É notável o interesse atual dos linguistas brasileiros pela história do pensamento gramatical entre nós. Uma das linhas dessa moderna reflexão se concentra nos indicadores de autonomia do autor brasileiro em face da herança colonial. Já consensual entre os pesquisadores dessa história – que em geral acompanham a proposta de Antenor Nascentes (1935) –, o marco inicial dessa fase de autonomia é a publicação da Gramática Portuguesa, de Júlio Ribeiro, em 1881. Na opinião de vários linguistas contemporâneos, o mencionado movimento de autonomia prometia uma expansão de reflexões que acabou sustada pelo advento da Nomenclatura Gramatical Brasileira, em 1959. De certa forma, foi também no caldo dessa tese que ganhou tempero o referido interesse pelo aprofundamento da formação do pensamento gramatical brasileiro. Comprovada ou não, ela já deu um auspicioso fruto: a motivação para a descoberta, pelas novas gerações de estudiosos da língua, do legado de pensadores do vulto de Manuel Said Ali, antecipador de conceitos reconhecidos como pedras-de-toque de teorias modernas sobre a enunciação e a significação.
Pretendendo figurar como uma homenagem pelos seus mais de cinquenta anos de magistério superior, o diálogo com o gramático e professor recém aposentado do Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, José Carlos Santos de Azeredo, abarca os impactos percebidos, a partir de 1922, sobre a língua enquanto “expressão da identidade literária do Brasil” (AZEREDO, 2023, p. 6). Em acréscimo a comentários sobre o regionalismo brasileiro, discute-se a necessidade de abordar a língua das importantes obras da Literatura Brasileira, sinalizando para futuros pesquisadores um campo profícuo de investigação.Durante nove anos, o entrevistado desenvolveu projeto, como bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), sobre o verbo na obra literária de autoria de Graciliano Ramos, Vidas Secas (1928). Os resultados alcançados não escapam ao debate, ainda que apresentados resumidamente. O autor da Gramática Houaiss da Língua Portuguesa (2018) foi, ainda, questionado sobre sua a motivação para a escolha da variedade padrão escrita do português nos exemplos constantes nessa obra. Por fim, analisa-se o desenvolvimento da competência oral face à instituição de uma cultura grafocêntrica, pelo olhar aguçado do experiente mestre.
Este artigo pretende discutir questões e critérios em torno da formação de corpora gramaticais escolares para o estudo da normatização no ensino de língua portuguesa no Brasil na primeira metade do século XX. Para tanto apresentamos uma sistematização de títulos de obras gramaticais assumidas no programa do Colégio Pedro II de 1856-1929 e de nomes de professores delíngua portuguesa no Colégio Militar do Rio de Janeiro. Trazemos, fi nalmente, considerações metodológicas sobre a pesquisa de campo em arquivos históricos para a identifi cação de obras dessa natureza.
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