RESUMOAtravés de uma análise comparativa pretendo apontar diferenças e similitudes entre as acomodações possíveis realizadas pela Igreja Católica na sua relação com o Estado na Argentina e no Brasil a partir do final do século XIX. Com essa comparação busco compreender as diferentes narrativas construídas pela institucionalidade católica sobre as suas opções políticas e, sobretudo, seu relacionamento com as ditaduras militares implantadas no final do século XX. Questiono a natureza de tal relacionamento e o grau de legitimidade alcançado por essas narrativas após o final do ciclo ditatorial.Palavras-chave: Igreja Católica, Estados Nacionais, ordem, disciplina social. RESUMENA través de un análisis comparativo pretendo apuntar diferencias y similitudes entre las acomodaciones posibles realizadas por la Iglesia Católica en su relación con el Estado en Argentina y Brasil a partir del final del siglo XIX. Con esa comparación intento comprender las diferencias narrativas construidas por la institucionalidad católica sobre sus opciones políticas y, sobre todo, su relacionamiento con las dictaduras militares implantadas al final del siglo XX. Cuestiono la naturaleza de ese relacionamiento y el grado de legitimidad alcanzado por esas narrativas tras el final del ciclo dictatorial.
"A ação católica é a tática mais moderna da Igreja para partir à conquista da Idade Nova. É a organização das suas milícias, compenetradas todas da responsabilidade de sua grave missão. E é o emprego de métodos delicadíssimos de atuação social, por infiltração direta em toda linha, em vez do ataque em massa e em linha com o Estado e a Política". 2Esse texto insere-se em uma pesquisa desenvolvida ao longo dos últi-mos anos, cujo objetivo central foi o entendimento das estratégias elaboradas pela Igreja Católica, através do catolicismo social, na busca de novos papéis a serem exercidos na sociedade capitalista contemporânea.Esta busca centrou-se inicialmente sobre a política social da Igreja, nos princípios e na dinâmica de sua relação com o Estado e, sobretudo, na construção e no exercício de um determinado discurso sobre o trabalho urbano a partir do final do século XIX, e como tal discurso se expressou no Brasil entre os anos de 1930 a 1964. O enfoque foi direcionado para uma das diversas possibilidades de pesquisa apresentadas por este catolicismo social, os Círculos Operários Católicos, experiência corporificadora da forma católica hierárquica de intervenção junto ao mundo do trabalho no Brasil entre os anos 30 a 64. 3Neste momento pretendemos apresentar, numa perspectiva comparada, de que maneira o corporativismo católico, uma das principais características do catolicismo social, se apresentou no Brasil e quais as suas convergências/divergências com o corporativismo presente em Portugal, na 4 Espanha 5 e Itália entre os anos de 1930 a 1940. Contudo, faz-se necessário precisar que foi com a encíclica Quadragesimo anno, promulgada em 15 de março de 1931 por Pio XI, cujo papado ocorreu durante o período entre as duas grandes guerras, que o corporativismo foi introduzido no debate do catolicismo social.
ApresentaçãoO presente trabalho tem como objetivo analisar, com base no boletim informativo editado quinzenalmente pela Agência Informativa Católica Argentina (AICA), o aparente consenso construído pelo Episcopado argentino em torno do golpe militar ocorrido naquele país em 24 de março de 1976, chamado de El Proceso (Proceso de Reconstrución Nacional). A proposta é compreender a dinâmica das relações entre a Igreja Católica Argentina e os militares que tomaram o poder naquela ocasião na abordagem do noticiário publicado pela agência. Nesse momento nos interessam particularmente os boletins editados no final do ano de 1975 e início de 1976 e como, através dos mesmos, o Episcopado estudava aquela conjuntura política e as suas relações com as Forças Armadas.Partimos da hipótese de que a AICA e seu boletim foram importantes na construção de uma aparente coesão no campo católico a respeito do que o Episcopado apontava como sendo "el camiño de los hombres y la busqueda de las verdaderas armas de la paz en la Argentina". E esse caminho foi o da "lucha antisubversiva" que "es una lucha en defensa de la moral, de la dignidad del hombre; es en definitivo una lucha en defensa de Dios".1 Entendemos que, naquela conjuntura marcada pela instabilidade política, o Episcopado argentino, através das suas homilias e do noticiário oriundo das suas pastorais, pregava a paz e ao mesmo tempo incentivava a presença dos militares como representantes legítimos da nacionalidade, chegando mesmo a admitir claramente que esse seria um desejo divino.Segundo Emilio F. Mignone, o golpe militar ocorrido em 24 de março de 1976 havia sido anunciado com antecipação por alguns bispos. Em 23 de setembro de 1975, em uma homilia pronunciada perante o general Roberto Viola, então chefe do Estado Maior do Exército, o vigário castrense, monsenhor Victorio Bonamin, se perguntava se Cristo não queria que algum dia as Força Armadas fossem além das suas funções.2 No dia 29 de dezembro desse mesmo ano, monsenhor Adolfo Tortolo, presidente da Conferência Episcopal Argentina (CEA), durante um almoço da Câmara Argentina de Anunciantes, profetizou que se avizinhava "un proceso de purificación". 3 Do ponto de vista metodológico faremos uma breve análise dos fatos prévios ao golpe militar para que possamos contextualizar o processo social e político no qual foram produzidas as condições necessárias àquele desfecho. Daremos especial importância ao substrato ideológico comum aos atores em tela ao longo de todo o século XX. Interessa-nos articular duas dimensões do problema. Uma referida ao conjunto de questões presentes no âmbito interno da Igreja desde os anos de 1950 e outra, a uma dimensão histórico-sociológica que tem como alvo a Igreja como fator de poder que, para mantê-lo, desenvolve uma série de estratégias visando ao mesmo tempo consolidar sua unidade interna e ampliar sua influência sobre a sociedade, sobretudo sobre as Forças Armadas.Contudo, para evitar simplificações ou interpretações unilaterais, consideramos a Igreja Católica e as Forças Armadas como at...
Resenha do livro Catolicismo e trabalho: a cultura militante dos trabalhadores de Belo Horizonte (1909-1941), de Deivison Amaral.
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