Este artigo tem por objetivo refletir sobre a temática Educação Ambiental e Culturas, com ênfase nos trabalhos apresentados desde o primeiro Encontro Pesquisa em Educação Ambiental (EPEA), em 2001, até as reflexões ocorridas no Grupo de Discussão de Pesquisas (GDP) desse subcampo de pesquisa, durante o X EPEA, realizado em 2019. Para além de trazer um relato das discussões, o artigo se debruça sobre a evolução das temáticas dos trabalhos relacionados às culturas, apresentados nas quatro primeiras edições do EPEA (2001-2007), em um modesto estado da arte realizado por meio de termos de busca ligados à temática, presentes em seus resumos. Constatamos que, nesse período, as investigações estavam ligadas predominantemente às categorias cultura e saberes, que foram contempladas por trabalhos em todas as edições. Os temas dos Estudos Culturais, Inter/ multiculturalidade e Colonialidade não estiveram presentes nas investigações desse subcampo apresentadas no EPEA, no período, sendo necessário aprofundar a extensão desse fenômeno em revistas e bancos de dissertações e teses, bem como avaliar os desdobramentos epistemológicos e sociopolíticos da atenção que tem sido conferida pelo campo da pesquisa em Educação Ambiental às perspectivas que reconhecem e conferem a voz às diferentes culturas, visando superar os processos de silenciamento que impedem a participação plena nos processos decisórios e na vida social. Temáticas tais que aparecem recentemente no GDP EA e Culturas que valorizam a dialogicidade e a inter/multiculturalidade, com críticas à colonialidade e ampliando as possibilidades epistemológicas, político-metodológicas e ontológicas da Pesquisa em Educação Ambiental.
O presente artigo tem por objetivo analisar teses e dissertações brasileiras em Educação Ambiental com comunidades/populações tradicionais, identificando as denominações usadas para os grupos sociais foco das produções e o respeito à autoidentificação das mesmas. Fez-se uma seleção das produções encontradas no banco do projeto “EArte Brasil” e no banco da Capes e da BDTD. A pesquisa qualitativa, do tipo “estado da arte” analisou vinte e nove teses e dissertações, das quais somente sete fazem referência à “autoidentificação” das comunidades. A designação feita por pessoas externas às comunidades pode determinar que os grupos sociais que recebem a denominação sejam vistos como “passivos”. Tais representações são comuns no contexto das Ciências Sociais herdeiras do colonialismo ocidental que deixa de reconhecer seu papel nos processos de dominação global. É necessário construir diálogos horizontais nas pesquisas para dar visibilidade à realidade das comunidades como parte da luta por justiça socioambiental.
O atual modelo econômico neoliberal se reflete na educação ambiental com tendências hegemônicas reducionistas e individualistas. Nesse sentido é importante superar a dimensão meramente prática, e voltar o olhar para reflexões teóricas. Compreender o que é pesquisado nos programas de pós-graduação, a partir das teses e dissertações defendidas, faz parte da busca por evidenciar as condições teóricas de um campo, e nesse sentido são importantes as pesquisas de natureza qualitativa do tipo “estado da arte”, como a apresentada neste artigo. No total foram vinte e nove pesquisas, sendo cinco teses e vinte e quatro dissertações, a partir das quais se analisou, por um lado, a questão da identidade, assim como a ciência versus saberes tradicionais, por outro o desmonte e abandono de entidades públicas, mas também a falta de acesso aos direitos básicos das comunidades, que sofrem um aumento da precarização com o cenário político atual.
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