RESUMOPossibilitando o abandono de um quadro epistemológico da historiografia nacional, a teoria das "transferências culturais" abriu espaço para os estudos multilaterais, envolvendo os processos de inter-relações: intercâmbios, exportações, importações, apropriações, recepções de ideias, de modelos, de valores etc. Este vasto campo de pesquisa interdisciplinar revelou seu valor crítico e heurístico em diversas áreas das ciências humanas e sociais, quando confrontadas à problemática da mundialização do conhecimento, da interpenetração de modelos culturais e dos sistemas de referência.Palavras-chave: transferências culturais; mediação; ciências humanas. ABSTRACTBy giving up an epistemological framework of national historiography, the theory of "cultural transfers" paved the way for multilateral studies, involving the processes of inter-relations: interchanges, exports, imports, appropriations, reception of ideas, of models, of values, etc. This broad field of interdisciplinary research revealed its critical and heuristic value in several areas of the human and social sciences facing the issues inherent to the globalization of knowledge, the interpenetration of cultural models and systems of reference.
Pretendendo encarnar a figura universal desse modelo, o intelectual francês se impôs, desde o final do século XIX, como uma refer ência conceitual e moral. Partindo do momento em que o substantivo "intelectual" integra à língua francesa, por ocasião do caso Dreyfus, esse artigo tenta restituir a genealogia desse conceito, mostrando a sua intrínseca relação com a história e a ideologia em vigor. Como se verá, a noção do intelectual, de origem essencialmente francesa, tem um caráter polimorfo. O conceito muda de acepção segundo a evolução mesma da sociedade francesa e da História, assim como diferentes épocas forjam modelos distintos de representação do intelectual. Diretamente relacionada à idéia de uma missão - a defesa da verdade e da justiça -, os intelectuais franceses, até o final dos anos 1970, enfrentam os dilemas inerentes à ambigüidade mesma da sua função: crítica e utópica. As inflexões históricas e epistemológicas dessas últimas três décadas, incidindo sobre as maneiras de agir e de pensar, rompem, definitivamente, com a representação do intelectual enquanto "maître à penser" e "profeta político". Abandonando a política e o espaço público, o intelectual, re-convertido à sua nova função de "especialista", se confina nas institucionais de produção de conhecimento.
Paris: La Découverte, 2003. 339p.Em momentos de crise e de impasse, nos quais a nebulosidade do pensamento e das ações impossibilita uma inteligibilidade política, a "intelligentsia" francesa tende a se auto-atribuir uma missão. Do "caso Dreyfus" à guerra da Bósnia, passando por Maio de 68 e pela guerra da Argélia, a "intelligence" esteve presente em todas as frentes de combate do século XX, em nome do dever de uma "consciência crítica". No entanto, as mutações históricas e intelectuais dessas últimas décadas modificaram radicalmente a tradicional imagem do intelectual: a representação do indignado, militante e crítico, cedeu lugar à figura e à cultura do especialista e do chamado "intelectual midiático".Ao lado de uma história intelectual e dos intelectuais, François Dosse, nesse recente livro, retraça, em filigrana, uma história da história dos intelectuais, mostrando, através de uma vasta literatura, as imbricações que subtendem sua relação com o espaço público, a história e os esquemas de pensamento. Revisitando as diversas publicações francesas e estrangeiras sobre esses dois domínios, o autor apresenta um importante trabalho de síntese. Embora estruturadas separadamente, a história dos intelectuais e a história intelectual, em razão mesmo de suas indeterminações e indistinções epistemológi-cas, se justapõem ao longo desse livro, revelando assim o caráter interativo e transversal desses dois objetos.Paralelamente a uma história dos intelectuais, desenvolvida na França a partir da década de 1980, emerge uma história intelectual tendo por ambição elucidar as obras intelectuais na sua historicidade. Esse "obscuro objeto" que constitui a história intelectual surge, segundo o autor, do intercruzamento de uma história das idéias, de uma história das mentalidades e de uma história cultural. Com efeito, a sua gênese encontra-se na própria tradição epistemológica francesa: a história do pensamento cientifico (Koyré, Bachelard, Fou-
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