o presente ensaio busca, a partir de métodos etnográficos em movimento, descrever histórias de assembleias multiespécies perturbadas por infraestruturas antropocênicas na baía de Florianópolis – SC, Brasil. Para isso, nos inspiramos em discussões da antropologia das paisagens. Contra noções que tratam a paisagem como um espaço-objeto alheio aos habitantes-sujeitos, procuramos evidenciar as continuidades entre habitantes – humanos ou não humanos – e paisagem. Para nos auxiliar na tarefa de produzir uma etnografia menos pautada pelo excepcionalismo humano, buscamos diálogos transdisciplinares entre a Antropologia e campos científicos muitas vezes alheios às etnografias, tais como: a Ecologia, a Biologia, a Literatura e a Hidrografia. A partir das reflexões de Tim Ingold referentes a habilidades, coordenamos tais diálogos transversais com os saberes aprendidos junto a pescadores, peixes, marés, ventos e infraestruturas daninhas, a fim de conhecer os modos a partir dos quais as infraestruturas erguidas na baía afetaram e afetam as coordenações mais que humanas. Por fim, procuramos identificar e descrever os processos de ressurgências criativas fruto das relações multiespécies entre os habitantes da paisagem. A materialização da etnografia se deu a partir de uma diversidade de suportes: dos textos científicos tradicionais às descrições críticas em linguagem poético literária, passando pelos desenhos etnográficos feitos no e a partir do campo e exposições em websites e redes sociais. Ao fim e ao cabo, concluímos que já não nos basta preservar, é preciso recuperar as paisagens perturbadas na baía de Florianópolis. À essa tarefa urgentíssima é preciso mais que dar ouvidos aos seus habitantes tradicionais – humanos e não humanos: é preciso reconhecer sua voz, seus saberes, suas estratégias de ressurgência.
O ensaio que segue busca refletir sobre a paisagem como categoria e interlocutora etnográfica no campo da Antropologia no contexto do Antropoceno. Incialmente buscamos apresentar, a partir de um brevíssimo relato etnográfico, os conceitos e perspectivas analíticas que nos inspiram. Em seguida, tratamos de descrever os eventos histórico-político-culturais que imprimiram e imprimem digitais nítidas na paisagem pesquisada: a saber, a Baía de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Por fim, levamos o ensaio para passear por histórias etnográficas de relações multiespécies coletadas ao longo do campo realizado entre 2017 e 2020, a fim de ilustrar uma urgência: de que já não basta preservar, é preciso recuperar; e que à essa tarefa, é preciso mais que dar ouvidos aos habitantes – humanos e não humanos – dessa paisagem: é preciso reconhecer atentamente seus saberes e suas estratégias de ocupação de ruínas.
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