Este artigo tem o objetivo de analisar os usos políticos da misoginia, tomando como delimitação temática a disputa pelo sufrágio feminino, ocorrida a partir do final do século XIX. Mais especificamente, serão examinadas três táticas empregadas naquele momento, nos Estados Unidos, na França e no Brasil, para incitar ódio em relação às mulheres que lutavam pelo voto: (i) separação entre mulheres boas e mulheres más e categorização das sufragistas na última classe; (ii) definição deste grupo como uma ameaça; (iii) uso de repressão simbólica à identidade coletiva das sufragistas. A utilização deste conjunto de procedimentos comprova que o discurso que ridicularizava as sufragistas, mais do que sexista e desrespeitoso, pode ser caracterizado como misógino, visto que colaborou para uma aniquilação simbólica daquele grupo de mulheres.
Cirurgias plásticas são uma prática difundida mundialmente e, em especial, entre o público feminino brasileiro, o que levou o Brasil a liderar o ranking global de intervenções. A intensa afinidade entre mídia e conhecimento médico é um dos fatores que colaboram para a banalização destas práticas, obliterando os riscos existentes. Com o objetivo de investigar as consequências da articulação entre imprensa, biopolítica e gênero, o presente artigo analisa a cobertura midiática da morte de uma mulher após um procedimento estético. O caso de Lilian Quezia Calixto, que faleceu após intervenção feita pelo médico Denis Cesar Barros Furtado (conhecido como “Dr. Bumbum”), foi escolhido por ter despertado grande atenção da mídia e levantado a incômoda discussão sobre risco de morte deste tipo de procedimento. O exame destas notícias apontou para um processo de culpabilização das vítimas de intervenções corporais, como forma de diminuir a responsabilidade do campo médico perante tais casos. A discussão dos resultados propõe que este tipo de enunciado está imerso em uma cultura somática que normaliza a ação sobre o corpo, fortalece a ideia de individualização e constrói subjetividades – especialmente femininas – em torno do cumprimento às demandas de uma medicina midiatizada e mercantilizada.
O objetivo deste artigo é discutir o jornalismo como instância promotora da revitimização de mulheres que acusam homens de violência. Com apoio de um quadro teórico de estudos antropológicos, históricos e filosóficos sobre gênero e emoções, argumentamos que tal modus operandi do jornalismo funciona como elo do que chamamos de cadeia comunicativa de misoginia. A reflexão se baseia em um estudo de caso envolvendo matérias do portal G1 sobre a acusação de agressão feita por Poliana Bagatini, em 2017, contra o cantor Victor Chaves (seu marido à época) e a posterior condenação do acusado, em 2020. A metodologia está fundamentada na teoria do enquadramento e na compreensão bakhtiniana do discurso.
O presente artigo analisa os sentidos expressos na produção televisiva You acerca de temas como interações digitais, vigilância e privacidade. A ficção seriada em questão contribui para que se possa ir além da visão simplista de oposição entre mundo real e virtual e, assim, discutir os problemas efetivamente existentes em torno do uso das tecnologias em nossa sociedade: a invasão de privacidade e a vigilância constante a que não apenas a protagonista feminina da série está submetida, mas também, guardadas as devidas proporções, todos os bilhões de usuários dos sites de redes sociais, que se divertem e se expressam por meio dessas ferramentas enquanto seus dados são explorados.
This paper aims to analyze how antifeminist content published on Facebook mobilizes hate and uses it as a powerful political tool. The methodological path was to collect content made available in the pages of the mentioned social media website and to examine them using the Discourse Analysis from the Foucaultian perspective. I consider, therefore, that these enunciations exist in a context and meet the urgent needs of antifeminism. In this work, the need to promote a sense of controlled urgency will be specifically discussed: narratives are created to encourage both explosive and continuous reactions, in order to ensure that aversion felt for these militants retains its intensity and lasts throughout time. This strategy solidifies the union between the antifeminist group under the idea of confronting a terrible villain.
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