RESUMO: Nas primeiras décadas do século XX, houve um esforço do governo e de intelectuais brasileiros para estreitar os laços com a América Hispânica, em especial, com a Argentina. Essa aproximação pode ser observada, entre outros documentos, através de relatos de viagens, que constituem fontes significativas para recuperar as visões sobre o "outro". A partir de algumas reflexões sobre as narrativas de viagens como fontes históricas, analisamos três relatos de viajantes brasileiros pela região do Prata: do jornalista Arthur Dias, publicado em 1901; de Mario Brant, em 1917 e, por fim, de Luiz Amaral, em 1927. Consideramos que as narrativas de viagens entre as Américas são fontes ricas -e ainda pouco exploradas pelos historiadorespara a compreensão das representações construídas por latino-americanos sobre outros latino-americanos, levando-se em consideração que as identidades nacionais afirmaram-se, em grande medida, frente aos países vizinhos. PALAVRAS-CHAVE: relatos de viagens, viajantes brasileiros, Argentina.Como sabemos, a identidade nacional afirmou-se, no Brasil, entre outros elementos e mecanismos, em contraste com a América Hispânica. Os relatos de viagens de brasileiros por países hispano-americanos constituem fontes significativas e ainda muito pouco conhecidas e exploradas para compreendermos as visões construídas, no Brasil, sobre os países vizinhos. No início do século XX, houve um esforço do governo e de intelectuais brasileiros para estreitar os laços com a Hispano-América, demonstrado, por exemplo, pelo incremento de publicações -artigos, revistas e livros -, no Brasil, sobre as Américas e suas relações. Houve, também, um crescimento das viagens entre os países do continente, com objetivos diversos: diplomáticos, comerciais, jornalísticos, culturais, científicos ou, ainda, turísticos e aventureiros. Muitas dessas viagens, com diferentes intenções somadas e inter-relacionadas.