Algumas escolas públicas da cidade de São Paulo vêm se deparando com problemas na escolarização de crianças imigrantes, seja pela barreira linguística, seja pela convivência com culturas distintas. Entendemos que esta convivência possa ser entendida como uma zona de fronteira, isto é, a delimitação nem sempre clara de pertencimentos e não pertencimentos. Dentre os problemas descritos, a escolarização de crianças imigrantes na cidade de São Paulo pode ser caracterizada, sobretudo, por um duplo movimento: evidencia-se pela grande quantidade de queixas escolares e encaminhamentos para processos diagnósticos psicopatológicos e surpreende pelo silenciamento na identificação do problema como algo que diz da condição de ser imigrante. Neste trabalho, baseamo-nos na conceitualização das práticas psicanalíticas clínico-políticas, tal como elaborado por Miriam Debieux Rosa (2016), como uma estratégia de investigação da condição migrante colocada pelas crianças estrangeiras-de primeira ou segunda geração-no convívio em escolas regulares. Pretendemos, mesmo que como um exercício, colocar-nos à prova do presente, isto é, ter como princípio realizar um trabalho que se coloque no limite de nós (FOUCAULT, 2000) e que, por isso, situe-se na fronteira entre uma análise histórica das condições de possibilidade do fortalecimento de determinados discursos e suas materializações nas práticas cotidianas. A partir dessas breves considerações, partimos para aquilo que pretendemos desenvolver neste artigo, a saber, uma análise de três fragmentos, recolhidos ao longo dos anos nas escolas que temos sistematicamente acompanhando, com o objetivo de depreender deles as posições que o outro imigrante tem ocupado em algumas unidades escolares da cidade de São Paulo, no intuito de discutir as versões discursivas da alteridade (DUSCHATZKY; SKLIAR, 2011), produções que na maioria das vezes criam fronteiras.
Resumo: O que fazem psicanalistas nas escolas? Esse artigo, debate uma intervenção psicanalítica clínicopolítica na escola, que interpela adolescentes e equipe de ensino a constituir e partilhar seus saberes. Distinguimos três tempos na intervenção em que pudemos constatar o sofrimento dos adolescentes quando as funções da escola estão atravessadas pelo recorte da raça e da classe, atravessamento que se concretiza na correlação entre desenvolvimento, pobreza, raça e perigo social. Quando os saberes puderam circular em diálogo pode-se localizar os conflitos e o mal-estar da escola diante da adolescência e das complexidades da situação histórico-social brasileira, de modo a tornar a construção dos conflitos como motor de trabalho e não como fracasso das equipes.
Os fluxos migratórios se tornaram um campo de tensões sociais e políticas que desconsideram sua condição sine qua non para a construção de uma sociedade. Atualmente o fluxo migratório é fenômeno que desnuda as formas de funcionamento social e político que camuflam e tornam invisibilizada a gestão social na lógica da guerra. Nesta ficam banalizados os discursos de ódio que segregam, fomentam os racismos e outras modalidades de exclusão com foco nos marcadores étnico-raciais, econômicos, culturais, religiosos ou de gênero. As migrações de massa, assim como a recusa em acolher os imigrantes e a determinação de os expulsar, revelam uma guerra sem nome, ou seja: uma modalidade de política baseada na globalização perversa. Ela institui um colonialismo amplo, geral e irrestrito, com a centralização do capital à custa de miséria, domínio e morte de muitos e também das formas de vida que eles representam.
O presente artigo pretende discutir algumas facetas da construção de intervenções psicanalíticas clinicopolíticas com escolas. Parte-se de uma pesquisa-intervenção em algumas escolas municipais da cidade de São Paulo que se viram confrontadas com o silêncio de crianças de origem imigrante como um enigma a ser cuidado pelas instituições. Tem-se como objetivo discutir as tensões entre um sintoma singular e suas inscrições coletivas na produção de intervenções clinicopolíticas com escolas, estas que tem como intuito é contribuir para escolarização das crianças de origem migrante. O artigo se guiará construção do acompanhamento de uma criança que não falava nenhuma língua e colocava entraves em sua escolarização. Sublinha-se a tensão entre um sintoma singular e uma verdade social para escutar esses sintomas que, de outra forma, poderiam continuar silenciados.
No abstract
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