Este trabalho visa discutir o lugar da psicologia na saúde na sociedade contemporânea. Partindo das proposições de Canguilhem, para quem a saúde é um valor inerente à vida, definido por uma normatividade biológica, problematiza a relevância da clínica e do sujeito na definição do que é saúde e doença. Por fim, considerando a afirmação do autor de que a saúde é um bem coletivo, estabelece um diálogo deste com Foucault, que demonstra que o cuidado com a saúde da população, a partir de determinado momento histórico, passa a ser uma forma de normalização e de exercício do poder disciplinar.
Artigo E devemos pensar que um dia, talvez, numa outra economia dos corpos e dos prazeres, já não se compreenderá muito bem de que maneira os ardis da sexualidade e do poder que sustêm seu dispositivo conseguiram submeter-nos a essa austera monarquia do sexo, a ponto de votar-nos à tarefa infinita de forçar seu segredo e de extorquir a essa sombra as confissões mais verdadeiras (FOUCAULT, 1997, p. 149). IntroduçãoCom a força e a beleza dessas palavras, Foucault encerrou A vontade de saber, onde definiu o dispositivo da sexualidade, deixando entrever que talvez um outro dispositivo já estivesse em vias de se compor. Vários indí-cios nos fazem supor que já estejamos próximos de uma "outra economia dos corpos e dos prazeres" em que a sexualidade estaria deixando de ser o enigma a ser decifrado e em que o sexo, entendido como lado desconhecido de nós mesmos que nos domina e que precisamos conhecer, estaria deixando o lugar que ocupava, para cedê-lo a outros mistérios, até então insondáveis. Tudo nos leva a crer que a tecnologia do sexo, tal como Foucault definiu as práticas que se instauraram em torno da sexualidade no final do século XVIII, esteja sendo substituída por outras tecnologias que possibilitam ver o corpo de outras perspectivas, propiciando novas e inusitadas formas de intervenção. Os avanços da biotecnologia criam novas formas de intervenção na vida e de seu uso para fins comerciais.O mapeamento do genoma humano já vem sendo considerado por alguns autores como um substituto natural do sexo, na medida em que exige o deciframento de um código que, ao ser desvendado, oferece respostas sobre quem somos, acenando, inclusive, com a possibilidade de decidirmos sobre o patrimônio genético de nossos filhos. A iminência desses saberes nos leva a supor que já estamos diante de um novo dispositivo, em que novos planos de visibilidade se descortinam, propiciando, àqueles que detêm o poder de utilizá-los, novos e exclusivos poderes. Mas um dispositivo não se compõe apenas de saberes científicos. Ele se constitui como um conjunto heterogê-neo de discursos, instituições, leis, medidas administrativas, estudos científicos, proposições morais, filosóficas e filantrópicas. O dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre esses elementos e pode ser entendido como um tipo de formação que em um determinado momento histó-rico tem a função principal de responder a uma urgência. Como afirma Deleuze (1989, p. 185):Os objetos visíveis, os enunciados formuláveis, as forças em exercício, os sujeitos em posição são como vetores ou tensores. Assim, as três grandes instâncias que Foucault distinguirá sucessivamente, Saber, Poder e Subjetividade, não têm de maneira alguma contornos fixos, mas são correntes de variáveis em luta umas com as outras. É sempre numa crise que Foucault descobre uma nova dimensão, uma nova linha.Tudo nos leva a crer que estamos diante de uma crise, em que novas linhas se apresentam, forjando a configuração de um novo dispositivo, que está a exigir aquilo que Foucault chamou de "trabalho sobre o terreno", q...
RESUMO.No final do século XX a discussão sobre promoção da saúde foi retomada em uma série de Conferências Internacionais sobre Saúde que ocorreram no Canadá, Estados Unidos e países da Europa Ocidental. Por essas conferências, o conceito de promoção da saúde, até então considerado um dos níveis de prevenção primária, se expandiu, ampliando a concepção do processo saúde-doença e de seus determinantes, propondo a articulação de saberes técnicos e populares e a mobilização de recursos institucionais e comunitários, públicos e privados para seu enfrentamento e resolução. À reformulação do conceito correspondem mudanças epistemológicas, políticas e técnicas em diferentes saberes e profissões. O objetivo deste trabalho é apontar alguns desses impactos para a Psicologia.Palavras-chave: Psicologia; promoção da saúde; Foucault. CHANGES IN THE HEALTH FIELD AND IMPACTS ON PSYCHOLOGYABSTRACT. In the late twentieth century, the discussion about health promotion was resumed in a series of International Health Conferences which took place in Canada, The United States and West Europe. From these conferences, the concept of health promotion, hitherto considered as one of the primary levels of prevention, expanded the conception of health-disease process as well as its determinants. It was also proposed not only the link technical and popular knowledge, but also the mobilization of institution and community resources, both public and private, for its confrontation and resolution. To the reformulation of the concept corresponds epistemological, political and technical changes, in different kinds of knowledge and professions. The goal of this work is to point out some of these impacts on psychology.
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