Esse artigo se propõe a fazer uma leitura historiográfica da peça Calabar – O elogio da traição de Chico Buarque e Ruy Guerra, escrita entre 1972-1973, dando especial atenção aos variadores sentidos políticos atribuídos à traição. Através de recursos dramatúrgicos, da didascália, e do retrato dos diversos personagens, a traição de Calabar é colocada em perspectiva no texto da peça, criando circunstâncias que permitem um tratamento ambíguo de suas ações, e que levam, eventualmente, a uma certa inversão de sinal quanto ao seu significado político: de traidor a herói. Ao mesmo tempo, essa inversão altera o significado das ações dos demais personagens, que são pouco a pouco revelados sujeitos conformados e, mesmo, oportunistas. A proposta do artigo é a de pensar como essas escolhas estéticas e políticas foram historicamente calcadas na experiência de viver sob a ditadura militar brasileira, e deliberadamente transformadas em anacronismo, de modo a sugerir analogias tanto sobre os opositores do regime militar de então, quanto aos seus apoiadores mais discretos.
No verão de 1936, o romancista John Steinbeck viajou a soldo do jornal The San Francisco News para cobrir o fenômeno dos migrantes que se apinhavam pelas estradas da Califórnia e dos Estados Unidos no rescaldo dos dust bowls e da crise de 1929. Como resultado da viagem, Steinbeck escreveu sete artigos que foram publicados em outubro de 1936 e batizados de "Os ciganos da colheita". Esses textos têm grande valor documental sobre os efeitos sociais da recessão econômica e, esse é nosso argumento, participaram de maneira fundamental da mudança de perspectiva da literatura de Steinbeck, tornando-a mais politicamente engajada e esteticamente realista. O propósito desse artigo é entender como a experiência do verão de 1936 alterou a percepção crítica de Steinbeck acerca da realidade estadunidense, entendendo que os migrantes foram fundamentais nesse processo, visto que explicitaram o parentesco histórico entre os trabalhadores e as antigas classes médias rurais às quais o escritor pertencia. Essa descoberta realçou o clamor democrático de sua literatura, o qual culminou no maior romance sobre a Grande Depressão: As vinhas da ira de 1939.
Tradução do artigo "Cash is good to eat - Self-sufficiency and exchange in Early America". Autorização para publicação em português enviada para o email da revista Tempos Históricos
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