e excludentes com a reconfiguração das relações entre capital, Estado e sociedade, desenhada desde os anos 1980-1990. O Projeto Porto Maravilha, inserido nesse contexto, apresenta uma contradição fundamental: ao mesmo tempo em que seus promotores se apressam em divulgar imagens daquilo que se tornará uma cidade asséptica e isenta de antigos conflitosimagens centrais para a atração de investidores e de "usuários solventes" (VAINER, 2009(VAINER, [2000) -, assistimos ao agravamento dos mesmos conflitos nos últimos anos.Este artigo é uma síntese de um dos eixos de uma pesquisa mais ampla (GIANNELLA, 2015) que intencionou compreender esses conflitos a partir de uma perspectiva teórica que partisse do materialismo histórico e dialético e dialogasse com o entendimento das relações de poder na produção do espaço urbano. Os autores centrais para essa investigação foram Henri Lefebvre, David Harvey, Michel Foucault, John Holloway e, para tratar especificamente das novas formas de mobilização no contexto latino-americano, Raul Zibechi.Neste texto, enfatizaremos, em particular, a dimensão das diversas formas de luta pelo espaço, configuradas no contexto de acirramento de conflitos. As lutas e sujeitos trazidos aqui derivam da nossa observação participante do/no Fórum Comunitário do Porto (FCP), coletivo formado em 2011 e que atuou na denúncia de violações dos direitos das populações afetadas pela intervenção do Porto Maravilha e na articulação interinstitucional para a defesa de seus direitos. É desse lugar que falamos, ainda que não nos posicionemos como representantes do coletivo ou de qualquer um dos sujeitos que o compuseram. Dessa forma, a metodologia da pesquisa tem como eixo central essa experiência. Contudo, recorremos também à análise de documentos produzidos coletivamente pelo FCP e/ou por organizações que o formaram, bem como a entrevistas semiestruturadas com os sujeitos abordados 3 .Buscaremos, aqui, responder às seguintes indagações: (i) A partir de quais estratégias têm-se desenrolado as diversas formas de luta pelo espaço elencadas na investigação?; (ii) O que essas lutas evidenciam em termos de concepções sobre o urbano?; (iii) Quais sujeitos estão envolvidos nesse processo de luta e quais conquistas podem ser consideradas?; (iv) Quais limites e desafios se colocam para essas lutas e quais contradições internas elas apresentam?Vale ressaltar, de antemão, a importância de submeter à análise os novos processos de mobilização, de construção de contrapoderes e de fissuras 4 . Como aponta Raul Zibechi (2007;, na América Latina, saltam aos olhos os novos movimentos sociais e as novas formas de luta. Esses movimentos -fluidos, flexíveis, abertos, não hierárquicos -lutam contra relações de poder que se inscrevem no cotidiano. O espaço urbano, em especial, é lócus privilegiado de análise, uma vez que, de acordo com Zibechi, tais movimentos se constroem e mobilizam-se a partir da potência que existe no próprio processo de produção do espaço. Este é produzido, dialeticamente, como obra e produto, valor de uso e valor...