O fato de sociolinguistas considerarem o / r / retroflexo ou caipira como estereótipo, uma forma estigmatizada pelos falantes do Português Brasileiro (Tarallo, 1985), e esta variante de rótico estar distribuída, principalmente, pelo interior de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, parte dos estados do Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais, nos leva a indagar se essa variante, em posição de coda silábica, está perdendo espaço para outros registros de rótico no PB. Para responder a questão, propomos um estudo acerca da ocorrência do / r /retroflexo na fala sul mineira, alicerçado em dois corpora: o primeiro constituído dos registros nas cartas do Esboço de um Atlas Linguístico de Minas Gerais -- EALMG -- (Ribeiro et al., 1977), em 51 municípios; e o segundo, com os dados coletados recentemente para o Atlas Linguístico do Brasil (ALiB), em Lavras, no sul de Minas Gerais, localidade em que o / r / retroflexo era bastante produtivo no atlas de 1977. Passados mais de 30 anos entre ambas as recolhas, propomos: (i) verificar, nas respostas dadas aos Q uestionários Fonético-Fonológico (QFF) do ALiB, nessa localidade, a manutenção e / ou mudanças que possam ter ocorrido em relação à frequência de uso do / r / retroflexo; (ii) discutir, à luz dos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista, as possíveis causas da manutenção ou da mudança no registro oral dos falantes atuais no que se refere ao / r / retroflexo, tendo em conta variáveis linguísticas e extralinguísticas.
Estudos recentes revelam que o /r/ retroflexo, típico do dialeto caipira (Amaral, 1982 [1920]), ainda permanece envolto por atitudes estereotipadas e estigmatizadas, apesar de campanhas, de toda natureza, tentarem minimizar qualquer tipo de preconceito. Por outro lado, as pesquisas que buscam delimitar a ocorrência dessa variante demonstram que sua amplitude é vasta no português brasileiro. Diante desse cenário paradoxal e com base nos estudos sobre atitudes linguísticas desenvolvidos pela Sociolinguística (Labov, 2008 [1972]), buscamos com este artigo evidenciar uma possível justificativa para essa aparente discordância entre as normas objetiva e subjetiva que permeiam a vitalidade do /r/ caipira. Para tanto, partimos da análise das respostas de 24 informantes naturais do Triângulo Mineiro, dadas a questões que versam sobre particularidade físicas e morais de um falante detentor do /r/ retroflexo frente a outro falante cujo rótico característico é o glotal. Dentre os resultados, constatamos que embora a variante retroflexa esteja, ainda, cercada pelo estereótipo do caipira, seus falantes apresentam fidelidade linguística devido a fatores morais próprios do caipira genuíno. Ademais, inferimos que a manutenção desse rótico deve-se, sobretudo, à existência de um prestígio encoberto motivado pelas características positivas do caipira somadas à sua nova configuração, isto é, a de pessoas inseridas em um contexto marcado pelo sucesso das duplas sertanejas e de pessoas famosas em geral que trazem como marca o /r/ retroflexo, além, é claro, do desenvolvimento econômico do interior de alguns estados que possibilitam aos ‘caipiras’ de hoje um avanço de nível social.
Este artigo tem como objetivo apresentar alguns pontos de convergência entre as variantes lexicais de dois corpora geolinguísticos: de um lado, o volume V do Atlas Lingüístico Galego -ALGa (García et alii 2005) e, de outro, o Atlas Lingüístico do Paraná -ALPR (Aguilera 1994) e o Atlas Lingüístico do Paraná II -ALPR II (Altino 2005). Para isso, selecionamos, do Campo semântico Corpo Humano, as cartas que se referem à área dos olhos. Para a análise adotamos os métodos geolinguístico e o lexicológico uma vez que buscamos, na distribuição espacial e na dicionarização dos vocábulos, os subsídios para esclarecer a presença de variantes comuns em ambos os corpora. A análise indicou que determinadas variantes, ainda vigentes na fala rural paranaense, estão ligadas a formas galegas e que alguns processos metonímicos e de criação lexical atuam da mesma forma nas duas lín-guas. Ademais, constatamos que as tendências sociais referentes ao item lexical capela foram processados de forma similiar nos três contextos linguísticos, ou seja, galego, português europeu e dialeto paranaense. Esta convergência pode ser ilustrada com: (i) a distribuição diatópica de variantes, como capela, no dialeto paranaense e no português europeu e a sua presença, embora esparsa, na língua galega; (ii) a atribuição de mais de um significado ao mesmo conceito, como pestana que, em ambos os atlas, pode significar tanto pálpebra como cí-lios; (iii) a criação de nomes populares resultantes da extensão de significado ou da atribuição de formas gené-ricas, como em piel, tapa, papo, no ALGa e pele, couro, no ALPR, em substituição a formas eruditas, como pálpebra. Palabras chaveConvergências, léxico, corpo humano, olhos, ALGa, ALPR . Within the Human Body semantic field, items referring to the eye area were examined. Geolinguistic and lexicological methods were used in the analysis, since we were looking for information about spatial distribution and lexical documentation of variants common to both corpora. The analysis indicated that certain variants surviving in rural Paraná speech are linked to Galician forms, and that some metonymic and lexical creation processes act similarly in both languages. We also found analogous sociolinguistic features of the lexical item capela in three different language areas: Galician, European Portuguese and Paraná dialect. This convergence is illustrated by (i) the diatopic distribution of variants such as capela in the dialect of Paraná and its presence, though sparse, in Galician, (ii) the attribution of more than one meaning to the same concept, such as pestana which, according to both atlases, may mean either 'eyelid' or 'eyelash', and (iii) the creation of folk terms through semantic extension or the use of more generic terms such as piel 'skin', tapa 'cover', papo 'maw' (in ALGa) and pele 'skin', couro 'hide' (in ALPR) rather than the learned form pálpebra 'eyelid. '
RESUMO As denominações atribuídas à libélula, – inseto de corpo comprido e fino, com quatro asas transparentes, que voa e bate a traseira na água – Questão 85 do QSL do Atlas Linguístico do Brasil, representam exemplarmente o complexo sistema variacional do léxico do português brasileiro (PB), refletindo fatos da sócio-história de cada região e, até mesmo, de cada localidade e de cada indivíduo. As variantes registradas no ALiB, publicado em 2014, com os dados das capitais, sugerem que a denominação do inseto é, em geral, de base metafórica, motivada pelo seu aspecto físico, som, movimentos e, igualmente, por associações mentais/analogias com outros semelhantes, resultando, na maioria dos casos, em signos transparentes. A fim de ratificar ou, talvez, retificar os resultados das capitais, analisamos, neste trabalho, os dados coletados no interior do país junto a 900 informantes, perfazendo o total de 225 localidades. Com o apoio desse corpus, norteadas pelos princípios teórico-metodológicos da Lexicografia e da Semântica, objetivamos: (i) verificar a dicionarização das formas obtidas; (ii) descrever as variantes quanto aos aspectos morfológicos; e (iii) analisar essas denominações sob a ótica da semântica motivacional.
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