Neste artigo exploro os sentidos da embriaguez (-ka'u) proporcionada pelo consumo de cachaça entre os Mbyá-guarani durante as festas que realizam em suas comunidades no sul do Brasil. O foco da descrição está na alteração proporcionada por esse consumo, nas reflexões dos Mbyá sobre os "bailes" e na visibilidade que toma a relação entre vivos e mortos nesse contexto. A partir disso, associo a embriaguez com as cauinagens descritas por etnó-grafos de outros povos ameríndios e sugiro que a alteração proporcionada pela cachaça aos Mbyá se assemelha àquelas suscitadas pelas cauinagens.As comunidades guarani estão localizadas num continuum que vai da Bolívia ao litoral brasileiro, passando também por Paraguai e Argentina, sendo que sua população é estimada em cerca de 180 mil pessoas (ISA 2012).
1Um terço dos Guarani vive no Brasil e destes, 7 mil são Mbyá-guarani, os quais ocupam boa parte do território acima referido, notadamente na região de Missiones (Argentina), leste paraguaio e no litoral brasileiro desde o Rio Grande do Sul ao Espírito Santo (Ladeira & Costa 1995:211).2 Ao longo dos séculos, os Guarani se depararam com variadas formas de esbulho e apropriação de seu território -missões, guerras e bandeiras -e se esquivaram delas através de diferentes maneiras de enfrentamento, resistência, aliança e fuga. Tratando especificamente dos Mbyá que moram no sul do Brasil, Garlet e Assis (2004) mostram que a invisibilidade foi durante muito tempo a estratégia utilizada para se aproximar e se afastar dos não indígenas, mas que ela começou a se modificar em meados dos anos 1980, quando os Mbyá passaram a buscar novas relações de aliança, principalmente para a demarcação de suas terras.
3A literatura antropológica sobre os Guarani é vasta e, ao longo do século XX, conformou a imagem de um povo fortemente voltado para sua religião, pouco escapando das divindades e do desejo de estar/ser como os deuses. Pissolato (2007:99), por exemplo, constata a construção gradativa de uma percepção dos Guarani como um povo orientado por uma ética religiosa di-
Broken words, furious wasps. How should we translate the sonic materiality of Araweté ritual singing?Palavras quebradas, vespas furiosas. Como traduzir a materialidade sônica dos cantos rituais araweté? Mots brisés, guêpes furieuses. Comment traduire la matérialité sonore des chants rituels araweté ?
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