A noção de uma cidade dividida é o ponto de partida de A cidade é uma só? (2011), filme de Adirley Queirós, que aposta numa estratégia de borramento das fronteiras entre documento e ficção, tensionando-os numa trama de deslocamentos que os entretece, por um lado, com o movimento entre o passado – do contexto histórico da Brasília do início dos anos 70– e o presente da filmagem e, por outro, com o trânsito mesmo dos personagens pelo espaço. O filme desloca o seu centro de interesse para fora do centro, para personagens da periferia que são o contrapeso do povo dividido, da cidade dividida, mas o faz não somente para marcar suas disparidades; o que está em jogo é o movimento que procura romper os limites, que quer dissolver as linhas separadoras, atravessando-as no sentido que as perturba.
Circulando ao redor num universo fílmico centrado, a princípio, no mundo da classe média, o povo aparece, em O som ao redor, de forma aparentemente um tanto esparsa, gravitando no entorno, personagens que o filme nos dá a ver numa dialética pela qual as faz ao mesmo tempo aparecer e desaparecer, tensionando sua visibilidade no sentido pelo qual simultaneamente as inclui e as elide. A fim de problematizar o modo como figuram essas personagens no filme, propomos pensar, a partir da política de seus enquadramentos e mise-en-scène, as condições de in/visibilidade das figuras de povo que a obra coloca em jogo, assinalando aí o sentido de um movimento invasivo que procuramos ler, a partir da figura do intruso de Jean-Luc Nancy, como a ameaça maior de um povo que – para além do problema da segurança pública tematizada no filme – coloca em questão a sociedade de classes
Resumo: Este trabalho tem por objeto uma leitura de O Homem que virou suco (João Batista de Andrade, 1979)O Homem que virou suco (João Batista de Andrade, 1979) narra a história de Deraldo, poeta popular paraibano que procura sobreviver em São Paulo com a venda de seus folhetos de cordel. Confundido, porém, com José Severino, operário que assassinara o patrão, Deraldo é perseguido pela polícia, da qual foge num caminho que o força a percorrer espaços e a se submeter a situações que expõem a discriminação violenta e a exploração brutal, reificadora, da mão-de-obra imigrante numa metrópole tão hostil à presença "nortista". Cruzando, assim, as histórias desses dois homensambos interpretados por José Dumont -por conta da confusão de seus rostos, o filme questiona a imagem historicamente cristalizada que os reduz às linhas estereotipadas de uma vacuidade identitária desenhada nos traços que permitiriam classificá-los como do "tipo nordestino". Uma imagem homogeneizadora que define e lhes dá um rosto comum, cujas formas que o identificam, encarnadas na figura do ator paraibano, expressam-se nesses rostos que se confundem -mais do que por uma eventual semelhança fisionômica -pela sua "feição nordestina".
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