O artigo analisa o fenômeno do prosumption a partir das ressignificações que o termo sofreu no contexto das reestruturações produtivas da década de 1980 e das novas articulações entre trabalho e consumo daí advindas. Com base em textos acadêmicos e ilustrações empíricas, e fundamentado na literatura marxiana sobre a produção do valor, o objetivo do artigo é compreender como se dá a formatação do consumidor-trabalhador e do trabalhador-consumidor, vendo a maneira contemporânea com a qual o capital tem buscado lidar com dois dos seus principais desafios: a extensão do trabalho abstrato e a superação da lacuna temporal entre produção e realização de valor. Esse processo aponta para formas inéditas e mais sutis de exploração do trabalho abstrato-do trabalhador e do consumidor-e requer um retorno a Marx para se pensar as fronteiras borradas entre produção e realização do valor nessas novas formas de trabalho e consumo.
Purpose-The purpose of the paper is to question the possible reach of anti-brand movements and, by extension, those movements that criticize capitalism via consumption, in order to reflect on the impasse in critique, given the new formats that capitalism has assumed. Design/methodology/approach-This paper takes as the object of its analysis the book No Logo and it is supported by qualitative research into the production of the discourse about the responsible consumer in the business media, as well as in books and articles published about the assimilation of resistance, and especially about anti-consumption and anti-brand movements. Findings-The relationship between the empirical findings of the research 2 the production of the responsible consumption discourse, in the period before, and after the anti-brand movements-and theoretical articles about empowerment and consumer accountability in the modern day shows how the assimilation of resistance occurred, via the responsible consumption discourse and also draws attention to its limits. Although the qualitative research used in the article was not initially planned for use in it, its findings were incorporated because they are widely applicable to what was being proposed. Originality/value-The papers originality lies in the fact that it shows the point that a criticism movement has reached after ten years. Although this was already clear to the author in 1999 when No Logo was written, a decade later it is possible to state that the movement has been assimilated by the market, especially since the appearance of the discourse of "responsible consumption". What is completely novel in this article is this co-relation. At the end, the article also points to the social risks of attributing a large degree of accountability to individuals for consumption.
O objetivo deste artigo é tomar o modelo de auto-gestão de carreira como uma ilustração da teoria do capital humano, segundo a qual o trabalho é entendido em termos de "empreendimento individual". Para elucidar tal paralelo, apresentar-seá um estudo de caso que diz respeito à reformulação ocorrida, em 2004, no curso de especialização para graduados de uma das mais tradicionais escolas de Administração de São Paulo, que passou a inserir a disciplina "orientação de carreira" no currículo obrigatório do curso. Foram ouvidos coordenadores e professores, bem como alunos que já cursaram a disciplina, a fim de se verificar o por quê dessa reformulação e seus impactos nos alunos envolvidos. Buscou-se compreender até que ponto a reformulação visou atender a uma demanda de mercado para o modelo de "auto-gestão de carreira" e o quanto isso pode ilustrar a tese de que o humano se tornou capital.
RESUMOEmbora esteja no centro do projeto moderno, a ideologia de um eu autônomo ganha contornos novos a partir da segunda metade do século XX, quando começa a se delinear a sociedade "sem limites". O campo do consumo foi fértil na propagação dessa ideologia, embora nunca sugerisse abertamente que o consumidor assumisse a responsabilidade pelos seus atos. a esfera do consumo foi constituída longe de um olhar e discurso público centrados em uma política de autocontrole do consumidor. Mas, nos últimos quinze anos, começou a ganhar relevância o discurso do consumo responsável pelo meio ambiente. Objetiva-se refletir sobre esse discurso a fim de se compreender como ele sugere um retorno ao universo da proibição social e da culpa que parecia banida de uma sociedade que havia rompido com quase todos os limites sociais, e de como isso está gerando uma nova mercadoria: a redenção.Palavras-chave: consumo responsável; eu autônomo; escolha; culpa; redenção.ABSTRACT although the ideology of the autonomous self has been in the center of Modern Project, it came with new shapes after the second half of the twenty century, when the society "unlimited" was born. The consumption field was "fertile" in the dissemination of that ideology, although never suggested clearly that the consumer had to assume the responsibility for his acts. the sphere of consumption was constituted far from a public discourse and view centered in a policy of self-control consumer. But, in the past fifteen years, it has appeared the discourse for responsible consumption regarding environmental issues. This article aims to reflect on this discourse, with an attempt to understand how it suggests a return to the universe of social prohibition and guilt that seemed to have been banned from a consumer society that had broken with almost all social limits, and how this is creating to a new commodity: redemption.Keywords: responsible consumption; autonomous self; choice; guilty; redemption. IntroduçãoEm Capitalismo como religião, texto de Walter Benjamin publicado postumamente, o capitalismo é apresentado como uma forma moderna de religião que, ao invés de buscar a redenção ou expiação da culpa, está voltada para a sua produção (Benjamin citado por agamben, 2007). Este ensaio questiona se a sociedade atual não estaria vivendo o retorno da proibição social e da culpa -que parecia banida pelos movimentos contraculturais do final da década de 1960, na maneira como foram absorvidos pela cultura de consumo (arvidsson, 2001; Boltanski & Chiapelo, 2009;Frank, 1997) -e se a redenção não teria se tornado uma nova forma de mercadoria.É o que leva a crer o novo discurso em torno do "consumo responsável", "consciente", "sustentável", "ético", "racional", "ativista", "cidadão", dentre outras denominações que buscam fazer acreditar que o campo do consumo tornou-se, agora, uma arena de expiação dos males que os consumidores têm causado à natureza. Mas tal discurso se apresenta com uma nova roupagem: como espaço de liberdade e escolha, indicando a renovação da ideologia do eu a...
