O objetivo deste texto é apresentar um panorama das manifestações em torno da Revolução Farroupilha, desde o próprio episódio até sua consolidação como mito fundador da identidade regional no Rio Grande do Sul. Debatendo momentos importantes desse processo, como o da refração à memória sobre o evento, o de sua apropriação política pelo projeto republicano, sua reabilitação pela memória histórica e sua ritualização pelo tradicionalismo gaúcho, propõe-se reconstituir analiticamente a fixação do fato como patrimônio simbólico coeso e múltiplo, suficientemente elástico para pautar conflitos internos e tensões entre o estado e o centro do Brasil.
Resumo: Neste artigo, pretendo analisar os nexos entre o projeto editorial da Livraria do Globo, de Porto Alegre, e o regionalismo gaúcho, em três temporalidades: o gauchismo heroico, nos anos 1920; a crítica e o descenso do regional na década de 1930; e a retomada dos temas e assuntos do Sul pela intelectualidade local, sob novos critérios, após o fim do Estado Novo. A edição de livros regionalistas ocupou parcela significativa da vida da casa editora, oscilando de acordo com o interesse do público, a conjuntura política, o desenvolvimento do mercado brasileiro e a relativa autonomização do campo cultural. De um lado, pode-se afirmar que, enquanto movimento literário e, por certo tempo, político, o regionalismo gaúcho dependeu quase que exclusivamente dos investimentos da Globo em edição, o que permitiu os esforços de reconfiguração ideológica e estética da vertente. De outro, sabemos que, em pelo menos dois momentos (segunda metade da década de 1920 e anos 1950), a linha regionalista deu retorno financeiro considerável: primeiro, sustentando, juntamente com a literatura de massa traduzida, a expansão da estrutura editorial da antiga livraria; depois, garantindo numerário seguro em tempos de crise.Palavras-chave: Editora Globo, regionalismo gaúcho, História Cultural.Abstract: In this article I intend to analyze the nexuses between the editorial project of Livraria do Globo, a publishing house of Porto Alegre, and gaúcho regionalism in Rio Grande do Sul in three temporalities: the heroic gauchismo of the 1920s; the critique and downward path of regionalism in the 1930s; and the return to themes and topics involving the South by local intelligentsia, with new criteria, after the end of the Estado Novo (1937)(1938)(1939)(1940)(1941)(1942)(1943)(1944)(1945). The publication of regionalist books took up a significant proportion of the life of Livraria do Globo, fluctuating according to the interest of the public, the political situation, the development of the Brazilian market, and the relatively increased autonomy in the cultural field. On the one hand it can be said that, as a literary and for a while political movement, gaúcho regionalism depended almost exclusively on Globo's investments in publishing, which enabled efforts to reconfigure this line ideologically and esthetically. On the other, we know that at least at two points in time (in the second half of the 1920s and the 1950s) regionalism gave the business considerable financial returns: first, together with the translated literature published for the masses, it supported the expansion of the editorial structure of the old bookstore, and then it ensured a dependable revenue in times of crisis.
RESUMO O objetivo deste artigo é analisar o projeto folclorista de João Simões Lopes Neto (1865-1916), redesenhando suas conexões com movimentos contemporâneos de definição da cultura popular, além de seus contatos com práticas de representação letrada baseadas na cultura campesina dos países vizinhos, Argentina e Uruguai. Metodologicamente, explorarei a materialidade/edição e a economia textual de seu livro Cancioneiro Guasca (1910-1917). É possível concluir que existiu um projeto coletivo de invenção de tradições gaúchas no Rio Grande do Sul da Primeira República, suportado pelas práticas do folclorismo mais amplo, do qual participou o esforço simoniano. Essa variação de identidade gaúcha também observava o projeto castilhista-positivista de modernização conservadora, além de integrar a patrulha nacionalista de suas fronteiras simbólicas.
O romantismo literário vigente no século XIX no Brasil deu os primeiros passos na longa caminhada em direção à nação. Nesse sentido, podemos citar o escritor José de Alencar como um dos precursores da tarefa, seguida por gerações de intelectuais, de conferir à unidade política do país imagens de um passado comum, diverso, mas integrado. O objetivo desse trabalho é testar os apontamentos de Michael Löwy e Robert Sayre sobre o “romantismo político” para o projeto de invenção da nação posto em prática na literatura de José de Alencar, através da leitura do livro O Gaúcho, publicado, originalmente, em 1870. Tais autores definem o termo como uma “crítica da sociedade burguesa que se inspira em uma referência ao passado pré-capitalista”. Trata-se, então, de averiguar e analisar os índices políticos do texto, expressos em sua composição formal, como a crítica ao progresso, a nostalgia do tempo perdido, a construção do “bom selvagem” pampiano e a projeção romântica de futuro baseada no passado mítico.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.