Objetivo: problematizar a noção biomédica patológica sobre as alucinações auditivas, através de uma contextualização histórica e cultural. Método: revisão integrativa de literatura, com busca nas bases de dados Publicações Médicas (PubMed) e Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Os dados foram divididos em cinco subtópicos, referentes aos períodos históricos, a uma nova abordagem do fenômeno no campo da saúde e da cultura. Resultados: na Antiguidade, as alucinações eram um meio de comunicação com as divindades e na Idade Média foram relacionadas à espiritualidade. Culturas que não sofreram influência da medicina ocidental possuem outros vieses sobre o fenômeno. Conclusões: outras formas de compreender as alucinações devem ser consideradas, a fim de evitar a medicalização e o aumento do sofrimento, e proporcionar a criação de possibilidades de existência e convivência do próprio sujeito com sua experiência.
A topografia das alucinações consiste na exploração de suas características. Este estudo objetivou analisar variáveis topográficas de vozes alucinatórias de frequentadores de um Centro de Atenção Psicossocial. Para isso, dez pessoas foram entrevistadas e tiveram seus relatos analisados pela Análise de Conteúdo. As variáveis encontradas foram: “intensidade”, “frequência”, “quantidade”, “conteúdo”, “identidade”, “gênero”, “forma como se apresentam”, “valência emocional”, e “nível de influência”. As vozes chegam a ser tão intensas que provocam estados dissociativos. As variáveis “frequência” e “quantidade” foram heterogêneas, e podem estar relacionadas à trajetória biográfica. O conteúdo diz respeito a questões estruturantes da vida dos entrevistados e que causam muitos conflitos. Cinco participantes afirmaram que as vozes eram de pessoas conhecidas, e sete conseguiam diferenciar o gênero. As vozes de comando foram as mais frequentes, e levaram alguns deles à tentativas de suicídio. Concluiu-se que a exploração das variáveis topográficas das vozes pode auxiliar a compreensão do fenômeno.
A alucinação auditiva é um fenômeno que participa da vida de muitas pessoas que fazem tratamento no sistema público de saúde mental de nosso país. No cotidiano de um Centro de Atenção Psicossocial de uma capital brasileira, ouvidores de vozes relatavam com frequência que continuavam sofrendo em função de experiências alucinatórias, mesmo seguindo o tratamento prescrito pela equipe de saúde. Considerando esse problema, foi criado no local um grupo voltado para a lida com o fenômeno. Este artigo teve como objetivo analisar experiências desse grupo. Para isso, utilizou-se o método qualitativo, o qual envolveu o registro de 62 sessões sob a forma de diário de campo, e a análise do corpus. A organização dos dados se deu em três espectros temporais estruturantes de (psico)terapias de grupo em geral: “apresentação”, “trocas de experiências”, e “fechamento”; além de um aspecto dinâmico, denominado de “manejo terapêutico”. A apresentação promoveu a ambientação dos participantes e possibilitou o surgimento de temas importantes, os quais foram trabalhados no decorrer da sessão. Ao trocarem experiências, os integrantes conseguiram compreender algumas dinâmicas relativas às vozes, e houve a promoção de determinados fatores terapêuticos. O manejo serviu para alinhavar os espectros temporais e garantir a fluidez da atividade. Recomenda-se a adoção de grupos com esse foco e formato nos serviços de saúde mental, considerando que eles ampliam a capacidade de cuidado.
This article aimed to analyze hearing voices experiences in patients of a Psychosocial Care Center. In this regard, ten people were interviewed. The qualitative method was used, with content analysis. Four categories were chosen: “origin” of voices, phenomenology of voices, coping strategies, and family support. Hallucinatory experiences have emerged in contexts of violence and isolation. Topographic variables of the voices indicate possibilities of understanding the phenomenon. The movement is a basic condition to deal with the experiences. Family support is key to cope with difficulties. It is necessary to qualify the auditory hallucination as a meaningful experience, which must be respected in any intervention that intends care.
No campo da atenção psicossocial a prática desportiva contribui não só para a melhora da condição clínica, como favorece o desenvolvimento de processos envolvidos no movimento de reforma psiquiátrica de nosso país. O presente trabalho refere-se à temática do cuidado em Saúde Mental dentro da perspectiva da desinstitucionalização.O objetivo foi apresentar a oficina de futebol desenvolvida em um Centro de Atenção Psicossocial do Distrito Federal na ótica da clínica da Convivência. Para isso, foi utilizada a metodologia qualitativa, com ideias do método cartográfico, considerando-se o engajamento no território e a disponibilidade à experiência. Os dados foram registrados através de diários de campo, que foram apreciados por meio da Análise de Conteúdo. Com base no referencial teórico da clínica da Convivência e de autores do campo da saúde mental, chegou-se às seguintes categorias: "desinstitucionalizar: palavra de ação para o futebol", "futebol no CAPS: exercício de convivência", e "possibilidades de caminhos: relação e reinserção na comunidade". Os encontros do grupo possibilitaram diversas aprendizagens e contribuíram para o processo de recuperação em saúde mental. Ressalta-se a importância da organização de atividades pautadas pela ótica da Convivência nos serviços de saúde mental, para que a lógica desinstitucionalizadora seja alcançada de forma concreta nas práticas profissionais.
A alucinação auditiva é um fenômeno tematizado pelo homem ocidental desde a Antiguidade. Atualmente, ela é considerada sintoma de doença mental, pelo horizonte biomédico. Essa noção tem contribuído para o aumento não só de diagnósticos, como de medicalização e de sofrimento. Considerando essa questão, o objetivo deste estudo é problematizar o enfoque biomédico tradicional, por meio da contribuição de pensadores e filósofos de diferentes períodos históricos. Na Antiguidade, os gregos ouviam os δαίμονες (daímones), os quais intermediavam a comunicação entre os deuses e os homens. Os medievais entenderam as vozes como possessão demoníaca, bruxaria, heresia, ou santidade. Na Modernidade o fenômeno recebeu um sentido patológico, que restringiu possibilidades de ser. Há que se pensar a questão fundamental da filosofia como condição de possibilidade de abertura de sentido do fenômeno.
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