Em todas, a sua vida e personalidade são apresentadas por meio de fases e identidades bem distintas-"o abolicionista", "o Católico", "o exilado", "o jornalista", "o diplomata"-, que parecem corresponder a pessoas diferentes, unidas em Nabuco apenas pelo fio biográfico e por uma personalidade elegante, nobre e comunicativa. Ainda em outras biografias, a divisão da vida de Nabuco entre profissões e interesses variados é comum-"o parlamentar", "o escritor", "o pan-americano", "o monarquista", "o geógrafo", "o poeta e moralista", até "o menino de engenho". Parece um panorama de personagens de ficção, dignos dos romances de Machado de Assis, que, segundo um seu narrador, "guinam à direita e à esquerda" contraditoriamente. Além da divisão por interesses profissionais, as várias biografias de Nabuco tradicionalmente são de difícil leitura. Contêm uma ampla e densa transcrição de documentos de época, acompanhadas de uma série de citações encontradas na obra do biografado, fundadas na certeza de uma íntima conexão entre vida e obra. Mas com uma vida tão dispersa e variada, enraizada geograficamente em duas regiões do Brasil, no continente europeu, em Londres, depois na América do Norte, dividida por fases bem marcadas, não seria o caso de perguntar quantas vidas teria vivido Joaquim Nabuco e quantas biografias poderia sustentar? Em Joaquim Nabuco: os salões e as ruas, da série de perfis brasileiros editada pela Companhia das Letras, Angela Alonso, socióloga da USP, prova que a biografia de Nabuco ainda serve para contar uma história fascinante, escrita numa prosa acessível, com um vivo retrato das transformações sociopolíticas havidas entre 1860 e 1910 servin-crítica Uma vida qUe se narra