Esta pesquisa surge de inquietações relacionadas ao sofrimento psíquico gerado pelo racismo. No Brasil, vivenciamos o enraizamento do racismo estrutural, ainda que mais da metade da população seja negra. A atuação da psicologia frente ao combate a discriminação racial faz parte do Código de Ética profissional. Entretanto, a história da profissão é marcada pela ênfase na saúde mental de pessoas brancas. A construção da Psicologia, em uma perspectiva eurocentrada, traz implicações para a atuação profissional frente ao racismo até os dias de hoje. As demandas da população negra foram, por muito tempo, desvalorizadas, resultando em um despreparo dos profissionais em acolher e legitimar o sofrimento psíquico derivado das vivências raciais. O objetivo desta pesquisa foi compreender os desafios e as perspectivas de psicólogos (as) negros (as) no que se refere à atuação profissional relacionada as relações raciais. O método da pesquisa foi qualitativo, utilizando como instrumento entrevistas semiestruturadas. A pesquisa envolveu um trabalho de campo de três meses com seteprofissionais da psicologia negros (as), atuantes em atendimento clínico no Distrito Federal. Os (as) entrevistados (as) foram recrutados (as) por amostra por conveniência, através da rede de relações profissionais dos pesquisadores. A seção discussão foi dividida em dois eixos temáticos, sendo eles: (I) Perspectivas e desafios da trajetória de formação e como sujeito negros; (II) Estratégias de atuação profissional no atendimento a pessoas negras. No primeiro eixo, os resultados apontam para a invisibilidade da temática das relações raciais nos espaços acadêmicos, tanto no que diz respeito aos aspectoss teóricos das abordagens psicológicas, bem como pela quantidade de estudantes negros presentes na graduação. Assim, defende-se a descolonização da psicologia, através do fortalecimento da interface entre psicologia e relações raciais, que pode contribuir para mudanças na grade curricular, incluindo autores (as) negros (as) no currículo de Psicologia. E, para além disso, incorporar na graduação produções científicas sobre a temática e alguns dos principais psicólogos (as) negros (as) que têm abordado esse fenômeno na prática profissional. No segundo eixo, discutiu-se a importância do reconhecimento do racismo e seus desdobramentos na saúde mental da população negra. Além disso, trata-se do dever da categoria profissional em rever as práticas de atuação tradicional. Nas considerações finais, tecemos comentários o fato de que a pesquisa nos aponta que a construção de uma Psicologia antirracista deve ser praticada por todos (as) profissionais, brancos (as) e negros (as).
Fundamentada na Teoria das Representações Sociais e na literatura sobre processos identitários da Psicologia e das Ciências Sociais, a pesquisa, de epistemologia qualitativa, teve como objetivo analisar as representações sociais sobre maternidade nas trajetórias de mulheres que decidiram não ser mães. Em termos metodológicos, foram realizadas seis entrevistas semiestruturadas com mulheres de idades entre 18 e 63 anos, residentes do Distrito Federal. Dentre as seis participantes, duas eram mães, uma desejava ser e três optaram por não ter filhos. Os resultados do estudo indicaram que o fenômeno da não maternidade vem ganhando cada vez mais espaço na atualidade, demonstrando, não só, uma nova possibilidade de vivenciar o ser mulher, mas também no modo como essas mulheres são representadas. A ideia de maternidade enquanto uma escolha foi consenso entre as participantes. Contudo, foi possível identificar nos discursos dessas mulheres que a maternidade ainda aparece enquanto um elemento estruturante da identidade feminina, visto que os estereótipos de gênero ainda cumprem uma função de normatizar e reafirmar papéis sociais, que acabam resgatando crenças e práticas pautados em ideais ligados a noção de feminilidade. Esse pensamento, muito comum e difundido no imaginário social, acaba dificultando a aceitação social de mulheres que não enxergam a maternidade como algo fundamental em suas vidas. Diante disso, a pesquisa demonstrou que existem desafios a serem superados no universo da não-maternidade, já que a escolha envolve uma série de fatores e consequências para a vida da mulher que toma essa decisão. A inserção mais ampla do fenômeno da não-maternidade no nosso contexto cultural é provocadora porquê implica mudanças estruturais mais profundas, revelando que as representações sociais sobre a não-maternidade são apenas um pedaço da ponta do iceberg.
