Longe de ser uma produção que recupera um passado histórico, a memória consiste em todo um trabalho de produção com intenso investimento social de sentidos sobre as experiências passadas. Como as historiadoras e historiadores podem ler a memória como objeto da História? Por meio do diálogo com dois importantes estudiosos da relação história/memória, Alessandro Portelli e Ulpiano Bezerra de Meneses, o texto constrói uma reflexão de caráter teórico-conceitual sobre o lugar da memória na operação historiográfica. A memória pode ser tratada como objeto da história. Tal estatuto impõe a tarefa de situar temporalmente sua produção e a rede de relações em que ela se dá, além dos atores, fins e recursos materiais e simbólicos envolvidos em sua elaboração e gestão social. Fazer a História enquanto trabalho intelectual metodologicamente embasado requer o exercício heurístico, e eminentemente ético, de não naturalizar a memória, mas compreendê-la enquanto produção fisiológica, cultural e politicamente situada. Desnaturalizar a memória para elaborar a história permite multiplicar as leituras do passado e abrir novos olhares sobre o presente.
O materialismo histórico dialético consiste em uma perspectiva teórico-metodológica de análise histórica, formulado inicialmente por Karl Marx e Friedrich Engels a partir da leitura crítica da filosofia de Georg Wilhelm Friedrich Hegel na segunda metade do século XIX. O texto propõe uma discussão teórico-metodológica sobre este referencial, apontando a historicidade da teoria, as transformações ocasionadas no materialismo histórico pela geração de intelectuais britânicos na década de 1960 por meio da New Left Review e o diálogo interdisciplinar que potencializou a análise das culturas e da formação da classe trabalhadora. As implicações temáticas e teóricas do materialismo na pesquisa empírica são caracterizadas e demonstradas por meio das obras de Edward Thompson e Dorothy Thompson, caracterizando as duas trajetórias intelectuais, as escolhas realizadas e as críticas que articularam acerca do marxismo e materialismo dos anos 1960 e 1970.
Bastou a chegada de um corpo jovem na cela repleta de homens já velhos e gastos pelas dores do mundo para que algo ocorresse naquela madrugada. Assim ocorre na peça-teatral Barrela (1958), do escritor brasileiro Plínio Marcos (1935-1999), cuja narrativa densa e repleta de diálogos intensos e clivados por afetos múltiplos nos permite pensar toda uma concepção de humanidade, subjetividade e institucionalidade no espaço prisional brasileira das décadas de 1960 e 1970. O texto analisa a imagem do corpo jovem violado, descrevendo as intersecções de classe, gênero, geração e sexualidade que cindiram uma subjetividade coletiva alicerçada na dor e na reprodução da violência física e psicológica, mas sem incorrer em processos de individualização da violência, mas justamente buscando pensar as tecnologias de subjetivação que a literatura de Plínio Marcos permite analisar para pensar os afetos, percepções e tensões que sua escrita apresenta. A partir do diálogo com Michel Foucault, Gilles Deleuze e Maurice Blanchot busca-se pensar as relações entre a História e a Literatura, problematizando os modos de dar a ler a realidade através da escrita e da crítica social operada em meio a tempos sombrios. Deste modo, o artigo visa contribuir por meio de um exercício de experimentação para pensar sobre história do Brasil e história do corpo jovem a partir de uma fonte literária que por meio de seus perfectos e afectos como obra de arte sempre pode abrir outros modos de pensar e sentir. Tal processo nos permite pensar a literatura como um gesto de criação ético-político sobre o mundo e a vida.
Do interior da Febem da Vila Maria, em São Paulo, emergiu a autobiografia de Anderson Herzer no início dos anos 1980. Foi um jovem branco, institucionalizado, vítima de abusos sexuais na adolescência e protagonista de uma transição que o tornaria um dissidente sexual, ao ter se desviado da identidade de gênero e do nome colado à sua pele desde o nascimento como Sandra Mara. O artigo analisa as condições de emergência dessa autobiografia, problematizando as práticas e as disputas para que tal “relato de si” fosse possível em termos editoriais no momento em que tanto se discutia a “questão do menor” e as formas de ressocialização de jovens na imprensa, movimentos sociais e instituições do Estado. Pelas lentes do pós-estruturalismo de Michel Foucault e Judith Butler, assim como as da crítica feminista interseccional de Kimberlé Krenshaw e Carla Akotirene, deslindam-se as tramas do poder e os jogos do saber que atuaram nas formas de nomear e constituir a figura de Herzer. Toma-se a autobiografia como monumento atravessado por políticas da autoria e da memória, demandas sociais e políticas editoriais que (in)viabilizaram a constituição do relato em sua forma e conteúdo. Aponta-se, dessa maneira, como os modos de constituição de si podem ser lidos na narrativa autobiográfica como efeito de políticas de subjetivação que fomentam ou criticam hierarquias balizadas pelas diferenças de gênero, raça e geração. Palavras-chave: história do tempo presente; interseccionalidade; Herzer; cisgeneridade.
Considerando que, nos anos 2000, a teledramaturgia brasileira foi marcada por uma orientalização a partir do aumento da produção de obras televisivas que tematizaram o Oriente, este artigo objetiva refletir sobre a representação oriental construída na telenovela Caminho das Índias (2009) da Rede Globo. Constam nas fontes consultadas dois textos disponibilizados nos sites UOL Entretenimento / Televisão e Melhor a Cada Dia. Ambos discutem como a telenovela abordou a relação entre ocidentais e orientais, questionando a produção desta representação dos indianos. O artigo contribui para o fortalecimento de debates no campo da historiografia que tematizem as apropriações culturais e a circulação de discursos a partir de veículos midiáticos como a televisão.
José dos Santos Costa Júnior 1Resumo O texto analisa as condições de emergência de narrativas que articularam a infância e o futuro da nação brasileira nas décadas de 1940 e 1950. Constam do corpus documental o Boletim da comissão estadual da Legião Brasileira de Assistência na Paraíba (LBA), assim como os periódicos A União (jornal oficial do governo do estado) e o jornal católico A Imprensa. Assim, problematiza-se: como e em que condições de possibilidade as políticas para a infância foram articuladas por uma concepção do tempo histórico que agenciou o sentimento de esperança no progresso da nação? O referencial teóricometodológico parte da genealogia de Michel Foucault para analisar o discurso como uma prática que institui os objetos de que fala. Por meio da crítica da linguagem e do processo de constituição de sujeitos em relações de poder, frisa-se as tecnologias biopolíticas de governo da infância, assim como os efeitos gerados sobre os corpos infantis. Destaca o papel da LBA como política social e educativa que esteve articulada a propostas do Departamento Nacional da Criança (DNCr) e do Fundo Internacional de Socorro à Infância (FISI), agência da Organização das Nações Unidas (ONU) que atuou na Paraíba com enfoque na questão do direito à alimentação e saúde infantil.
O texto se constitui a partir da experiência docente no ensino superior, atuando no Departamento de História da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande. Analisa os memoriais escritos por jovens estudantes do curso de graduação em História da referida instituição, contendo os relatos sobre as suas trajetórias escolares, as concepções de história e formação docente. Considerando as narrativas de si como ponto de partida para a crítica da cultura histórica e das compreensões sobre o que é ser professor/a de História, observa-se como tais elementos permitem pensar a formação docente e o ensino. Portanto, tecemos uma leitura que considera o ensino de História como laboratório não somente de conteúdos e temas, mas fundamentalmente de relações que tensionam a cultura histórica, as formas de pensar e fazer o exercício da docência e os saberes que o articulam como prática profissional.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.