Para uma crítica ao discurso da inovação: saber e controle no caPitalismo do conhecimento introdução Criatividade e inovação são palavras pronunciadas à exaustão no meio organizacional contemporâ-neo, a ponto de um estudioso da área concluir que as organizações ocidentais estão vivendo o fenô-meno da neofilia, o culto ao novo (SieverS, 2007, p. 1 tividade, empreendedorismo são hoje palavras de ordem dentro das grandes corporações e também, em boa medida, fora delas" (López-ruiz, 2007, p. 70).O tema da mudança tem uma longa história na prática e na literatura organizacional, portanto não se trata de um debate novo no campo. Qual seria, então, a especificidade desse contexto ao qual Sievers e López-ruiz se referem como permeado pelo discurso do novo? Termos como criatividade e inovação parecem mobilizar outra ordem de sentido: enquanto o debate em torno da mudança nos remetia a um momento específico de transformação organizacional, a um acontecimento com data marcada, suportado por um projeto cuja implantação focava um resultado final, criatividade e inovação, ao contrário, são categorias que estão no núcleo do processo produtivo e organizacional contemporâneo, remetendo à ideia de mudança como algo constante e permanente.De modo similar, o universo acadêmico também tem sido permeado pelo discurso da inovação permanente. em seu livro Knowing Capitalism, Nigel Thrift (2005), baseando-se em estudos destacados sobre esse assunto, nos mostra como tem havido uma crescente simetria entre o mundo da academia -pensada no sentido grego das diversas instituições voltadas para o ensino artístico, literário, filosófico, científico -e o dos negócios, em especial na maneira como as duas instituições estão compartilhando as mesmas inquietações relacionadas à necessidade de inovar, transformando saberes em conhecimento. essa tem sido, segundo Thrift, uma das características centrais e muito específicas desse novo estágio do capitalismo do conhecimento: os negócios têm se tornado cada vez mais acadêmi-cos, assim como a academia tem PENSATA
Embora o consumo se apresente como fundamental para a compreensão do modo de funcionamento do capitalismo contemporâneo, não é assim que ele tem sido abordado do ponto de vista da teoria social. É certo que já há um campo de estudos sobre o consumo advindo da sociologia, da antropologia e dos estudos culturais, porém, são estudos que focam mais nos modos de vida, na formação cultural, nos significados, normas e valores associados aos usos das mercadorias, do que propriamente no papel central que o consumo tem na realização do valor para o capital. Este artigo pretende contribuir para reverter esse gap ao propor um retorno à abordagem marxista acerca do lugar do consumo no processo de expansão do valor. Assumindo a posição central que o consumo tem para a realização do capital, e partindo da análise dialética do capitalismo como movimento e contradição, o artigo busca elucidar as principais mutações na cultura de consumo que ocorreram a partir do final da década de 1970, culminando com as transformações oriundas da terceira revolução tecnológica - a informática. Propõe que as duas principais formas que assumiu o capitalismo em fins do século XX - o financeiro e o imaterial - operam fundamentalmente a partir do consumo; assim como revelam as mutações e as contradições do capitalismo na contemporaneidade.
The main objective of this article is to show how organisations can be understood as producers of consumers and that the sphere of consumption should, therefore, become an integral part of the field of Organisation Studies. In order to achieve this objective, we have adopted a Marxist dialectical approach to the centrality of consumption in the value realisation process of capital, within a historical reconstitution of the production of the consumer, and we offer two empirical illustrations of contemporary transformations involving the spheres of consumption and work in the context of for-profit and non-profit organisations. We analyse how the restructuring of production that started in the 1980s altered organisational practices and forms: consumer management began to inform production; the boundaries between work and consumption became blurred, and the logic of value started permeating even non-profit organisations. In this new scenario, the sphere of consumption itself is modified and comes to be understood in terms of new categories, such as prosumption. We conclude by discussing how insights from our analysis will contribute to the field of Organisation Studies so as to build a bridge between work and consumption, and to take into consideration the complex web within which work management, consumer management and organisational forms overlap in the value realisation process.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
334 Leonard St
Brooklyn, NY 11211
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.