Dos diferentes fatores associados a uma mudança de paradigma e, portanto, a uma revolução química, o menos discutido é o que envolve os assim chamados experimentos exemplares, mudanças radicais na metodologia de trabalho e nos procedimentos empíricos da química, mudanças e modificações estas que, no caso de uma ciência natural empírica, podem ter como consequência dados experimentais antes inacessíveis, levando, por fim, a uma nova abordagem de conceitos, hipóteses e teorias e desencadeando uma "revolução" química, um novo paradigma. Muito mais do que uma revolução química, dever-se-ia optar por uma gradativa evolução química. Escolhemos três dessas situações como "exemplares": a modificação no procedimento empírico da química pneumática, com o uso da cuba pneumática contendo mercúrio; a introdução de novos métodos de extração de compostos orgânicos naturais, com a substituição do método pirogênico pelo de extração com solventes; um novo entendimento de "análise química", com a substituição da comparação de amostras tidas como autênticas pela decomposição do analito. Palavras-chave • História da química. Revolução química. Experimentos químicos. História da ciência. Kuhn. Também na ciência nada podemos conhecer. Tudo requer ser feito. Goethe, 1956, p. 1210.
Recebido em 29/10/99; aceito em 30/3/00 GLAUBER, THURNEISSER AND OTHERS. CHEMICAL TECHNOLOGY AND FINE CHEMISTRY. TWO CONCEPTS NOT SO NEW. Chemical Technology and Fine Chemicals, in the sense we understand them, go back not to Leblanc's soda production process, as many historians of Science and chemists suggest, but to the XVIIth Century, with the "technological" activities of Glauber and others; the Paracelsian Thurneisser can be seen as the first to produce "fine chemicals". Keywords: history of chemistry; chemical technology; fine chemistry. ASSUNTOS GERAIS INTRODUÇÃOAceita-se normalmente que a Química é Ciência organizada, e racionalmente organizada, desde o século XVIII, em torno de princípios e teorias unificadoras, inicialmente a Teoria do Flogístico e em seguida a Teoria do Oxigênio de Lavoisier. A Química dita "moderna" teria surgido assim bem depois da moderna Astronomia, ou da moderna Física: a "revolução" química (prefiro a idéia de uma "evolução" química, por razões que não cabe aqui comentar) mostraria uma defasagem de mais de um século em relação às bases da Revolução Científi-ca de F. Bacon, Galileu e Descartes. Mas existe a abordagem algo herética de Allen Debus, que faz retroceder a revolução científica aos tempos de Paracelso e seus seguidores 1 , substituindo o embasamento astronômico/físico por um embasamento químico/médico. Para tanto considera Debus necessário romper com dois tabus consagrados na História da Ciência: o de valorizar excessivamente a matematização da Ciência, e o de desconsiderar via de regra a contribuição da Medicina na construção da Ciência moderna.Diante dos gigantes tradicionais Copérnico, Kepler, Galileu, torna-se necessário rever o papel de homens um tanto marginalizados nesta questão de "modernidade" da Ciência, como o de Vesalius e dos professores da Universidade de Pádua (M. Colombo, Fallopio, Fabritius ab Acquapendente) e o de Paracelso e seus seguidores, notadamente de Libavius (c.1550-1616). Não se trata de uma reviravolta, mas de um resgate. Este resgate contempla a idéia de uma "evolução" da Química ao longo de um período de 250 anos, estendendo-se de cerca de 1500 a 1750, no entender de Jost Weyer, que também considera três vertentes como tendo levado ao que chamamos de "Química moderna" 2 : as técnicas primitivas, a filosofia natural, e os aspectos práticos/materiais da Alquimia. Como sempre acontece quando adotamos uma certa posição em relação a um problema, todas as visões alternativas (ou mesmo as pequenas variantes) passam a ser colocadas de lado. Assim, no contexto do debate entre o mecanicismo e o vitalismo da Ciên-cia do século XVII, o reducionismo a leis físicas e químicas não esclareceu os fenômenos fisiológicos e médicos que estavam sendo investigados, por questões metodológicas e operacionais (o Princípio Antrópico) e mesmo diante de uma iatroquímica francamente mecanicista como a de Franciscus Sylvius (1614-1672) o vitalismo encontra amparo, como no animismo de Georg Ernst Stahl (1660-1734), que a nós quími-cos diz mais do que outros em função da ...
resumoO presente trabalho examina os aspectos históricos da extração do óleo de canela-sassafrás (Ocotea pretiosa Mez), rico em safrol, no Alto e Médio Vale do Itajaí, a partir de 1940, por iniciativa de Otto Grimm, no município de Rio do Sul. Apresenta-se o tema no contexto da memória química em Santa Catarina, e discutem-se os procedimentos utilizados, e principalmente os motivos que levaram tal indústria incipiente a não se converter em uma indústria de química fina. Para tanto, são apresentados alguns dados pertinentes à química do safrol, indicando que tal indústria poderia ter evoluído, bem como os aspectos econômicos e sociais que, ao lado da proibição do corte da canela-sassafrás, levaram em 1990 à extinção definitiva dessa "química fina que poderia ter sido". Tonho insistia. -Onde a gente estava, disse o outro irmão, acabou. Nada mais.Tudo virou óleo. -Os donos do óleo ganham um dinheirão.(Ataíde, 1997, p. 45). IntroduçãoAs potencialidades de produtos de origem vegetal ou mineral como suporte ou maté-ria-prima para uma indústria química (química fina) nem sempre foram ou são devidamente aproveitadas, preferindo-se muitas vezes a exportação de uma matéria-priscientiae zudia, São Paulo, v. 10, n. 4, p. 799-820, 2012 799
Este artigo apresenta a contribuição de Alcindo Flores Cabral (1907-1982)-professor de química da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, hoje incorporada à Universidade Federal de Pelotas-ao ensino de química, uma contribuição quase desconhecida pela própria comunidade química brasileira, embora reconhecida como relevante por diversos químicos estrangeiros importantes, como W. Hückel, G. Charlot, F. Strong, E. Fessenden e outros. A inovadora representação helicoidal de Cabral é apresentada não só em conexão com representações contemporâneas, mas também inclui-se uma incursão pelos primeiros sistemas helicoidais propostos, os de Hinrichs e de Baumhauer. Apresentam-se alguns comentários não somente sobre a Classificação natural dos elementos, publicada em 1946, mas também sobre outros textos escritos para tornar mais eficaz o ensino de química. Palavras-chave • Tabela periódica. Classificação natural dos elementos. História da química no Brasil. Cabral. Introdução A classificação periódica dos elementos, ou, se preferirmos, o sistema periódico dos elementos, é sem dúvida, nas palavras do historiador Eric Scerri, um dos mais poderosos ícones na ciência: um único documento que consolida muito de nosso conhecimento sobre química (...) apesar das dramáticas mudanças que ocorreram na ciência nos últimos cem anos-a saber, o desenvolvimento das teorias da relatividade e da mecânica quântica-não houve revolução na natureza básica da tabela periódica (Scerri, 1998, p. 78).
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