Ao cair da noite, em algum lugar da Europa no século XV, adultos e crianças se aproximam de uma fogueira acesa em frente a uma casa simples. Vagorosamente, acomodam-se em torno das chamas, formando um círculo imperfeito. Após perceber a quietude da plateia recém-formada, um homem toma a palavra e, com a anuência de todos ali, começa a contar a história de João e Maria. Algumas crianças recostamse no corpo quente de suas mães e fecham os olhos, entregando sua imaginação àquela voz cheia de nuances que colorem e encenam as palavras que saem da boca do narrador, ora de forma lenta e suave, ora forte e cadenciada, conforme relata o infortúnio dos dois personagens perdidos na floresta. Alguns minutos se passam, e já não conseguem manter os olhos fechados, mas miram quase hipnotizados aquele que narra, alternando sua atenção entre os movimentos de sua face e o suave ondular de suas mãos. Perdem-se em sua própria floresta imaginária enquanto se fixam naqueles movimentos e nas reações do corpo do dono da voz, um corpo que se mexe à força de cada palavra, alimentando de imagens, dali e de alhures, os olhos que lhe fitam até que venha o silêncio final.Esta cena fictícia, que poderia acontecer em diferentes cenários culturais, nos faz lembrar que a literatura infantil está, desde seus primórdios, inextricavelmente ligada à combinação da linguagem verbal com a linguagem não verbal. Quando os contos de fadas escritos por Perrault foram incorporados, em meados do século XVII, à prática pedagógica, inaugurando uma literatura voltada para a apreciação do leitor-criança, o som e a imagem já faziam parte da fruição literária dos pequenos. Nas histórias tradicionais narradas oralmente, a palavra proferida é matizada por movimentos do corpo do narrador, assim como pelas expressões de sua face e da modulação de sua voz, fazendo do ato de ver e de ouvir, parte da fruição da literatura.Desde que surgiram os primeiros livros de literatura infantil, editados formalmente no século XVIII, as xilogravuras já acompanhavam os textos e, com o avanço das tecnologias de
Inserindo-se no debate sobre as transformações na experiência literária na cultura digital, o estudo aborda a participação dos recursos sonoros em narrativas digitais e elege a categoria da voz para pensar sobre como este recurso se articula com outros elementos da trilha sonora e com diferentes modos semióticos em livros-aplicativos narrativos em português, espanhol e inglês. O trabalho empreende uma abordagem multidisciplinar sobre a voz e busca pensar sobre a escuta do leitor infantil previsto na obra. Parte da definição de voz como elemento que pode designar o som que se expressa verbalmente e também formulações não verbais, contemplando aspectos semânticos e acústicos, para refletir sobre as potencialidades de sentido advindas daí. Para tanto, apoia-se em discussões da filosofia da expressão vocal, da narratologia e dos estudos sobre literatura infantil digital que ajudam a explicitar as formas de participação da voz nos aplicativos e suas implicações para a leitura.
Os recursos sonoros presentes na literatura infantil digital modificam a experiência leitora por introduzir novas possibilidades interpretativas e interativas. Este trabalho trata das respostas leitoras de seis crianças à trilha sonora de appbooks de literatura infantil, analisadas a partir de uma experiência prática em uma escola pública da Catalunha. A atividade de mediação envolveu a realização de oficinas literárias, com o objetivo de identificar aspectos da relação transacional entre obra e leitor. Essas análises apontaram indícios do papel mediador dos recursos sonoros na construção de uma interação de caráter tanto estético, ou seja, sensível, pessoal e afetivo, como eferente, de caráter mais reflexivo, com a literatura digital.
O objetivo do presente artigo é discutir sobre as potencialidades da voz nas obras de literatura infantil digital quanto ao que ela acrescenta à experiência de audição de histórias por crianças e jovens. O artigo apresenta os resultados de uma análise que investiga o modo como a narração com voz é utilizada, em sete narrativas digitais para crianças, como um recurso semiótico capaz de produzir efeitos de sentido tais como humor, afetividade, imersão, entre outros. O conjunto das obras selecionadas é composto de produções brasileiras e internacionais, e a fundamentação teórica que sustenta as reflexões está baseada nos estudos de Walter Ong, Frédéric Barbier e Roger Chartier sobre oralidade, cultura escrita e cultura digital; nos estudos de Gunther Kress sobre multimodalidade; e nos estudos de Paul Zumthor sobre a percepção sensorial da palavra poética.
A formação do leitor, compreendida como processo de apropriação de conhecimentos por meio de práticas sociais de leitura, requer o desenvolvimento de habilidades para apropriar-se de textos visando à transformação da realidade. Pautado no marco teórico sócio-interacionista da aprendizagem e da linguagem (BAKHTIN, 2012; VIGOTISKY, 1989, 1991), e teóricos críticos da educação e da didática (FREIRE, 2011; CANDAU, 2008), refletiremos sobre: 1) os saberes didático-pedagógicos mediadores entre o sujeito e os textos; e 2) a Didática, processo de reflexão sobre a mediação pedagógica, de natureza multidimensional e caráter político. No atual cenário político do país, é necessário recuperar o caráter emancipatório da leitura por meio da mediação leitora e do ensino e aprendizagem.
O texto traz uma análise sobre os modos como a música está presente na literatura digital desde suas formas de operabilidade até sua função na narrativa. Foram analisados dezenas delivros-aplicativos para crianças, tendo como suporte teórico as contribuições da narratologia e de investigações sobre a multimodalidade na literatura infantil. O estudo identifica formas de uso da música como elemento importante para a construção da narrativa, constituindo-se em um recurso que acrescenta valor à imagem e ao texto, de forma a antecipar informações ao leitor no âmbito paratextual, ajudar a estruturar o relato, bem como para compor personagens e estabelecer relações intertextuais e multimodais.
Neste artigo, apresento uma análise de aplicativos voltados para apoiar o processo de alfabetização, os quais foram citados por 84 respondentes de questionário endereçado a pais, mães e responsáveis por crianças que frequentavam o 1o ano do Ensino Fundamental, em duas escolas particulares de Salvador, no ano de 2019. O texto traz dados quantitativos e qualitativos, com enfoque maior nestes últimos, tendo como objetivo analisar as concepções de alfabetização que subjazem à oferta desses produtos, bem como refletir sobre a relação entre jogos digitais e práticas de linguagem na contemporaneidade. Como resultado, identifiquei uma prevalência de concepções de alfabetização centradas em modelos sintéticos, com ênfase na relação fonema-grafema, e um processo de gamificação que coloca a língua como um objeto de aprendizagem afastado dos seus contextos de uso, predominando o uso de mecânicas de jogo que não articulam de forma significativa as reflexões sobre o sistema alfabético com a jogabilidade.
A literatura infantil digital (LID) é marcada pela interatividade e pela multimidialidade, expandindo as definições de literatura. Possui um sistema próprio de produção, circulação e recepção, que inclui intermediações diversas entre a obra e o leitor infantil. A criança leitora, por sua vez, é um indivíduo em desenvolvimento e com status de vulnerabilidade, características essas que geram a necessidade permanente da definição de critérios de qualidade, na busca por obras que suportem esse desenvolvimento, dentro da proposta estética da experiência literária, e ainda garantam sua segurança em face a conteúdos inadequados. Neste artigo, discutimos a elaboração de uma matriz de critérios de realização da LID, desenvolvida a partir de revisão bibliográfica e de grupos focais com especialistas. Visa dar apoio aos criadores dessas obras, ressaltando três dimensões principais de qualidade na literatura infantil digital: os aspectos estéticos, a qualidade de execução técnica e de segurança no acesso.
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