmíssima coisa que Nietzsche disse um dia da metafísica alemã mais antiga: do ponto de vista cognitivo, pouco vale, pois não é ciência genuína, nem muito menos verdadeira sabedoria. Eu poderia passar dias, acredite, justificando circunstanciadamente essa dura conclusão. A extrema irritação com a leitura passava toda para o papel.