Quando recebi o convite para organizar um dossiê dos Anais do Museu Paulista que tivesse como foco a cultura material da África, deparei-me com o grande desafio de encontrar estudiosos no Brasil que pudessem colaborar com esta edição. Se os nossos laços históricos com o continente africano propiciaram o estudo de temáticas abordadas por diversas áreas do conhecimento -como é o caso daqueles relativos à escravidão e mais recentemente os voltados para a história da África, que têm apresentando notáveis avanços no país -o mesmo não se pode dizer dos estudos que focalizam especificamente a cultura material africana, seja no domínio da arqueologia, da história social ou da história da arte.Trata-se, sem dúvida, de um campo em construção, em que as iniciativas e ações para o seu fortalecimento são ainda bastante tímidas. Não é fácil compreender os motivos para toda essa falta de atenção, ainda mais se lembrarmos que o primeiro artigo que se tem notícia dedicado ao tema no Brasil data de 1904 -"As Bellas Artes nos colonos pretos do Brazil" -escrito pelo médico maranhense Nina Rodrigues, que abordou pioneiramente um conjunto de peças afro-brasileiras e africanas.Se, por outro lado, pensarmos na existência e formação das coleções africanas no Brasil, é possível afirmar que sua presença também não pode explicar esse quadro deficiente. A coleção africana do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, tem, por exemplo, peças que entraram para o acervo desde o início do século XIX e, em meados do século XX, ela estava amplamente formada. Já a coleção africana Anais do Museu Paulista. São Paulo.
RESUMO: Fundada em 1917, a Companhia de Diamantes de Angola (Diamang) ocupava uma vasta região da Lunda Norte e Lunda Sul. Além das ações voltadas para a exploração de diamantes, essa empresa concessionária constituiu em 1936 o Museu do Dundo, um espaço destinado a colecionar objetos relacionados, sobretudo, aos povos que habitavam a sua área de atuação. Os objetivos cada vez mais ambiciosos e o receio da extinção de uma arte reminiscente do "tempo tribal" levaram o Museu do Dundo a organizar não apenas expedições de recolhas de objetos, mas também a contratar e manter "protegidos" em seus domínios escultores de madeira e de marfim a fim de evitar que as transformações ocasionadas pela situação colonial influenciassem os trabalhos desses homens. Este artigo tem como objetivo apresentar algumas reflexões sobre como os anseios fictícios do Museu em relação a esses escultores foram fundamentais para compreender as constantes tensões e dificuldades em enquadrar em seu espaço não apenas esses próprios homens, mas também as suas produções. PALAVRAS-CHAVE: Colonialismo. Companhia de Diamantes de Angola. Museu do Dundo. Cokwe. Escultura.ABSTRACT: The Companhia de Diamantes de Angola (Diamang) was founded in 1917 and occupied a vast region of Lunda's north and south areas. Aside from the activities around diamond mining this concessionary company also created a museum in 1936. The Museu do Dundo (Dundo Museum) was a space dedicated to collect objects related to the inhabitants who lived in the area exploited by the company. The increasingly ambitious objectives of the Museum and the concern regarding the disappearance of a reminiscent art from "tribal times" resulted not only in the organization of collecting expeditions but also in the recruitment and "protection" of wood and ivory sculptors inside the company's domains to avoid that their work were influenced by changes caused by the colonialism. The main objective of this paper is to present some considerations regarding how the museum's fictitious expectations regarding these sculptors were crucial to understand the continuous tensions and difficulties faced to accommodate not only these men but also their work in its space.
Cet article examine comment les critiques, les conservateurs et les artistes élaborèrent un récit biaisé de la vie et de l’œuvre du sculpteur bahianais Agnaldo Manoel dos Santos (1926-1962) réduisant leur interprétation à un lien inconscient et atavique avec le continent africain. À la lumière de ce que j’appellerai ici une « modernité consentie », il est possible de montrer comment cet artiste noir, qui ne reçut pas d’éducation académique, subvertit le monde des arts en occupant une place qui ne lui était pas réservée.
O artigo tem por objetivo apresentar um panorama histórico das exposições de arte africana realizadas no MASP bem como tecer algumas considerações sobre as coleções africanas presentes em seu acervo. Apesar de o Museu de Arte de São Paulo ser reconhecido por sua coleção de arte europeia, essa instituição sediou e também organizou exposições de arte africana, além de ter constituído coleções. As exposições de arte africana realizadas no MASP podem ser entendidas basicamente, mas não exclusivamente, a partir de três perspectivas distintas: aquelas que respondiam a interesses privados, como é o caso da mostra Arte Negra (1953) e também daquela que exibiu a coleção africana do Bank Boston em 1976; as relacionadas à política de aproximação entre Brasil e África durante a ditadura militar no país, como é o caso de Arte Tradicional da Costa do Marfim (1974) e Arte Contemporânea do Senegal (1981); aquelas que exploravam a herança dos africanos no Brasil e estavam apoiadas na tese de fluxo e refluxo do tráfico de escravos, de autoria de Pierre Verger, cuja maior representante é África Negra (1988).
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