A presente pesquisa parte da crítica à patologização no campo da saúde mental que,apesar dos avanços da Reforma Psiquiátrica, ainda se faz presente em práticas institucionaisque influenciam crenças sociais. No estudo a saúde foi compreendida como processo econceituada de acordo com a Teoria da Subjetividade. O estudo também leva emconsideração o cenário social brasileiro em que, apesar da presença da religião na cultura,experiências que se distanciam do cristianismo permanecem alvo de preconceitos e suaspráticas são historicamente associadas ao adoecimento psíquico. Assim, compreendeu-se anecessidade de se estudar as relações entre mediunidade e saúde mental no contexto daUmbanda, religião nacional caracterizada pelo sincretismo que, entre suas práticas promoveatendimentos espirituais realizados por médiuns, indivíduos que permitem que seus corpossejam controlados por entidades, espíritos de pessoas mortas que procuram a evoluçãoespiritual a partir desse processo. Para tal foi utilizada a metodologiaconstrutivo-interpretativa, a partir da Epistemologia Qualitativa. Foram realizadas dinâmicasconversacionais com médiuns de um terreiro de Umbanda do Distrito Federal. A partir dosestudos de caso foi possível levantar duas principais hipóteses, a primeira diz respeito àressignificação de conceitos relativos à saúde e doença e a segunda corresponde àcompreensão da mediunidade como fator protetivo da saúde mental. Dessa forma, otrabalho possibilitou o aprofundamento do tema.
Ao constatarmos empiricamente a grande incidência de grupos de homens,principalmente, os perfis de grupos terapêuticos e temáticos atualmente no Brasil,propusemo-nos a identificar e compreender, a partir da interface entre Ciências Sociaise Psicanálise, as práticas desses tipos de grupos de homens em Brasília (DF) no que tange a ressignificação da masculinidade hegemônica. Neste sentido, buscamos entenderformatos e metodologias produzidas nos grupos pesquisados, bem como suas origens eimpactos na vida dos participantes. Analisamos, ainda, como os participantes de gruposde homens em Brasília (DF) percebem o sofrimento psíquico masculino gerado pelamasculinidade hegemônica em sua biografia, e como os homens coordenadores eparticipantes desses grupos percebem suas performances masculinas. Em termosmetodológicos, pesquisa, de tipo qualitativa, foi realizada por meio da realização deentrevistas semiestruturadas com sete homens participantes e coordenadores de gruposde homens terapêuticos e temáticos em Brasília (DF) há pelo menos um ano. Concluímosanalisando os atravessamentos da masculinidade hegemônica na vida dos homens e abusca por transformações como sujeito; o funcionamento dos grupos de homens; e apossível transformação provocada pelos grupos. Os resultados do estudo indicaramlimites e possibilidades de ressignificação de masculinidades no contexto dos grupos dehomens. Consideramos importante afirmar que os grupos de homens terapêuticos etemáticos constroem possibilidades de ressignificação de processos pessoais queenvolvem o cuidado de si e a construção de performances masculinas alternativas aomodelo hegemônico de masculinidade contemporânea. Uma importante ponderação a serfeita em relação a experiência de homens em grupos de homens terapêutico e temáticos,no entanto, diz respeito a ausência, em alguns grupos, de debates críticos sobre temassensíveis sobre masculinidades e em alta na esfera publica contemporânea, tais como omachismo e seus efeitos homofóbicos, sexistas e transfóbicos e a violência contra asmulheres.
