Resumo Com as perspectivas socioantropológicas, a mediunidade passou a ser considerada um fenômeno cultural e religioso legítimo. O objetivo deste estudo bioecológico foi compreender como a mediunidade é concebida por médiuns do candomblé que realizaram a feitura (iniciação) de sete anos. Participaram 17 médiuns das nações Ketu e Efon da cidade de Uberaba-MG (Brasil), que responderam a um roteiro de entrevista contendo questões acerca da experiência da mediunidade, da iniciação no candomblé e da história de vida do participante. A mediunidade foi verbalizada de dois modos distintos: como um dom que não pode ser recusado pelo médium; como uma faculdade que pode ser controlada/recusada pelo médium. Entre os aspectos relacionados às sensações corpóreas da possessão, destacaram movimentos opostos que vão desde a paralisia até a agitação do corpo, explicados a partir da energia de cada orixá. Discute-se que esses médiuns encontram-se engajados em compartilhar experiências que evoquem fundamentalmente os aspectos positivos relacionados à mediunidade, incorporando, inclusive, uma gramática científica que visa a explicar o fenômeno. Em um cenário de intolerância e racismo, este parece ser um movimento que valoriza a mediunidade e a coloca em uma posição de destaque dentro das expressões das religiões de matriz africana. Palavras-chave: mediunidade, candomblé, cultura afro-brasileira, desenvolvimento humano, modelo bioecológico. * Este artículo se enmarca dentro del proyecto de investigación titulado "Mediunidade e processos desenvolvimentais: histórias de vida de médiuns e intervenções etnopsicológicas em saúde mental", al alero del Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), cuyo coordinador es Fabio Scorsolini-Comin.
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