Machiavel aujourd'hui" foi publicado originalmente em 1951, na prestigiosa revista Critique, e retomado pelo autor em 1970, no segundo tomo de Essais et conférences, dedicado aos seus escritos sobre política. Trata-se de um belíssimo exemplo das contribuições de Weil ao periódico fundado por Georges Bataille. Com efeito, a colaboração do filósofo nessa revista chama atenção pelo volume, mais de 150 textos entre 1946 e 1971, mas principalmente pelo estilo de "recensão múltipla", sigla original da Critique, que Weil tornou um novo gênero crítico-literário, na opinião de Giuseppe Bevilacqua e de Livio Sichirollo. No texto que agora apresentamos, o autor repassa obras sobre Maquiavel publicadas ou reeditadas entre 1945 e 1949, para refletir acerca do revigorado interesse pelo secretário florentino depois da Segunda Guerra, analisando, com particular e justificada atenção, os livros de Leonhard von Muralt e Gerhard Ritter. Corrigindo um pelo outro, apontando erros e acertos em ambos, Eric Weil expõe a própria interpretação do pensamento de Maquiavel, afirmando, resumidamente, que este não é maquiavélico de fato. Se hoje, ao menos no meio acadêmico, essa tese se assemelha a uma verdade lapalissada, não o era no início da década de 1950. Trazer o artigo de Weil para o leitor de língua portuguesa é um esforço animado pela certeza de que, apesar das grandes mudanças provocadas pelos trabalhos de Claude Lefort, John Pocock e Quentin Skinner na interpretação da obra maquiaveliana, a reflexão weiliana pode participar positivamente do aprofundamento das já muito ricas pesquisas sobre Maquiavel no Brasil.