Neste trabalho buscou-se apresentar perspectivas indígenas às noções de monogamia e não monogamia, tendo o conceito de colonialidade como principal chave de análise. Como inspiração cosmogônica, foi utilizado o conceito de “artesania narrativa guarani”, através do qual foram avaliados os efeitos e reverberações da cristianização na construção da monogamia em Abya Ayla. O trançado teórico-temporal do artigo foi realizado em três fios: no primeiro, foram investigadas as relações entre monogamia e cristianização; no segundo, os efeitos contemporâneos dos discursos presentes nas cartas jesuíticas e no terceiro apresentaram-se as perspectivas filosóficas guarani sobre não monogamia. O referencial teórico foi construído de modo interdisciplinar, contando com as contribuições de historiografias, estudos descoloniais, anticoloniais e relatos orais. Salientou-se que a monogamia insere-se em uma conjuntura dos sistemas coloniais de monocultura (monoteísmo, monogamia, monossexismo) os quais têm em comum os princípios da exclusividade, não concomitância e não convivência. Por outro lado, a não monogamia indígena teria como princípio a floresta como signo de diversidade e concomitância. Como resultado, pontuou-se a importância das vozes indígenas na articulação de perspectivas não monogâmicas e de lutas anticoloniais, rumo a um reflorestamento emocional das relações não só inter humanos, mas com o planeta.
Palavras-chave: não monogamia indígena; artesania afetiva; colonialidade.
Resumo Nomear os processos de subalternização tem sido uma ferramenta feminista imprescindível para a ação política. Reconheço a importância desse exercício, mas problematizo os efeitos que podem emergir de uma militância que se limita a essa nomeação. Discuto, especificamente, a centralidade no sofrimento, que por vezes faz crer que (só) se é aquilo que se sofre. Problematizar as condições de possibilidade e efeitos desta centralidade, além de apostar em horizontes para além do sofrimento é o exercício a que esse texto se propõe. Como inspirações teóricas, trago contribuições contracoloniais e/ou não cishetero-branco centradas.
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