No Brasil, o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) é a ferramenta central para coletar e consolidar informações sobre o estado nutricional e alimentação da população atendida pelos serviços de atenção básica no país. Este trabalho explora dados do SISVAN com o objetivo de analisar o potencial do sistema como ferramenta de monitoramento do estado nutricional de crianças e adolescentes no país. Procura-se avaliar a evolução da taxa de cobertura do sistema em relação à população para diferentes faixas etárias e regiões geográficas, como essa taxa de cobertura varia conforme as características dos municípios brasileiros e em que medida os resultados provenientes do SISVAN diferem de pesquisas amostrais representativas da população. Apresentamos quatro principais resultados. Primeiro, documentamos que, entre 2008 e 2019, o SISVAN expandiu significativamente a sua cobertura, mas houve uma queda expressiva em 2020 até níveis similares aos do início da série. Segundo, nossos resultados apontam que a cobertura não é homogênea, sendo maior nas regiões Norte e Nordeste e entre crianças de menor idade. Terceiro, existe uma associação sistemática entre características dos municípios e o nível de cobertura do sistema. Por último, os resultados do SISVAN divergem dos apresentados por pesquisas representativas da população geral. Em conjunto, os resultados deste estudo apontam para a necessidade de refinar os instrumentos de vigilância nutricional sobre crianças e adolescentes no Brasil.

Nesse artigo, analisamos o programa Previne Brasil, responsável pela distribuição de recursos do financiamento da Atenção Primária à Saúde no Brasil, e comparamos o novo modelo com o seu predecessor, o Piso da Atenção Básica (PAB). Nossos resultados indicam que os recursos destinados ao Previne, por meio do custeio regular da atenção básica, se mantiveram estáveis. Apesar de existir uma forte correlação entre o total de recursos recebidos por municípios entre os dois programas, encontramos pequena redistribuição de recursos entre os municípios quando comparamos Previne e PAB. As características dos municípios previstas nos incentivos do Previne (e.g. tipologia do municípios e número de beneficiários do bolsa família e BPC) explicam a maior parte da redistribuição de recursos. Entretanto, para municípios com mesmas características, o novo programa penaliza municípios com contingente populacional maior e com renda per capita menor. Por fim, nossa análise indica que os municípios responderam aos incentivos do programa nos componentes de capitação ponderada e pagamento por desempenho. Para o componente da capitação ponderada, a razão entre cadastros realizados e potencial era de 75% no início do programa e, em julho de 2022, já alcançava 93%. Em relação ao componente de desempenho, a maioria dos municípios se encontra abaixo da meta para os indicadores monitorados pelo Previne. Apesar disso, há trajetória de melhora para os indicadores relacionados à gestação e pré-natal e não observamos prejuízos aos serviços de saúde não relacionados ao Previne.

Background Violence is a worldwide public health challenge and has been linked to depression in many settings. Depression is higher in women and differential exposure to violence is a potential risk factor – especially in countries with high-levels of violence. This paper provides a comprehensive characterization of the association between violence victimization and depression in Brazil, focusing on sex/gender inequalities. Methods We used data from the 2019 wave of the National Health Survey (PNS) in Brazil to assess whether respondents had depression (using PHQ-9) and if they were victims of violence, differentiating by the type of violence, the frequency of victimization, and the primary aggressor. We used logit models to assess the association between victimization and the likelihood of having depression. We predicted probabilities of being depressed, considering the interaction between violence victimization and sex/gender, to analyze the differences between men and women. Results Rates of violence victimization and depression were higher among women than among men. The odds of being depressed were 3.8 (95%CI: 3.5–4.2) times higher among victims of violence than among non-victims, and 2.3 (95%CI: 2.1–2.6) times higher among women than among men, adjusting for socioeconomic factors. For any given income level, racial/ethnic or age group, victims of violence who were women had the highest predicted probabilities of being depressed – e.g., 29.4% (95%CI: 26.1–32.8) for lower-income women, 28.9% (95%CI: 24.4–33.2) for black women, and 30.4% (95%CI: 25.4–35.4) for younger women that suffered violence. Over one in three women that suffered multiple types of violence, experienced violence more frequently, or where the aggressor was an intimate partner or another family member were predicted to have depression. Conclusions Being a victim of violence was strongly associated with higher risk of depression in Brazil, with women more likely to be both victims of violence and develop depression. Frequent, sexual, physical or psychological violence, and intimate partners or family member perpetrators were major risk factors for depression and should be a public health priority.