Os historiadores que estudam o período arcaico da história grega assinalam com freqüência que os tiranos desta época (meados do século VII ao final do século VI) incentivaram os cultos populares, dentre os quais o dionisismo. O interesse de tal observação é evidente. Tratando-se de uma transformação religiosa estritamente vinculada a uma mudança na formação econômica e social das cidades gregas, poderíamos obter de tal estudo preciosas observações teóricas sobre as relações entre o econômico, o político e o religioso num dado momento, num quadro geográ-fico delimitado. Tanto mais que, em se tratando do fim do arcaismo grego, estamos situados no momento em que o próprio "político" se constitui em esfera sentida como autônoma, em que o mito começa a ser reelaborado segundo novos princípios, que se mostram cada vez mais questionadores dos seus fundamentos.Os estudos sobre o dionisismo, muito numerosos, não se ocuparam suficientemente destes problemas, situando-se o mais das vezes numa perspectiva puramente filosófica, ou, quando muito, procurando explorar o "vivido" do dionisismo, mas sem a preocupação de situá-lo historicamente ou investigar como este "vivido" evoluiu junto com as transformações
Preto "Todo trabalho histórico é um diálogo no e com o presente" (Moses Finley) Se, mesmo na Europa, é ponto comum entre historiadores e helenistas assinalar, lamentando, o lugar cada vez menor ocupado pelos estudos clássicos na pesquisa universitária e nos catálogos das editoras, no Brasil esta tendência foi acelerada pela associação que se estabeleceu entre este tipo de cultura e um conservadorismo desinformado, no interior da Universidade; esta associação transformou o combate intelectual e político, muitas vezes, numa luta contra o "espaço exagerado" que, nos currículos (e, por extensão, nos quadros de professores e pesquisadores) era ocupado pelos estudos clássicos. Devemos, pois, saudar, em princípio, toda iniciativa que, nos programas editoriais, deixe um espaço para a história antiga. Aplausos em
A visão da tragédia grega que é oferecida aos estudantes de História e Letras em algumas de nossas mais respeitadas univer sidades parece-me inteiramente ultrapassada. Situa-se no prolon gamento imediato da visão idealista de um Jaeger, da visão de Nietzsche ou do marxismo "mecânico" de Thomson. Pretendemos aqui apenas apresentar alguns dos pontos de vista mais recentes, sobretudo algumas das contribuições da "Psicologia histórica", além de tentar articular a análise literária com a evolução da filosofia grega. O ponto de partida desta reflexão foi, aliás, uma proposta de trabalho final de um curso sobre a tragédia, nos tempos de graduação, que nos deixava a escolha entre três temas: 1) "A tragédia de Esquilo ou o drama das forças divinas"; 2) "Sofocles ou a luta do homem contra o destino"; 3) "A tragédia dos caracteres humanos em Eurípides". É já, desde muito tempo, um lugar comum, apresentar a tragédia de Esquilo dentro de um quadro geral da tragédia ática que o situa como um primeiro momento da evolução do novo gênero literário. Esquilo seria, assim, o ponto de partida de um maravilhoso florescimento do espírito humano que teria a sua contrapartida no desenvolvimento e afirmação de um não menos original e revolucionário sistema político: a democracia. Costuma-se lembrar também, retrospectivamente, o apoio dado pelos tiranos às festas populares de cunho religioso, dentre as quais as mais impor tantes eram as consagradas ao deus Dioniso. Os tiranos, com sua política, teriam pois preparado o caminho (pelo combate que mo-
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