RESUMO O artigo elege a “juste image” de Godard para uma revisita crítica à tese da irrepresentabilidade da Shoah. Nesse caminho, faz o reconhecimento de uma arte da dor godardiana e da montagem em catástrofe aí envolvida para suspeitar dos argumentos, principalmente cinematográficos, que amparam a referida tese. Quer-se mostrar sua transigência em relação à palavra, donde a importância que dá às literaturas ditas do Testemunho, e sua redução a uma iconoclastia supersticiosa, a ser considerada datada. Juntamente com a referência elegante da obra crítica de Godard e dos trabalhos de Georges Didi-Huberman sobre o cineasta, a arguição tem por horizonte teórico os clássicos apontamentos do impasse de linguagem das artes tardias.
A mais de meio século da publicação de O grau zero da escritura e a trinta anos do desaparecimento de Roland Barthes, ensaia-se aqui um exame da obra princeps, uma das mais radicais da crítica contemporânea e, bem por isso, uma das mais intrigantes. O presente artigo constitui-se de notas para um acercamento das principais influências ativas sobre o primeiro Barthes e das principais literaturas no horizonte desta nova crítica, quando ela principia, em 1953. Trata-se também de uma tentativa de pequena gênese do conceito de "grau zero", estranho ao corte saussuriano da escola das estruturas. Destas notas, espera-se que encaminhem um argumento em defesa da ideia de que, antes que erráticos, os escritos barthesianos são percorridos por uma linha de força representada pelo "grau zero", que nada mais é que o "neutro". A esse conceito sui generis - em sua última versão grafado com maiúscula - seria inteiramente dedicado o penúltimo curso no Collège de France. Podemos dizer que ele fecha um círculo virtuoso.
Joga-se com a idéia de que os poemas em prosa de Baudelaire relacionam-se agressivamente com As Flores do Mal, ao retomá-las em enunciados narrativos, ainda que sob a alegação da busca de uma nova musicalidade. Institui-se assim um interessante conflito de códigos na poesia baudelairiana. Mais que isso, através da noção de linguagem poética, impõe-se a prosificação à melhor posteridade.
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