A secularização das instituições tem sido um tema muito recorrente nas Ciências Sociais das últimas décadas, sobretudo em razão de sua complexidade conceitual, o que propicia olhares diversos para as relações que ao longo da história estabelecem-se entre religião e outras esferas sociais. Uma dessas relações é a que se pode observar entre religião e política. A "Secularização" consiste na autonomização das esferas da sociedade em relação à religião. Aspectos da autonomização da esfera política em relação à religião são colocados sob análise considerando as discussões sobre liberdade religiosa travadas no cenário político do Brasil do século XIX. Nesse contexto, o padroado e as idéias ultramontanas estiveram intimamente relacionadas com rupturas e permanências identificadas no campo das idéias políticas, considerando-se os temas de natureza religiosa. Embora tenha sido marcante a presença do clero na atividade política do período sob análise, com a extinção do padroado e o advento da República os discursos religiosos deixaram aquela esfera, passando a manifestar-se exclusivamente no âmbito eclesiástico, de forma proselitista. A configuração social que se desenha à luz desse tema permite idenficar sinais da efetivação da secularização da esfera política em fins do século XIX. O argumento presente contribui para esclarecer o tema da secularização no Brasil. Ao separarem-se Igreja e Estado, e ao tornar-se cada vez menos expressiva a presença do clero nos processos decisórios oficiais, a esfera política secularizou-se, permitindo localizar a experiência sociocultural brasileira ao lado de outras experiências socioculturais componentes da modernidade ocidental.
ResumoAspectos da secularização da esfera política no Brasil são colocados em perspectiva, salientando-se a relação entre a autonomização dos poderes espiritual e temporal e a extinção do padroado. Sobretudo ao longo da segunda metade do século XIX, circunstâncias e eventos históricos, tais como as querelas relativas à defesa do padroado. bem como as ideias ultramontanas explicitadas no episódio da Questão Religiosa contribuíram para a compreensão de rupturas e permanências nos campos das ideias políticas e das práticas sociais, o que permite o entendimento do processo de autonomização da esfera política no Brasil como individualidade histórica. Traço marcante dessa individualidade histórica é o descompasso entre as representações e práticas sociais presentes nos quadros do catolicismo popular e autonomização das esferas que se configura no plano da política em relação à religião.Palavras-chave: Secularização. Padroado. Ultramontanismo. Questão religiosa.Catolicismo popular. IntroduçãoNas ciências sociais das últimas décadas, a secularização das instituições tem sido um tema bastante recorrente, principalmente, devido à sua complexidade conceitual e às diversas possibilidades de análise que a realidade sócio-histórica permite.
Levando em conta a compreensão do processo de secularização no Brasil, as reflexões dispostas neste artigo levantam questões teóricas e epistemológicas relativas à compreensão sociológica de especificidades históricas. Dois autores ocupam posição privilegiada nas interlocuções travadas: Max Weber e Paul Veyne. O primeiro é acessado com o intuito de ressaltar posturas e posicionamentos característicos do que seja a compreensão histórica do que é singular, isto é, daquilo que é próprio do tempo e do espaço a partir dos quais se busca a compreensão. Devese ao segundo a compreensão da impossibilidade da explicação de uma realidade sociocultural específica a partir dos quadros teóricos gerais característicos das ciências nomotéticas, coisa que a Sociologia em grande medida pretendeu e ainda pretende de maneira menos expressiva. Discute-se, neste trabalho, a necessidade de romper com tentativas de compreender realidades socioculturais a partir de teorias gerais que se impõem como vias necessárias para a explicação sociológica. Tal discussão torna-se significativa, considerando-se temas sobre os quais foram produzidos estudos teórico-conceituais no campo disciplinar das ciências sociais. A secularização é um desses temas. Palavras-chave: Epistemologia das ciências sociais. Individualidades históricas. Secularização.
SOUZA, Jessé (2000). A modernização seletiva: uma reinterpretação do dilema brasileiro. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 276p.Brasil: país moderno. Tal caracterização não é muito recorrente na tradição do pensamento social brasileiro. Com raras exceções, o Brasil foi e tem sido compreendido, naquela tradição, sempre como se localizando num lugar à parte do quadro que aninha os componentes do Ocidente moderno. Ao mesmo tempo sendo moderno e não o sendo, como se, timidamente, a depender do que se está considerando, emergisse e submergisse dentro daquele quadro, no qual somente alguns componentes, imaculadamente modernos, têm lugar cativo na superfície. É neste contexto de reflexão sociológica que A Modernização Seletiva de Jessé Souza contribui com vistas a clarificar conceitos e reconduzir olhares.À recorrente localização do Brasil às margens daquele quadro a que nos referimos acima o autor chama sociologia da inautenticidade, em cujo bojo estariam as contribuições de alguns dos principais expoentes do pensamento social brasileiro clássico: Sérgio Buarque de Hollanda, Raimundo Faoro e Roberto DaMatta. Esta sociologia da _____________________ Gilson Ciarallo, doutorando em sociologia pela UnB.
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