Resumo: Neste trabalho, proponho uma leitura da obra teatral de Nelson Rodrigues tendo em vista algumas questões que estão em jogo no campo teatral da segunda metade do século XX, o posicionamento do autor diante delas e o projeto teatral que ele explicita em seus textos. Dentro de um campo cultural marcado por intensas lutas sociais e políticas, Nelson Rodrigues produz suas peças tendo em vista uma função purificadora e redentora do teatro. Opondo-se a toda uma corrente de teatro engajado, propõe-se um teatro infestado de personagens intensos (tanto na expressão como na repressão sexual) que teriam a função de purificar o público. Esta aposta em um sentido e valor para o teatro dá-se a partir de algumas alianças, como, por exemplo, com a sociologia de Gilberto Freyre. Leitor e profundo admirador desse sociólogo, Nelson apropria-se, dentro de seu projeto teatral, de diversos elementos da sociologia freyriana como os excessos de violência física, sexual e sensual (marcas da hybris), assim como a análise da entrada de padrões de civilização importados que também se impõem pela marca da violência da repressão. A tensão entre o elemento da desmedida e o da disciplina gera uma série de personagens, situações e tensões que atravessam as obras e que podem ser pensadas como elementos de uma aliança estratégica. Palavras
RESUMOEste artigo analisa algumas tensões observadas entre textos programáticos escritos por encenadores contemporâneos, tendo como ponto de partida a disputa pelo sentido do teatro. Constantin Stanislavski, Bertolt Brecht, Antonin Artaud e Jerzy Grotowski construíram sentidos de teatro de diversos modos e, no mesmo movimento, tornaram suas proposições extemporâneas ou trans-históricas. A partir dos sentidos propostos, os textos conferem lugares e funções específicos a atores, dramaturgia, cenógrafos, dentre tantas outras figuras, o que faz com que programas teatrais possam ser identificados na leitura desses materiais. Finalmente, é analisada a questão da "fronteira do teatro", presente nos textos analisados, e que marca a história do teatro contemporâneo. Palavras-chave: teatro; ator; dramaturgia; Constantin Stanislavski; Bertolt Brecht. ABSTRACT This article analyses tensions between programmatic texts written by contemporary directors, by focusing initially on the dispute over the meaning of theater. Constantin Stanislavski, Bertolt Brecht, Antonin Artaud, and Jerzy Grotowski elaborated meanings of theater in different ways and, in doing so, they made their propositions extemporaneous or transhistorical. From these several proposed meanings, the texts assign specific functions and places to actors, dramaturgy, designers, among others, which enables the reader to identify theatrical programs by analyzing these materials. Lastly, I'll examine the problem of "the boundaries of theater", as it is present in the texts analyzed, and which is central to the history of contemporary theater.
O livro Minha vida na arte, do diretor russo Constantin Stanislavski, é aqui analisado a partir da possível relação entre a “escrita de si” operacionalizada por seu autor e o “trabalho do ator sobre si mesmo” levado adiante pelo próprio Stanislavski em sua prática teatral. O artigo discute os dispositivos formais que tornam possível a construção de um personagem autobiográfico nessa narrativa (a noção idealista de arte, condições históricas específicas e, finalmente, a descrição do personagem), percebendo como, no desenvolvimento do enredo, ocorre uma fusão entre a voz do narrador e a voz do personagem. Tal fusão parece indicar uma das operações primordiais que os atores deveriam realizar para atingir a espontaneidade que o personagem busca ao longo de todo o livro em suas diversas experiências cênicas. Assim, recorrendo a ferramentas da crítica literária, da teoria da História e dos estudos teatrais, avança-se na hipótese de que o trabalho que Stanislavski propõe a seus atores passa, necessariamente, por um tipo de escrita que encontra no romance moderno a sua grande inspiração.Palavras-chave: Constantin Stanislavski; teatro; autobiografia.