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O presente estudo teve como objetivo identificar e analisar os diferentes tipos de microagressões LBGTQ+ em filmes e séries de grande alcance, bem como analisar o impacto das mesmas à saúde mental de pessoas LGBTQ+ que assistem a esses conteúdos. Em termos teóricos, a pesquisa ancorou-se nas bases da Psicologia Cultural, especialmente, na literatura internacional sobre microagressões, microinvalidações, microinsultos e microataques e fez ponte com as interfaces entre Psicologia e Ciências Sociais no debate sobre as interrelações entre sexo, gênero e sexualidade, a população LGBTQ+ e sua saúde mental. A pesquisa, de tipo qualitativa, propõe-se a realizar uma análise cultural de cenas significativas das séries Glee e Friends, e do filme “Se Beber Não Case 2”, bem como realizou entrevistas semiestruturadas com estudantes universitários LGBTQ+ abordando seus sentimentos em relação às cenas escolhidas e similares e discutindo os possíveis efeitos de microagressões na saúde mental de pessoas LGBTQIA+. Como resultados da pesquisa, construiu-se duas categorias: as percepções dos tipos de microagressões vivenciadas pela comunidade LGBTQ+; e os efeitos subjetivos e estratégias adotadas pela comunidade LGBTQ+ diante das microagressões percebidas em programas televisivos. As repercussões psicológicas das microagressões deixam marcas significativas nas vítimas por serem veladas, apresentarem barreiras à reação das vítimas e, muitas vezes, utilizarem-se do humor como forma de mascarar o preconceito. Associações a hiperssexualização e patologização de cultura e valores LGBTQ+ são constantes na vivência dos entrevistados, que apontam buscar sua estratégia de consumo de séries e filmes que tendem a não naturalizar tais associações, tal como ocorre com os materiais analisados. Enfatiza-se com a pesquisa a importância de um olhar atento para o fenômeno do sofrimento psíquico derivado da reprodução de microagressões a LGBTQ+ na mídia, que reproduz e naturaliza a sua incidência no cotidiano dessas pessoas.
Esta pesquisa é fundamentada na psicologia, na Lei Maria da Penha, em estudos sobredireitos humanos, violência contra as mulheres e nas alterações presentes na rede deatenção a mulheres, no período da pandemia, no Brasil e tem como objetivo entender comoo sistema de atenção a mulheres vítimas de violência se adaptou para continuar prestandoserviços multidisciplinares à comunidade. Por meio da metodologia qualitativa, foramrealizadas sete entrevistas semiestruturadas com profissionais que atuam no sistema deatenção às mulheres vítimas de violência em diferentes níveis, sendo 6 mulheres e 1 homemcom idades entre 24 e 58 anos residentes no Distrito Federal. Para análise das informações,foi utilizado o método de Bardin. Os resultados foram agrupados em dois eixos temáticos: aadequação dos atendimentos e os desafios do trabalho da rede na pandemia; asperspectivas e os desafios após as mudanças na rede derivadas da pandemia. Foiidentificado que os atendimentos foram adequados ao mundo virtual, o que, por um lado,gerou inclusão e adaptação no acolhimento a mulheres, contudo, por outro, gerou desafiospela proximidade constante com familiares e amigos e pelo acesso a aparatos eletrônicos edigitais. O resultado para as mulheres que precisaram do sistema de apoio foi a redução dosespaços de escuta e acolhimento. Além disso, foi assinalada a necessidade de esforçoconjunto da rede em estabelecer estratégias de aproximação das mulheres vítimas deviolência. Ademais, no âmbito das perspectivas e dos desafios após mudanças derivadas dapandemia, foram constatados aspectos positivos após as mudanças no trabalho da rede deatenção, como a digitalização dos materiais educativos em direitos humanos epsicoeducação e o uso de aparatos online como importante ferramenta para promoção deacolhimento e acompanhamento de mulheres vítimas de violência. Em contrapartida, algunsdesafios apresentam-se após as mudanças no trabalho da rede de atenção, tais como oacesso ao mundo digital por parte das mulheres vítimas, das dificuldades no que tange àadequação do acesso à informação e do uso de uma linguagem que seja acessível. Diantedisso, a pesquisa demonstrou alguns limites: a dificuldade e o desafio de encontrar outrosprofissionais disponíveis para participar da pesquisa, o período de realização do trabalho e ocampo de realização da pesquisa ter-se restringido apenas ao Distrito Federal. Por fim, comocaminho futuro de pesquisas acadêmicas, foi apontada a necessidade de investigar o alcancedas políticas de prevenção à violência contra a mulher, após toda a mudança e reorganizaçãoda rede.
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