Este artigo analisa as atas do I Congreso Panamericano de la Vivienda Popular com o objetivo de precisar os significados atribuídos ao ato de habitar debatidos pelos profissionais reunidos em Buenos Aires no ano de 1939. O evento, capitaneado pela União Pan-Americana, é encarado como ponto de inflexão de uma série de publicações e encontros realizados nas décadas anteriores que elegeram a habitação como central para os projetos de modernização nacional. Por meio do congresso, é possível observar como os delegados se valiam das práticas pan-americanistas em voga na primeira metade do século XX para, de uma só vez, tornarem a habitação uma obrigação do Estado e relacioná-la aos desdobramentos da guerra e a elaboração de um lugar de destaque para a América em meio à geopolítica do período entreguerras. A partir dos debates ocorridos em função desse congresso, é possível, ainda, destacar uma série de instituições transnacionais criadas em prol de tornar permanente a pauta da habitação entre os países americanos.
O presente artigo pretende debater a importância do urbano e das cidades nos projetos políticos de integração continental capitaneados pela União Pan-Americana. A análise de algumas edições dos Boletins da União Pan-Americana e da historiografia dedicada ao pan-americanismo tem como objetivo sublinhar a relação metonímica entre as nações americanas e suas cidades. A realização de uma série de congressos e conferências indica como a instituição, sediada em Washington D.C., congregou disciplinas e práticas em prol do mapeamento e catalogação das diferentes tradições identificadas no continente, apaziguadas a partir do ideal de cooperação e da retórica de solidariedade americana. Essa conciliação era operada por meio do liberalismo, pressuposto para as práticas pan-americanistas, ao qual pretende-se estabelecer uma crítica. Em meio a essa trama, a arquitetura e os arquitetos ocuparam um lugar privilegiado e formularam perspectivas profissionais que se valiam desse projeto interamericano para estabelecer uma rede e garantir o debate permanente sobre as cidades americanas no âmbito dos Congressos Pan-Americanos de Arquitetos.
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