Atualmente, tensão e conflito caracterizam a relação entre caciques xucuru-kariri e kiriri no município de Caldas (Minas Gerais, Brasil). Ambos lideram famílias em recriações de aldeias no sul do estado. O processo de formação territorial dos Xucuru-Kariri e dos Kiriri nessa região explica-se, primeiro, por troca de terras e aliança estabelecidas nas gerações anteriores às dos caciques quando viviam na Bahia e, segundo, por suas cosmopolíticas. Enfim, a hipótese sobre domínios territoriais de indígenas Xucuru-Kariri e Kiriri é sustentada com análise diacrônica de interações entre lideranças no sertão baiano e descrição de seus princípios cosmopolíticos, introduzindo uma perspectiva para além das relações indígenas com o Estado no entendimento de processos de territorialidade.
Resenha de Processos de Alcoolização Indígena no Brasil: perspectivas plurais. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ. 252 p. (Coleção Saúde dos Povos Indígenas)
SILVA, Aramis Luis. Deus e o Bope na terra do sol: culturalismos na história de um processo de mediação. São Paulo: Humanitas, 2009. 270 pp.A contracapa da obra – “ao ler Meruri comoícone (e não como território cultural)” - apro-xima-nos da análise antropológica que Deus e oBope na terra do sol propõe para uma multiplici-dade de estratégias criadoras disso que conven-cionamos denominar de contexto etnográfico.Dizer que Meruri, “realidade” etnográfica ana-lisada pelo autor, é um contexto em disputapor agentes parece inquestionavelmente maisinteressante do que o tomar como localizaçãogeográfica. Meruri fica localizado em MatoGrosso, área conhecida como terras bororo,onde se desenvolvem projetos de valorização dacultura dessa população. Esse deslocamento deMeruri do lugar de limite geográfico para o lu-gar de artefato construído torna-se interessanteem uma linha de argumentação que interpretaaté a si mesma, ao contrário de supor-se expli-cação verdadeira e acabada da realidade, comoconstrução situada objetivamente no mundo,ou ainda, forma textual determinada. Forma -“objetivação que nasce de um percurso em bus-ca do ordenamento do real e da sistematizaçãode sentidos por meio da análise de agentes que,não de outra forma, viajam pela história nestamesma meta” (Silva, 2009, p. 17) – atribuídapelo autor ao grupo temático Índios, missioná-rios e o problema da mediação cultural sob coor-denação da também orientadora da dissertaçãodo mestrado, Profa. Dra. Paula Montero, queoriginou a obra resenhada; aos entrelaçamentoscom os alunos de pós-graduação em missiolo-gia da Faculdade Nossa Senhora de Assunção;a pesquisa nas bibliotecas e arquivos salesianosda cidade de São Paulo e de Campo Grandee feita nos arquivos e bibliotecas públicas deCuiabá e também de Campo Grande.
O título Índios num país sem índios expressa oposições em tensões. A obra sobre índios e descendentes no Uruguai contemporâneo certamente fará intelectuais e operadores do Estado repensarem a questão no país e, em vista disso, suas práticas. Certamente, nunca estiveram tão ausentes quanto um viés ao mesmo tempo epistêmico, hegemônico e valorativo incitou historicamente a pensar. Um viés implicado no "estatismo"-ou seja, práticas e saberes de Estado efetivadas por uma multiplicidade de atores sociais-e que investia na produção de um imaginário-"país sem índios"-orientador da percepção social. O livro aborda a temática indígena num país onde mecanismos histórico-sociais-uma "estética do desaparecimento" de longa duração-acorrentou indígenas e seus descendentes à inexistência, ao passado remoto ou a estereótipos que, por sua vez, aprisionaram as possibilidades dos uruguaios perceberem a potência desses Outros: a de responderem às amarras e a de continuarem existindo na atualidade depois de larga descontinuidade histórica. Durante décadas, acreditou-se que, desde o nascimento do Estado uruguaio e do massacre em Salsipuedes implementado pelo exército republicano, ambos na primeira metade do século XIX, os indígenas estavam extintos. A integração dos sobreviventes do genocídio dos Charrúa-macro etnônimo que ocultou ampla diversidade em razão do pouco conhecimento histórico sobre os antigos habitantes da Banda Oriental (um vazio historiográ co)-enquanto trabalhadores rurais contribuiu para a nalização desta política de extermínio. Foi a identidade étnica tornada sensível à sociedade mais ampla, principalmente a partir da década de 1980 com a constituição de grupos e associações aborígenes e a entrada de famílias Mbyá Guarani no país, que provocou, por tais contingências, alterações nesta duradoura estrutura de entendimento da sociedade como nação homogeneamente não-indígena. Logo, Basini oferece-nos a partir de sua análise focal do problema da "produção de imagens e versões presentes no Uruguai em relação à questão indígena" (: 20) uma etnogra a da reversibilidade de um "país sem índios". Dito isso, suas existências atuais são compreendidas em relação à sua diferença-"falar de índios é sempre falar de não-índios" (: 22)-, às ausências e às presenças-não se trata de "presenças nem ausências absolutas" (idem).
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