RESUMO: Este texto propõe uma leitura de processos infantis de inserção e participação na cena social em novas configurações de institucionalização da infância, em especial a Educação (em tempo) Integral. Os dados analisados foram gerados em uma etnografia multiespacializada de cotidianos infantis, realizada com crianças de seis a oito anos de idade, em uma escola pública de Belo Horizonte. Serão apresentados episódios que contribuem para a compreensão dos condicionamentos estruturais que conformam a experiência da infância e dos significados que as crianças atribuem às suas vivências. As reflexões propostas centram-se nos paradoxos que marcam as infâncias contemporâneas; nos desafios de uma educação que supere o restrito status de aluno; e na análise sobre os direitos das crianças. Pretendese, ao trazer a diversidade e complexidade dos mundos sociais das crianças, interrogar as politicas públicas e fazer emergir impactos e tensões que sofrem as crianças -atores sociais -em uma sociedade desigual. Palavras-chave: Crianças. Infâncias. Educação Integral. CHILDHOOD AND CHILDREN IN INTEGRAL (FULL-TIME) EDUCATIONABSTRACT: This essay proposes a reading of children's social inclusion and social participation processes through the analysis of new ways of institutionalizing childhood, in particular, integral (full-time) education. The fieldwork of the case study consists of a multi-sited ethnography of children's daily lives, conducted with children from six to eight years old in a Belo Horizonte public school. Episodes will be presented as a contribution to the understanding not only of structural constraints on children's experience, but also of the way children give meaning to their experiences. Our reflections concentrate on the paradoxes that shape contemporary childhoods and on the challenges of an education than can overcome the limited status children are given as mere students, by analyzing their rights. Focusing on the complexity of children's social worlds, it is necessary to raise questions at public policies, highlighting the impacts and the tensions suffered by children as social actors in an unequal society.
Neste texto nos propomos a discutir o protagonismo infantil a partir da análise da inserção de crianças em dois movimentos sociais brasileiros: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o movimento das ocupações urbanas no contexto das grandes cidades brasileiras. Para tal, iremos abordar as condições de participação e/ou protagonismo das crianças no interior desses movimentos, os quais têm como sujeitos as famílias, na luta por terra, trabalho e moradia. Inicialmente, iremos situar o conceito de protagonismo, dialogando com os estudos sobre direitos da criança e da sociologia da infância. Posteriormente, iremos analisar em cada movimento as condições do exercício do protagonismo infantil. No caso do MST, nossa análise será centrada no estudo da produção cultural da/para a criança e nas diferentes dinâmicas de sua participação no processos de preparação e realização dos encontros das crianças Sem Terrinha. No caso das ocupações urbanas, iremos contemplar em que medida a dimensão de cidadania na infância pode instaurar um protagonismo da infância na pauta de reivindicações do movimento e na própria dinâmica de luta. Desse modo, pretendemos avaliar as condições e os limites do protagonismo infantil no interior desses movimentos sociais contemporâneos, bem como os desafios epistemológicos na apreensão dos conceitos de protagonismo e participação à luz de ambos os movimentos.
Resumo: O presente artigo tem como objetivo localizar o surgimento do Programa Mais Educação (PME) no contexto político-educacional latino-americano e analisar as consequências sociais desta experiência para crianças e jovens pobres no Brasil. Tais discussões são realizadas à luz da Reforma do Estado dos anos 1990, bem como dos estudos sociais da infância e juventude. Este trabalho tanto aponta no PME evidências da incursão neoliberal vivenciada pela América Latina, marcada por rupturas, permanências e retrocessos, quanto permite identificar legados desta política quanto à ampliação do direito à educação, ao inaugurar uma concepção de educação integral centrada nas crianças e jovens, suas culturas e territórios.
Resumo Este artigo analisa a participação da criança em ações coletivas, em diálogo com a produção acadêmica acerca do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR) e os Sem Terrinha, coletivo infantil vinculado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O texto busca desvelar a participação das crianças em cada movimento, na tensão entre os marcos legais sobre os direitos da criança e suas experiências concretas. Ao buscar compreender o significado de fazer os direitos das crianças em sua vida cotidiana, destaca-se, em cada movimento, a perspectiva da governança de direitos, da relação com o Estado e a dimensão política. Procurou-se discutir as concepções de participação e protagonismo tensionadas pelas relações hierárquicas de poder entre adultos e crianças, tanto na organização e gestão dos movimentos quanto na legitimação dos discursos. Assim, o trabalho contribui para as teorizações dos estudos dos movimentos sociais e de ações coletivas demonstrando que os conceitos de agência e participação não podem ser tomados como pressupostos apriorísticos, mas que demandam análise das condições e contradições para sua efetivação. Nessa direção, a compreensão da criança como ator social revela-se, em ambos os movimentos, como forma de superação do lugar de vítima para o lugar de sujeito que luta coletivamente por seus direitos.
