Os manuais de confissão aplicados aos índios do Novo Mundo entre os séculos XVI e XVII eram estruturados na forma de perguntas sobre os dez mandamentos da Lei de Deus. Devido à grande quantidade de perguntas e a seu detalhamento, o sexto mandamento, relacionado à sexualidade, aparentemente era o mais importante para os jesuítas que o aplicaram entre os penitentes Tupinambá aldeados sob o domínio da coroa portuguesa. Classificados em categorias, os penitentes tinham de responder a perguntas específicas do seu sexo e de sua condição (casado ou solteiro). As perguntas direcionadas às mulheres casadas em dois confessionários Tupí jesuíticos, o de José de Anchieta (Cardoso 1992) e o de Antônio de Araújo (1686) nos permitirão apreender a representação do comportamento feminino construída pelos confessores, projetada nas perguntas relativas às ações, palavras e pensamentos impróprios.
O confessionário tupi de Antônio de Araújo, em suas duas edições (1618/1686), contém nove perguntas sobre pecados contra a castidade dirigidas aos índios “traveços”. Esse termo,no dicionário português-latim de Rafael Bluteau (1712), está definido como “mao, malicioso, amigo de fazer peças”. Como estariam representados os índios travessos no manual de penitência jesuítico em tupi do século XVII? A título de oferecer subsídios a essa questão, proporemos uma tradução desses enunciados parao português e sua comparação com o confessionário pertencente à Doutrina Cristã de José de Anchieta (1992) na mesma língua.
O objetivo é transcrever e traduzir para o português as perguntas de um confessionário tupi (1751) do Pará, referentes ao sexto mandamento. Basearemos a tradução na metodologia lingüística, usando dicionários tupi coloniais. Propomos uma análise de radicais tupi usados pelos missionários para traduzir conceitos da sexualidade cristã. O documento pertence à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
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