<div class="page" title="Page 2"><div class="layoutArea"><div class="column"><p><span>Este artigo propõe um exercício de história intelectual, buscando encontrar no livro </span><span>Panorama do teatro brasileiro</span><span>, de Sábato Magaldi, algumas chaves explicativas para a criação de um “marco fundador” do teatro brasileiro moderno que se difundiu tão amplamente no ambiente intelectual dos estudos teatrais: a estreia de </span><span>Vestido de noiva</span><span>, de Nelson Rodrigues, em 1943. Para tal, serão analisadas as principais referências que orientam a reflexão de Sábato, assim como os dispositivos centrais que ele constrói para a sua escrita da história do teatro brasileiro. No final do texto, é feita uma reflexão a respeito dos desafios que os historiadores do teatro enfrentam diante do surgimento de novas perspectivas teóricas que desestabilizam as noções de “cânone” e as grandes narrativas que abarcam longos períodos históricos. </span></p></div></div></div>
Greenblatt, Stephen. Como Shakespeare se tornou Shakespeare. Tradução de Donaldson M. Garschagen e Renata Guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.Como Shakespeare se tornou Shakespeare, de Stephen Greenblatt, pode ser uma leitura ao mesmo tempo provocadora e sugestiva para historiadores. Proponho, nesta resenha, uma apresentação de três eixos de questões -ou três elementos da análise de Greenblatt -que percorrem todo o livro e que me parecem inquietantes e propositivos para a produção historiográfica contemporânea.O primeiro deles é a forma como Greenblatt aborda a trajetória individual do célebre dramaturgo inglês. No prefácio do livro, o autor apresenta seus objetivos gerais. O principal deles é percorrer os caminhos que levam da vida de Shakespeare à sua obra. Tal objetivo busca superar uma sensação recorrente de leitores e analistas da obra shakespeariana: a de que suas peças e sonetos resistem a explicações, tendo sido escritas por uma espécie de deus a-histórico e absolutamente genial.Para escapar dessa imagem mitológica de Shakespeare e de sua produção, Greenblatt reconstrói múltiplas relações que o dramaturgo teria estabelecido em seu espaço social, sendo ele percebido como um escritor extremamente aberto para o mundo -dimensão esta que está presente no título original em inglês: Will in the world. São levados em conta, neste trabalho de reconstrução de uma trajetória individual, os livros que o dramaturgo teria lido; ordinárias questões de seu dia a dia; o preço do papel em sua época; o ambiente das reformas religiosas, que não poderia ter escapado a Shakespeare; encontros possíveis do autor com rebeldes católicos, como Edmund Campion. Lançando mão desses tão distintos elementos de análise, Greenblatt realiza um dinâmico jogo em que se entrelaçam ações de Estado ou da Igreja e sutis estratégias individuais.Esta reconstrução das múltiplas relações estabelecidas por Shakespeare é realizada, principalmente, para a compreensão de uma dimensão bastante delicada na análise da vida de um artista: o momento de sua criação. Greenblatt analisa as condições em que Shakespeare escreve suas peças percebendo como funcionava o mundo das diversões e do teatro no qual ele se insere. Logo nos primeiros capítulos do livro são discutidas as moralidades (gênero teatral medieval didático que apresentava de maneira alegórica virtudes e vícios) que o dramaturgo teria assistido em sua adolescência e que alicerçam suas primeiras referências teatrais. Também são estudados testamentos de pessoas ligadas a teatro e orçamentos de companhias como forma de se compreender as condições financeiras a partir das quais as peças eram encenadas. No capítulo 6 (A vida nos subúrbios), Greenblatt aprofunda-se na compreensão do ambiente teatral a partir do qual Shakespeare cria suas peças, analisando mais detidamente o mundo das diversões nos subúrbios londrinos. Estes primeiros anos de Shakespeare em Londres são abordados como momentos de profundas transformações no mundo teatral: com o crescimento urbano e com a sedentarização dos teatro...
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