O número temático "Crianças, Infâncias e Pandemia" surge numa conjuntura histórico-cultural profundamente marcada pela pandemia da Covid-19, que afeta há mais de dois anos todo o globo, obviamente de formas desiguais, sem que se tenha ainda clareza de sua extensão e seus efeitos futuros.A pandemia da Covid-19 constitui um fenômeno social contemporâneo inédito, pela radicalidade de sua circulação, de contágio e da intensidade dos seus efeitos. Num mundo globalizado, ainda que tais efeitos atravessem fronteiras, a experiência da pandemia mostra-se significativamente diversa, de acordo com as condições sociais e as políticas nacionais e locais de enfrentamento. Verifica-se que a pandemia intensificou a concentração de renda, penalizando especialmente as populações mais pobres, tanto no número de óbitos quanto na piora da qualidade de vida. As condições estruturais, em que se destacam o efeito das desigualdades socioeconômicas, étnico-raciais e de gênero, informam como esta experiência é vivida pelos distintos grupos sociais e indivíduos. A esses aspetos achamos importante acrescentar a dimensão geracional que, considerada intersetorialmente, coloca as crianças em situações especiais de risco.Nesse sentido, apesar de, num primeiro momento, ter-se desvalorizado o impacto dessa pandemia na vida das crianças, dado que os efeitos imediatos em termos de saúde não pareciam significativos, à medida que a situação pandêmica se foi alastrando, no espaço e no tempo, os efeitos nesse grupo geracional começaram a surgir. Destacam-se a alteração radical do cotidiano infantil, das relações com espaços públicos e privados, do acesso às redes de proteção, da convivência intra-e intergeracional, como também dos direitos à educação, ao lazer e à participação.Observa-se que, nesse contexto, as políticas públicas e as práticas sociais dirigidas à infância têm sido formuladas sem a escuta das crianças, inclusive por constituírem o grupo etário com menos canais institucionalizados de participação política. A interrupção ou continuidade (por meio do ensino remoto) dos processos de educação escolar e o funcionamento dos espaços de lazer e cultura foram sendo definidos por médicos, políticos e educadores, sem que tenha sido feita uma escuta das crianças, quer sobre suas demandas, quer sobre sua avaliação dos efeitos dessa radical transformação de seu cotidiano. Observa-se a repetição de uma menorização da criança, reduzida a objeto e não a sujeito de ações voltadas para seu bem-estar. Por outro lado, ao longo desse período que temos vivido em situação pandêmica, tem sido extremamente significativo o esforço que a academia tem feito no sentido de realizar pesquisa que permita registar e caracterizar esse fenómeno.Surgiram números temáticos de revistas especializadas -de que são exemplo a Revista Sociedad e Infancias de 2020, que, no seu Volume 4, "Las infancias en el foco de la investigación y vivencias infantiles de la pandemia", reúne um conjunto de trabalhos de autores portugueses, brasileiros, espanhóis e da América Latina, trazendo-nos uma
RESUMO O artigo discute os sentidos da escola para crianças de 8 a 12 anos durante a suspensão das aulas em virtude da pandemia da Covid-19. A compreensão dos pontos de vista das crianças sobre a escola se sustenta no reconhecimento dos seus direitos e da sua capacidade de participação na vida social, conforme tem sido demonstrado pelos estudos sociais sobre a infância. São analisados dados de pesquisa com 2.021 crianças da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Os resultados indicam que as crianças compreendem a escola como espaço com funções amplas, que inclui aprendizagens, cuidado e sociabilidade.
Este texto apresenta o dossiê “A infância Urbana nas ciências sociais: problemáticas e desafios metodológicos”. Seu objetivo é situar as principais questões que caracterizam os estudos das relações entre a infância e a cidade. Em uma primeira parte, indicamos como os estudos urbanos (Seixas 2003; Harvey 2008; Fernandez Martorell 2009) e os estudos da infância (Balagopalan 2019; Castro Seixas 2021; Sarmento 2018) assumem interfaces na análise de temáticas como: o direito à cidade pelas crianças; apropriação do espaço e participação infantil na cidade; desigualdades socioterritoriais e infância; e as crianças como atores políticos na cidade. Na segunda parte, sugerimos uma breve sistematização dos textos, em diálogo com pesquisadores portugueses, espanhóis, brasileiros, argentinos e ingleses colocando em evidência a interdisciplinaridade e a denúncia. Busca-se, com este trabalho, colaborar nos debates contemporâneos sobre as múltiplas infâncias urbanas que se constroem nos diferentes espaços da cidade e nas diferentes cidades do mundo evidenciando desafios metodológicos e epistemológicos e éticos.
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