Resumo Este texto problematiza a incorporação das ciências policiais no Brasil. Defenderemos que estas surgem como estratégia para a monopolização policial – especialmente policial militar – do pensamento sobre lei e ordem, e como concorrência ao desenvolvimento de um campo organizacional sobre crime, polícia e justiça no Brasil a partir das ciências humanas e sociais nos últimos quarenta anos. Esse projeto reforça, junto aos policiais militares em formação, a disposição ideológica de enfrentamento do conhecimento crítico que retroalimenta, nas polícias militares, a grande autonomia operacional, o forte insulamento institucional e a baixa transparência em relação a protocolos e mecanismos internos de supervisão. Contra tentativas de radicalização ideológica, será preciso reforçar que, em uma comunidade científica, resultados de pesquisas podem ser problematizados em suas limitações com contra-argumentos baseados em evidências. É necessário que o campo da segurança pública continue sendo construído de forma democrática e aberta, em diálogo com diferentes grupos da sociedade civil. A sociedade e seus cidadãos não são objetos passivos das polícias. Eles são a origem da legitimidade dos modelos de policiamento, que não se resumem apenas a aspectos técnicos e operacionais. Eles são fruto de opções políticas e estão sujeitos ao escrutínio público.
Apresentamos a obra do sociólogo francês Laurent Mucchielli1, L'invention de la violence: des peurs, des chiffres, des faits (2011), que analisa o debate público e acadêmico sobre insegurança e violência na França. O livro se divide entre a reconstituição histórica das representações sobre o aumento da violência e a crítica do uso político de estatísticas sobre criminalidade, com foco principal no questionamento da interseção entre o "problema da delinquência juvenil" e o "problema da imigração". São analisadas as mudanças nas normas de comportamento, os processos de segregação urbana e a construção de novos mecanismos de atuação estatal na área da segurança pública. Em lugar de um pacote de soluções, o autor convida à indagação crítica sobre as transformações das últimas décadas e, com clareza de estilo, realiza uma síntese dos conhecimentos científicos na área.
O presente artigo aborda o surgimento e a evolução intelectual da Nova Direita europeia a partir dos anos 1960. Analisa-se a produção vinculada ao seu principal expoente, o filósofo francês Alain de Benoist, líder do Grece -Groupe de Recherches et d'Études pour la Civilisation Européene (Grupo de Pesquisa e Estudos sobre a Civilização Europeia) -, cujo projeto é criar uma teoria crítica radical de direita, alternativa ao liberalismo, ao comunismo e às formas pretéritas de fascismo racistas e nacionalistas. De maneira similar à Nova Esquerda, em sua crítica à União Soviética em nome do marxismo, a Nova Direita critica o antigo racismo nazista em nome de um arranjo político e societário baseado não no nacionalismo ou no racismo, mas no "direito à diferença" e em um federalismo étnico-cultural e ecológico. Através de um "gramscismo de direita", ela busca conquistar a hegemonia cultural nas sociedades europeias, propondo uma modernidade alternativa, crítica ao liberalismo, ao socialismo, ao capitalismo e ao colonialismo. Os seus proponentes pretendem, nesse sentido, estar "além da esquerda e da direita". Porém, não escapam à acusação de serem uma ressurgência do fascismo sob nova roupagem: desde suas origens a Nova Direita vincula-se a uma geração herdeira dos ideais da "revolução conservadora" do período entreguerras, muitos dos quais associados ao nazismo, mas sobretudo ao pensamento político Tradicionalista ou espiritualista pagão, crítico do individualismo cristão e do Iluminismo e defensor de sociedades baseadas no valor da hierarquia sacralizada.
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