O objetivo deste trabalho foi investigar as semelhanças entre as práticas do poeta Carlito Azevedo e as do cineasta Jean-Luc Godard, tentando assim inferir uma leitura que aproxime a montagem de um livro a de um filme. Tomando como referência os estudos da intertextualidade e da citacionalidade empreendidos por teóricos como Antoine Compagnon, traçamos três breves perfis de leitura, implicados nas operações citacionais dos dois autores: um que representa um tipo específico de leitor; um para a figura do montador de cinema; e um para a função do escritor. Por fim, relacionamos o último livro de poemas publicado por Azevedo com um dos filmes de Godard, identificando procedimentos semelhantes de superposição, citação e montagem.
Este trabalho procurou estabelecer uma leitura comparativa entre o livro Short movies, do escritor português Gonçalo M. Tavares, e o filme Wrong move, do cineasta alemão Wim Wenders. Partimos da proposição de comparatismo expandido da teórica argentina Florencia Garramuño, entre outros, procurando iluminar nas duas obras os aspectos de funcionamento de sua narratividade e discutindo durante nosso percurso as ideias de autonomia, hibridismo, procedimento, campo artístico, entre outras.
Três poemas de Frederico Klumb: "A palavra amor nunca foi vista num poema", "Enquanto leio a menina crescendo pelas bordas" e "Ontem vi um velho descalço".
Esta edição está dedicada às "poéticas do coração". No poema "Texto de Apresentação", de Mulher ao Mar e Grinalda (2018), há os seguintes versos: "O meu bilhete, espeto-o / com delicado verbo ao coração. Rebenta, murcho músculo entupido --/ mil vezes fosse a vida a exceção". Pouco depois, em "Declaração de Intenções" -poema que também abre Mulher ao Mar: Brasil (2021) -lê-se o seguinte: "Fazer poesia é árido cilício, / mesmo que ateie o sangue, apenas pus / se extrai, nem nunca pela escrita / um sólido balança, ou se levita." Parece haver aqui uma tensão, um embate entre forças que, por um lado, podem atear o sangue, fazer pulsar o coração, e, por outro, acabam por espetá-lo, rebentá-lo, até que o poema se torne uma espécie de pus, de resíduo. O poema é uma coisa modesta?Não seria adjetivo que eu empregasse. Deve haver uma relação entre hubris e lírica. Não chega à poesia lírica ser uma linguagem de escape para o coração, aproveita esse impulso para fazer beleza do descompasso. O poema é um desacato, um desafio, ou o deslumbramento de uma pequena revelação viva -ou predestinada, para quem sinta a vocação religiosa. Porém, esses meus dois textos -o "de apresentação" e o "de intenções" -apontam para a mesma ideia: era melhor que fosse a vida esse estado excecional. No segundo poema, o "Declaração de Intenções", porém, a pretensão é imensa: a ideia de que se o poema não consegue levantar a vida, não consegue com a sua prestidigitação ser ato performativo de alteração de estado, então que seja depósito, lixeira do que não queremos para a vida, e aí talvez possa a vida ser mais que poema -o poema a sombra, a vida o brilho. Há um embate de forças, sim, entre vida e promessa de poema, e há uma terceira força que é a rotina, a par do for(ce)jamento da vida e do poema. E ainda uma quarta: as peneiras com que fazemos poesia para decorar o coração.De maneira semelhante, o poema "Vala", que está tanto em Mulher ao Mar: Brasil quanto em Atirar para o Torto, ambos de 2021, diz: "não sou assim tão lírica / mas misturame láudano / no fel, sobra-me inferno para a neurastenia". O lirismo apareceria assim como uma tentação: uma recusa, mas também um devir, algo que se dá no encontro do láudano com o fel, no corpo entorpecido (conforme, aliás, a lição de Baudelaire). O lirismo não como expressão de uma subjetividade emotiva, mas como desestabilização
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